quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Fé e Política na Teologia da Libertação - Vídeo


Professor Carlo Tursi fala na Conferência "Fé e Política na Teologia da Libertação", no Centro de Humanidades da UECE, dia 24 de setembro de 2012.
O evento foi promovido pelo Departamente de Ciências Sociais.
Veja um pequeno trecho da exposição do teólogo alemão que abraçou o Ceará.
 
Jean dos Anjos

domingo, 23 de setembro de 2012

Convite - Conferência com Debate - "Fé e Política na Teologia da Libertação"

foto by Jean dos Anjos
Carlo Tursi
Convite
Segunda-feira, dia 24 de setembro, às 18:30hs, no auditório do Centro de Humanidades da UECE (Av. Luciano Carneiro, 345 Bairro de Fátima).
Palestra:
"Fé e Política na Teologia da Libertação"

Palestrante: Carlo TursiDebatedor: Josenir Parente
Debate com a plateia.
Promoção: Depart. de Ciências Sociais da UECE
Aberto ao público e gratuito.
Estudantes da UECE têm direito a um certificado.

Mapa - https://maps.google.com.br/maps/ms?gl=br&ptab=2&ie=UTF8&oe=UTF8&msa=0&msid=109062142246391940123.00047886678522d29f5f6

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

“Minhas experiências sobre a Teologia da Libertação”. Artigo de Gerhard Müller

“A primeira coisa que Gustavo [Gutiérrez] nos ensinou foi compreender que aqui se trata de teologia e não de política”, escreve o teólogo e agora prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé Gerhard Müller. O artigo foi escrito originalmente no final de 2009 e republicado pelo sítio espanhol Religión Digital, 08-09-2012. A tradução é do Cepat.

Eis o artigo.

Teologia da Libertação está, para mim, vinculada ao rosto de Gustavo Gutiérrez. Em 1988 participei, junto com outros teólogos da Alemanha e da Áustria e a convite do atual diretor da MisereorJosé Sayer, de um curso sobre este tema que aconteceu no já então famoso Instituto Bartolomé de las Casas. Naquele tempo, eu já estava há dois anos lecionando Dogmática na Universidade Ludwig-Maximilian de Munique.

Como professor de Teologia me eram naturalmente familiares os textos e conhecidos os representantes deste movimento teológico, surgido na América Latina, mas sobre o qual se discutia em todo o mundo, sobretudo por conta das observações, em parte críticas, da Comissão Internacional de Teólogos da Congregação para a Doutrina da Fé e as declarações de 1984 e 1986 da mesma Congregação, presidida pelo cardeal Joseph Ratzinger, nosso atualPapa Bento.

Com o seminário dirigido pelo Gustavo Gutiérrez se produziu em mim um giro da reflexão acadêmica sobre uma nova concepção teológica para a experiência com os homens para o que havia sido desenvolvida essa teologia. Para o meu próprio desenvolvimento teológico foi decisiva esta inversão no enfoque de prioridade da teoria à prática para um proceder em três passos: “ver, julgar e agir”.

Os participantes desse seminário chegávamos abarrotados de inumeráveis conhecimentos sobre a origem e o desenvolvimento da Teologia da Libertação e por isso discutimos sobretudo sobre a análise da situação à qual se lhe reprovava uma ingênua proximidade com o marxismo. Eram-nos familiares (1) as declarações das Conferências Episcopais Latino-Americanas de Medellín e de Puebla. Daí o debate de se nessas declarações se pretendia fazer do cristianismo uma espécie de programa político de libertação, no qual, em determinadas circunstâncias, se tolerava inclusive a violência revolucionária contra pessoas e coisas. Alguns suspeitavam que a Teologia da Libertação servia para legitimar a violência terrorista a serviço da legítima revolução, enquanto outros a usavam como argumento para esse fim.

A primeira coisa que Gustavo nos ensinou foi compreender que aqui se trata de teologia e não de política. Na linha das grandes encíclicas sociais dos papas também marcou de forma clara a diferença entre Teologia da Libertação e ética social católica. Enquanto a ética social se fundamenta no direito natural e pretende assegurar as bases de um estado social e justo apoiando-se nos princípios da personalidade, subsidiariedade e solidariedade, no caso da Teologia da Libertação trata-se de um programa prático e teórico que pretende compreender o mundo, a história e a sociedade e transformá-los à luz da própria revelação sobrenatural de Deus como salvador e libertador do homem.

Como se pode falar de Deus diante do sofrimento humano, dos pobres que não têm sustento para seus filhos, nem direito à assistência médica, nem acesso à educação, excluídos da vida social e cultural, marginalizados e considerados uma carga e uma ameaça para o estilo de vida de uns poucos ricos?

Esses pobres não são uma massa anônima. Cada um deles tem um rosto. Como posso, como cristão, sacerdote ou leigo, quer seja na evangelização ou no trabalho científico-teológico, falar de Deus e de seu Filho que se fez homem e morreu por nós na cruz e dar testemunho d’Ele, se não quero construir outro sistema teológico junto ao já existente, mas dizer ao pobre concreto, face a face: Deus te ama e a tua dignidade imperdível tem seu fundamento em Deus? Como se torna concreta a consideração bíblica na vida individual e coletiva se os direitos humanos têm sua origem na criação do homem à imagem e semelhança de Deus?

Minha permanência no Peru em 1988 está ligada não apenas ao seminário de Gustavo Gutiérrez, no qual vi claramente qual é o ponto de partida teológico da Teologia da Libertação, mas também ao encontro vivo com os pobres dos quais havíamos falado. Durante algum tempo vivemos com os moradores de bairros pobres de Lima e depois também com os camponeses da paróquia de Diego Irarrazaval no lago Titicada. A partir de então estive outras 15 vezes no Peru e em outros países da América Latina, às vezes meses inteiros durante as férias de semestre na Alemanha.

Minha participação em cursos teológicos, especialmente nos seminários de Cuzco, Lima e Callao, entre outros, esteve sempre acompanhada de longas semanas de trabalho pastoral nas regiões andinas, especialmente em Lares, na arquidiocese de Cuzco. Ali os rostos adquiriram um nome e converteram-se em amigos pessoais, experiência esta de Comunhão universal no amor a Deus e ao próximo, o que deve ser a essência da Igreja católica. Finalmente, foi para mim uma profunda alegria quando, em 2003, em Lares, na arquidiocese de Cuzco, sendo já bispo, pude administrar o sacramento da Confirmação a jovens cujos pais conhecia já desde há tempo e que eu mesmo havia batizado.

Essa é a razão pela qual eu não falo da Teologia da Libertação de forma abstrata e teórica nem menos ideológica para bajular o grupo eclesial progressista. De igual modo também não temo que isso possa ser interpretado como falta de ortodoxia. A teologia de Gustavo Gutiérrez, independente do ângulo a partir do qual se olha, é ortodoxa porque é ortoprática e nos ensina o adequado agir cristão porque procede da verdadeira fé.

Uma rápida leitura do livro Beber em seu próprio poço (2) coloca de manifesto que a Teologia da Libertação se fundamenta em uma profunda espiritualidade. Seu substrato é o seguimento de Cristo, o encontro com Deus na oração, a participação na vida dos pobres e dos oprimidos, a disposição para escutar seu grito pela liberdade e pelo esplendor dos filhos de Deus; é participar da sua luta para acabar com a exploração e a opressão, de sua ânsia pelo respeito aos direitos humanos e de sua exigência de participação justa na vida cultural e política na democracia. Trata-se da experiência de que não se é estranho no próprio país, mas que a Igreja e o Estado querem ser abrigos e fiadores da liberdade espiritual e cívica. A meta é o início e o acompanhamento de um processo dinâmico que quer libertar o homem de sua dependência cultural e política.

Do mesmo modo que Gustavo com sua pessoa, seu testemunho espiritual, seu compromisso com os pobres e suas magníficas reflexões deu, na nossa época, um rosto à Teologia da Libertação, assim também nos mostrou de maneira impressionante a pessoa de Bartolomé de las Casas que, no século XVI e ao contrário de seu contemporâneo Colombo, não descobriu um país e tomou posse dele para a Coroa espanhola, mas que descobriu a injusta opressão e a humilhação da população indígena e se propôs a levar aos homens o reino de Deus, no qual já não haverá senhores nem escravos, mas apenas irmãos e irmãs com os mesmos direitos.

Las Casas chegou supostamente às Índias ocidentais, o continente descoberto por Colombo que hoje chamamos de América, de aventureiro e cavaleiro da fortuna. Da perspectiva do descobridor da América tratava-se de territórios que podiam ser tomados como posse para a Coroa da Espanha e cujas riquezas e habitantes estavam privados de todo direito e, portanto, expostos à agressão da vontade ilimitada de enriquecimento. Em um princípio também Las Casasesteve imerso nesse sistema de privação de liberdade e de exploração. Mas, finalmente, reconheceu no rosto dos maltratados o rosto de Jesus Cristo e assim se converteu em intercessor eloquente e defensor dos povos oprimidos em sua pátria, a América. Com isso retornava ao sentido original da missão cristã: Jesus enviou os seus discípulos para pregar a todos os homens o Evangelho da salvação e da libertação. Neste sentido, missão como encontro de pessoa a pessoa em nome de Jesus é estritamente o contrário de uma forma apenas aparentemente religiosa de colonialismo e imperialismo. Não se pode conquistar territórios para Cristo e subjugar os seus habitantes ao domínio de um estado que se diga cristão. A pregação dos enviados em nome de Cristo supõe antes poder adotar livremente a fé. Deste modo, cria-se uma rede universal de discípulos de Cristo que, segundo sua vontade, constituem uma comunidade de irmãs e irmãos e, portanto, a Igreja visível de Deus no mundo. A este processo impulsionado pelo espírito de Pentecostes os homens acrescentam suas raízes e sua identidade cultural e se deixam transformar pelo espírito de Deus para uma identidade comum mais elevada. Deste modo, cresce o conhecimento de que somos filhos de Deus, chamados a uma vida exemplar, destinados à perfeição no futuro divino. E assim a Igreja pode ser em Cristo o sacramento da salvação do mundo e o sinal e instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo o gênero humano (ver Lumen Gentium 1).

Las Casas nomeia em sua brevíssima relação da destruição das Índias ocidentais a verdadeira causa da tremenda injustiça que os conquistadores espanhóis cometeram contra as pessoas que encontraram em sua viagem de descobrimento.

Sobre aqueles que eram cristãos de nome, mas não por sua conduta, Las Casas disse: “A única e verdadeira causa do assassinato e da destruição dessa espantosa quantidade de pessoas inocentes nas mãos de cristãos era exclusivamente apoderar-se de seu ouro”. (3) Gustavo Gutiérrez formulou este caminho libertador de Las Casas com o seguinte juízo: “Deus ou o ouro”. (4)

Este é o caminho rumo à libertação segundo nos ensina Jesus no Evangelho: “Não se pode servir a dois senhores, a Deus e ao dinheiro”, e em outro lugar especifica: “A raiz de todos os males é o amor ao dinheiro” (ver Timóteo 6, 10).

Aquele em quem colocamos a nossa confiança, esse realmente é o nosso Deus. Os cristãos do século XXI, mas também os humanistas, se orgulham de ter deixado para trás o colonialismo e o imperialismo eurocentristas. Contudo, na justa indignação diante das atrocidades perpetradas na conquista da América, África e Índia e a humilhação da China, corremos muitas vezes o perigo de acreditar, sentindo-nos moralmente seguros, de que no século XVI nós teríamos estado do lado de Las Casas e contra os exploradores. Evidentemente, as circunstâncias históricas de então não são sem mais comparáveis com as do mundo globalizado atual. Não obstante, a alternativa fundamental entre a opção pelo dinheiro e o poder, de um lado, e Deus e o amor, do outro, se apresenta hoje também a cada pessoa em particular e tanto a todas as comunidades e sociedades como a Estados e Alianças. Também hoje, continentes inteiros, como a África e a América do Sul, são marginalizados. Uma pequena parte da população mundial reparte entre si os recursos contribuindo deste modo para a morte prematura de milhões de crianças e para que a maior parte da população do mundo viva em circunstâncias desastrosas.

Depois da queda do império soviético muitos esperavam também o fim da Teologia da Libertação, que situavam próxima dos movimentos de libertação marxistas. Mas na verdade a Teologia da Libertação bem entendida desde a sua concepção original, é a melhor resposta à crítica marxista da religião, tanto na teoria como na prática. Uma ampla visão de Deus como criador, libertador e consumador do homem nos permite perceber a armadilha dualística em que se pretendia fazer cair o cristianismo. Não há alternativa entre o bem-estar neste mundo e a salvação no outro, entre a graça divina e a atuação humana, entre o compromisso eclesial e a crítica e configuração do mundo. A orientação para Deus e a configuração do mundo, o amor a Deus e o amor ao próximo são os dois lados da mesma moeda. Os cristãos não se deixam ultrapassar por ninguém quando se trata dos direitos e da dignidade humanos, ou de criticar tanto o pecado estrutural de um sistema político injusto como a falta de responsabilidade do indivíduo concreto. Durante a apresentação das obras completas do Papa sobre a Teologia da Liturgia, publicadas por mim na Editorial Herder, um dos conferencistas citou a bela sentença: “Quando os monges descuidaram dos seus louvores a Deus aguou-se também a sopa dos pobres”.

Louvar a Deus incita a tomar responsabilidade pelo mundo. E o compromisso com a justiça social, a paz e a liberdade, a proteção da natureza como base da vida corporal e social fundamenta-se na atuação divina criadora e libertadora.

Depois da queda do comunismo estabelecido alguns chegaram a pensar que agora se poderia obter o paraíso na terra através de um capitalismo desenfreado. As forças autorreguladoras do mercado em escala mundial trariam por si mesmas o bem-estar para todos ou ao menos para a maioria. A realidade é muito diferente. Não foram as aparentemente todo-poderosas forças do mercado, mas a mera cobiça de homens concretos, que provocaram a atual crise financeira mundial, cujas consequências são pagas uma vez mais pelos pobres e pelos mais pobres dos pobres, com sua vida, sua saúde, com sua morte prematura e todas as perspectivas perdidas, previstas por Deus para eles.

Os representantes do liberalismo defenderam no passado sua imagem de homem argumentando que não se pode governar o mundo com as bem-aventuranças, sem considerar que Jesus não pretende governar o mundo, mas que o homem se governe a si mesmo, se liberte de sua cobiça e possa converter-se em ser humano para os demais. Argumentavam que a Igreja não entendia nada de economia e capitalismo e que se queria ser altruísta o fizesse ocupando-se das vítimas do capitalismo. Igreja relegada aos hospitais, às residências de moribundos, mas não ética para Wall Street. Expressão de um capitalismo neoliberal sem escrúpulos são, por exemplo, os “fundos buitre” (vulture funds). Especuladores sem escrúpulos se especializaram em negócios com as dívidas de países inteiros. Quando um país incorre em dificuldades de pagamento esses “buitres” [abutres] compram as dívidas com altas reduções sobre a soma original e reclamam depois com juros e juros acumulados uma soma marcadamente superior.

De forma bem simples leva-se um país à miséria definitiva. No final de 1990, o Peru foi vítima de uma “estratégia de investimentos” em que com um investimento de 11 milhões de dólares obteve-se um lucro de 58 milhões. As consequências para as pessoas – as crianças, os anciãos, os doentes –, para toda a estrutura social de um país são aceitas como consequências lógicas. O lucro puro é a única meta.

Aqui se manifesta de maneira espantosa a tragédia de um mundo, de um mercado econômico sem normas morais vinculantes. A cobiça pelo ouro e pelo dinheiro segue sendo hoje causa da destruição de valores morais, cuja força para o bem do homem emana da única fonte que conduz o home ao seu ser humano e a converter-se no próximo de seus semelhantes.

Incompatíveis com a nossa espiritualidade e a nossa fé cristã são o racismo e o paternalismo, uma sociedade que se desagrega em classes mais altas e baixas, que funciona segundo o princípio da lei do mais forte e com isso se desintegra.

Após tantas décadas de terrorismo e contraterrorismo à custa de muitos milhares de inocentes, especialmente da população indígena pobre, criou-se (5) a Comissão da Verdade e da Reconciliação presidida pelo professorSalomón Lerner. Todos vocês conhecem os resultados das investigações. A dimensão da barbárie posta de manifesto é estarrecedora.

Só será possível um novo começo radical, com um desenvolvimento que leve a uma sociedade mais justa e à garantia dos direitos humanos por parte do Estado. Mas também é necessária uma espiritualidade dos direitos humanos. A maior aspiração de cada pessoa, no mais profundo de sua consciência, deverá ser o tomar consciência da responsabilidade do homem diante de Deus e do espírito de fraternidade. Só assim se poderá limitar a cobiça pelo dinheiro e pelo poder como fonte de todo o mal. E se a desculpa e a reconciliação não devem ser concebidas como obra própria, mas como dom divino e ordem de vida, pode crescer em nossos corações essa gratidão que apresenta a existência como ser humano para outros como a medida suprema do humano, das possibilidades de desenvolvimento de cada pessoa no esplendor do amor de Deus. Deus caritas est, essa é a meta e o instrumento da libertação e a perfeição do homem ao Deus Trino.

No Peru encontrei dois cristãos nos quais se simboliza a saudade do povo pela experiência da dignidade imperdível do homem: Santa Rosa de Lima e São Martinho de Porres converteram-se em amigos queridos nos quais brilham em sua forma última os objetivos da libertação e da redenção.

Permitam-me concluir estas reflexões com uma prece a Santa Rosa e a São Martinho para que protejam a Igreja e os peruanos intercedendo ao Pai celestial e Criador para que Ele nos revele o seu Filho como o mediador da esperança para a transformação do mundo para a meta mostrada pelo espírito de Pentecostes: “Em todos eles havia temor, por causa dos numerosos prodígios e sinais que os apóstolos realizavam. Todos os que abraçaram a fé eram unidos e colocavam em comum todas as coisas; vendiam suas propriedades e seus bens e repartiam o dinheiro entre todos, conforme a necessidade de cada um. Diariamente, todos juntos frequentavam o Templo e nas casas partiam o pão, tomando alimento com alegria e simplicidade de coração. Louvavam a Deus e eram estimados por todo o povo. E a cada dia o Senhor acrescentava à comunidade outras pessoas que iam aceitando a salvação” (At 2, 43-47).

Notas:
1. CELAM. Conclusões da Conferência de Medellín – 1968; Conclusões da Conferência de Puebla. Evangelização no presente e no futuro da América Latina.

2. GUTIÉRREZ, Gustavo. Beber em seu próprio poço. Itinerário espiritual de um povo. São Paulo: Loyola, 2000.

3. Em português, encontra-se no livro LAS CASAS, Frei Bartolomeu de. Liberdade e Justiça para os Povos da América — Oito Tratados Impressos em Sevilha em 1552. São Paulo: Paulus, 2010.

4. GUTIÉRREZ, Gustavo. Deus ou o ouro nas Índias. Século XVI. São Paulo: Paulinas, 1993.

5. Ver LERNER FEBRES, Salomón; SAYER, Josef (Ed.). Contra el olvido Yuyanapaq. Informe de la Comisión para la Verdad y la Reconciliación Perú, 2008.

domingo, 9 de setembro de 2012

“Faleceu dom José Rodrigues de Souza, o bispo dos excluídos”

Dom José Rodrigues de Souza, bispo emérito de Juazeiro, Bahia, faleceu esta madrugada, em Goiânia, Goiás, depois de mais de um mês na UTI, em coma induzido, vítima de pneumonia contraída durante tratamento cirúrgico para retirada de água do crânio (hidrocefalia).
Ainda em tempos de ditadura, dom José marcou a vida do povo sanfranciscano pela atitude firme e destemida, em defesa dos direitos da população pobre das caatingas, beira do rio e periferias urbanas. As pobres “vítimas do desenvolvimento” (barragem de sobradinho, projetos de irrigação etc) eram os seus preferidos, como Jesus.
Foi chamado “pequeno grande homem” – e o era! -, mas era mais mesmo o “bispo dos excluídos”!
Vejam sua mensagem por ocasião dos 50 anos da diocese de Juazeiro, cuja celebração concluiu-se ontem na sede da diocese, com uma procissão de cerca de 60 mil pessoas, que em vários momentos rezaram por ele: 
Marcou também nossa vida, como pastor e pai! Deixa muita saudade e esperança na libertação do povo, no Reino acontecido e a acontecer! Descanse em paz!

( Por Ruben Siqueira)

sábado, 8 de setembro de 2012

Grito dos Excluídos - 2012


Pelo segundo ano, o Movimento por uma Formação Cristã Libertadora participa do Grito dos Excluídos. Estamos juntos e de mãos dadas como todos os movimentos que fomentam a emancipação humana e lutam pela dignidade de todos e todas.
 
E vamos em frente, na luta!
 
MovimentAção no Grito dos Excluídos - 2012
 
"Queremos um Estado a serviço da Nação,
que garanta direitos a toda população!"


quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Entrevista – Mercedes Budallés: Apesar do olhar conservador eclesial, ninguém acabará com o amor à Igreja libertadora



Rogéria Araújo
Jornalista da Adital
Adital
"O que o Espírito diz às Igrejas?”. É com essa provocação que acontece nos próximos dias 30, 31 de agosto e 1º de setembro, o Simpósio Teológico sobre os 50 anos do Concílio Vaticano II e os 40 anos da Teologia da Libertação. O evento acontece na cidade de Fortaleza, capital do Ceará e traz uma discussão importante sobre dois marcos para as igrejas brasileiras e latino-americanas.
A Adital conversou com a teóloga Mercedes Budallés, que estará participando do evento com a palestra "Como ser igreja-fermento de emancipação humana dentro de uma igreja-massa de eventos midiáticos”.
"E ainda que seja muito conservador o olhar e agir eclesial atualmente, em certos setores da Igreja, ninguém poderá acabar com a teimosia dos pequenos, com o seu amor a essa Igreja libertadora que lhes dá reconhecimento e dignidade”, afirmou em entrevista.

Adital – São 50 anos do Concílio Vaticano II e 40 anos da Teologia da Libertação. Como a senhora vê a trajetória das Igrejas nos dias atuais tendo como referência esses dois marcos?
Mercedes Budallés – Fazer memória, re(cor)dar ou passar pelo coração, faz bem. Mais ainda, aos que somos de antes, de durante e de depois do Concílio. Por isso, especialmente este ano, agradecemos a Deus, o Pentecostes que o Vaticano II foi para a Igreja. O Concílio foi uma nova vinda do Espírito sobre a Igreja, umkairós, um tempo de salvação. Para minha geração foi uma época de grandes mudanças visíveis na Igreja. Os jovens entusiasmados, acolhíamos as mudanças, sem saber muito bem o que acontecia. De fato, estávamos presenciando a passagem de uma Igreja da cristandade, triunfalista, centrada na hierarquia, com todo o poder na sua mão e por isso, Igreja dominadora... à uma Igreja, mistério (LG 1), povo de Deus (LG II), servidora especialmente dos mais pobres, semelhante à Igreja das primeiras comunidades cristãs e aberta aos novos sinais dos tempos. (GS 4; 11; 44).
O Concílio abriu as janelas da Igreja "para que possamos olhar para fora, e para que as pessoas possam olhar para dentro" como afirmava Joao XXIII. Sim, aconteceu um novo Pentecostes!
Entretanto, agora, eu mesma com a experiência dos anos e como teóloga, reconheço que já não sou tão otimista com o convite de olhar ou tentar olhar para dentro da Igreja. Não avançamos muito em questões que o mundo moderno nos questiona. O Concílio trouxe grandes mudanças, porém, não tratou dos temas já candentes naquela época, como o celibato sacerdotal e a falta de ministros ordenados. Ignorou o papel da mulher na sociedade e na Igreja e a participação de leigos e leigas nas responsabilidades ministeriais. O poder e função da cúria romana ficaram intocáveis, o que deu lugar a retrocessos. Assim, por exemplo, o Sínodo dos Bispos de 1985, convocado por João Paulo II, defendeu a identidade do Vaticano II, porém substituiu vários conceitos importantes afirmados nos documentos conciliares tais como Igreja ‘povo de Deus’ da Lumen Gentium por uma Igreja apresentada como ‘corpo de Cristo’; a mudança da palavra ‘pluralismo’por ‘pluriformidade’. E ainda, certos sintomas como a repetida importância dada à ‘santidade’ na Igreja como se a Gaudium et Spes fosse humana demais.
Adital - Os Documentos do Concílio sinalizaram uma Igreja mais próxima dos pobres, dos excluídos, e foi visto com muito entusiasmo pelos setores, digamos, mais progressistas da Igreja. Este sentimento ainda permanece?
Mercedes Budallés - Já na abertura do Concílio Vaticano II, o dia 11 de Setembro de 1962, o Papa João XXIII afirmou publicamente que "a Igreja sente o dever de assumir sua responsabilidade diante das exigências e necessidades atuais dos povos...” E que "...diante dos países subdesenvolvidos, a Igreja se apresenta tal como é, e quer ser, a igreja de todos, mas, particularmente, a igreja dos pobres."
O fato de que os grandes documentos do Concílio Vaticano II afirmaram que a Igreja é povo de Deus, na Constituição Dogmática Lumen Gentium e comprometida com a vida, na Constituição Pastoral Gaudium et spes,declaravam que o pobres, maioria do povo de Deus e sua vida sofrida, eram as opções fundamentais do novo momento da Igreja, ao igual que foram as opções de Jesus.
Afortunadamente para nós, na América Latina isso foi bem entendido e assumido. Em grande parte, graças a bispos como Dom Manuel Larrain, do Chile, e nosso querido dom Helder Camara, daqui do Brasil, que organizaram uma contínua formação dos bispos latinos com os melhores teólogos da época, o Vaticano II trouxe uma mudança grande.
Durante o Concílio Vaticano II houve um famoso grupo de bispos, provenientes de todos os continentes, que se encontrava, a cada sexta-feira, para refletir sobre a missão da Igreja junto aos pobres e a necessidade de a Igreja ser sinal do Cristo pobre. Ao final do Concílio, no dia 16 de novembro de 1965, quarenta bispos de várias partes do mundo reuniram-se numa catacumba em Roma e assinaram o Pacto das Catacumbas. Cada um assumia o compromisso de viver pobre, rejeitar as insígnias, símbolos e privilégios do poder e a colocar os prediletos de Deus no centro de seu ministério episcopal, explicitando assim a evangélica opção pelos pobres.
Na América latina, o Celam, com aprovação de Paulo VI, bem perto do fim do Concílio, em 1968, convocou a assembleia de Medellin que tirou do Concílio conclusões práticas como a opção preferencial pelos pobres e a legitimação das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) como uma realidade onde os leigos e leigas, a maioria pobre, eram reconhecidas, sujeitos da sua fé. A grande mudança já estava acontecendo e ainda foi reafirmada na Conferência de Puebla e mais recentemente na V Conferência em Aparecida.
Este sentimento ainda permanece, porque na verdade foi a opção de Jesus: "Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisa aos sábios e doutores e as revelaste aos pequeninos” (Mt 11,25).
Adital – Sua palestra no Simpósio Teológico abordará assuntos pertinentes. Afinal, como se (re) configura o jeito de ser e viver Igreja mais comprometida socialmente com as comunidades e seus problemas diante de um outro contexto que cada vez se firma mais, esse da "Igreja-massa”?
Mercedes Budallés - Pediram-me falar sobre as perspectivas que têm, hoje, as "minorias abrâmicas” no interior da Igreja Católica para exercerem sua função de "fermento na massa”.
Dom Helder Camara chamava de "minorias abraâmicas" aquelas minorias frágeis e impotentes, mesmo aparentemente estéreis. Pessoas que esperam, com uma visão cheia de otimismo e com firme compromisso, a construção de uma sociedade justa e fraterna, já que essa é sua profunda aspiração.
Entramos na questão fermento-massa. Eu sempre disse ter aprendido uma nova teologia na minha vida com os mais pobres. Por isso, sinto a obrigação de trazer memórias: Preparando o 9º Intereclesial de Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) que aconteceu em São Luiz (MA), em 1997, com o tema: "CEBs, Vida e Esperança nas Massas”, fui convidada assessorar uma Assembleia de CEBs na Arquidiocese de Goiânia. De entrada perguntei aos participantes: Que é massa para vocês? Um pedreiro explicou com detalhe o que é uma boa massa para a construção, mistura de cimento, areia, água... Uma boleira falou da massa para fazer um bom bolo. Teve quem falou de organizar uma ‘pamonhada’, de como ralar o milho, como temperar a massa etc. Dona Francisca América, mulher corajosa e firme na caminhada das CEBs em Goiânia, até hoje, gritou: A massa é algo que não está pronto!
De fato, a massa é, e sempre será, algo que não está pronto. Por isso, eu estou mais preocupada com o fermento, com a pequena semente... Os frágeis, os pequenos, as minorias abraâmicas, aquelas da margem, são, segundo Evangelho, as primeiras no Reino!
Devemos nos inquietar com a massa, sim. Porém, se "pelos frutos os conhecereis” (Mt 7,16 ) prestemos atenção ao que a experiência nos diz: a maior parte das grandes concentrações e manifestações de fé de massa acontece graças aos meios de comunicação social que são os que sustentam o sistema vigente, um sistema econômico neoliberal focando o sucesso.
Os programas religiosos propagam direta ou indiretamente a teologia da prosperidade e geram igrejas massificadas, individualistas, cheias de emoções passageiras e sem nenhum compromisso com a transformação da sociedade. Em minha opinião, fomentar um cristianismo esclarecido e atuante diante dos grandes problemas que assolam a nossa sociedade, só pode se fazer desde baixo, desde as minorias, com os empobrecidos. A massa é algo que não está pronta. Cuidemos do fermento, dos pequenos. Como Jesus fez!
Adital - Que contribuições específicas podem dar os grupos de reflexão bíblica e de teologia feminista, no nosso contexto?
Mercedes Budallés - A Constituição DEI VERBUM foi o documento que respondeu a um dos objetivos do Concílio Vaticano II que era difundir a Palavra de Deus, em cumprimento ao desejo de Jesus que disse "...anunciai a Boa Notícia a toda criatura” (Mc 16,15).
Penso que a partir daqui deu-se uma verdadeira revolução na leitura e interpretação bíblica. O importante é a vida do povo de Deus! Não temos que procurar na Bíblia verdades científicas ou históricas, mas a verdade sobre Deus e sobre o sentido da vida e do mundo (DV 11). De acordo com a DEI VERBUM, a Palavra de Deus suscita a fé e convoca a comunidade. Foi a fé do povo de Deus que acolheu e guardou esta Palavra para indicar o caminho da nossa salvação. E foi Jesus quem enviou o Espírito para nos introduzir na plenitude desta verdade (DV 20).
É o que fizemos, especialmente na América Latina, lendo e interpretando a Bíblia em favor da vida, animando uma leitura em comunidade. Com isso, constatamos a importância das Comunidades Eclesiais de Base com seu jeito de ser Igreja e nelas a leitura popular da Bíblia, que especialmente o Centro de Estudos Bíblicos, o CEBI, realiza desde faz muitos anos somando com outros centros de aprofundamento bíblico numa ótica libertadora.
Como teóloga feminista, opto por aprofundar uma teologia de gênero, de classe, de etnia (de raça) e de geração. Uma leitura politica! Muito mais abrangente que a luta por recuperar o lugar das mulheres na Igreja. Trata-se de recuperar o sujeito humano na sociedade seja mulher, jovem, criança, idoso, e ainda o mais pobre, o negro.... já que dentro da Teologia da Libertação, fazemos uma opção por ‘outra teologia’, aquela que proclamava a Igreja do Vaticano II, como foi entendida na América Latina, a Igreja de Medellin, de Puebla e até a de Aparecida... Uma Igreja inclusiva onde todas as pessoas tenham seu espaço: Mulheres, homens, pobres, menos pobres, índios, negros e brancos. Crianças, jovens, adultos, idosos... Todas e todos com voz, participantes, dialogantes... A serviço do Reino de Deus!
Adital – Há esperança e fé num novo caminhar mesmo sob o olhar conservador eclesial?
Mercedes Budallés -Tive a graça de Deus de morar e trabalhar pastoralmente na Prelazia de São Felix do Araguaia (MT). Eu sei que outra Igreja é possível, porque já vivi nela! Com muitos limites e problemas. Mas, o compromisso evangélico, a pobreza real entre nós, agentes de pastoral, a vida de comunidade partilhada com os mais pobres, nos dava a liberdade de quem experimenta já o Reino de Deus aqui na terra.
E ainda que seja muito conservador o olhar e agir eclesial atualmente, em certos setores da Igreja, ninguém poderá acabar com a teimosia dos pequenos, com o seu amor a essa Igreja libertadora que lhes dá reconhecimento e dignidade.


"A Igreja deve ser instrumento de salvação das formas de opressão e dominação" Entrevista com Francisco Aquino Junior



Desde o dia 30 de agosto, o Centro Pastoral Maria Mãe da Igreja, em Fortaleza, Ceará, sedia o Simpósio 50 anos do Concílio Vaticano e 40 anos da Teologia da Libertação. O encontro – que vai até o dia 1º de setembro – lança uma discussão sobre esses dois momentos importantes para as igrejas cristãs e seus desdobramentos nos dias atuais.

Um dos convidados é o padre Francisco Aquino Junior, autor do livro Teoria Teológica – Práxis teologal – sobre o método da Teologia da Libertação.
A entrevista é da Adital, 30-08-2012.
Eis a entrevista.

Muita gente acha que a Teologia da Libertação (TdL) é coisa do passado. Parte da geração mais jovem nem sabe o que isso... Por que um livro "sobre o método da TdL”?
A teologia é a inteligência da experiência de Deus. Na medida em que o Deus de Jesus Cristo e sua experiência histórica têm a ver com a libertação dos pobres e oprimidos, como se pode ver na Sagrada Escritura, a teologia tem que ser teologia da libertação: Inteligência da presença e ação de Deus nos mais diversos processos de libertação e inteligência a serviço desses mesmos e de outros processos de libertação. Daí a importância, necessidade e atualidade da reflexão sobre o método da teologia da libertação. Isso se torna ainda mais relevante no atual contexto eclesial, onde a Igreja parece mais preocupada com seus interesses e privilégios institucionais que com a salvação/libertação da humanidade sofredora – coração do Evangelho de Jesus Cristo.

Em poucas palavras: O que é teologia da libertação? Quais as suas principais características?

É uma teologia voltada para aquilo que constitui o núcleo da experiência bíblica de Deus: a salvação/libertação dos pobres e oprimidos. Segundo Gustavo Gutiérrez, na teologia da libertação há "duas intuições centrais que foram as primeiras cronologicamente e que continuam constituindo sua coluna vertebral”: primado da práxis e perspectiva do pobre/oprimido. A revelação e a fé de que trata a teologia é ação ou interação entre Deus e seu povo (primado da práxis) e ação ou interação salvífico-libertadora (perspectiva do pobre/oprimido).

Parece haver diferenças e mesmo divergências entre os teólogos da libertação sobre a TdL e sobre o método dessa teologia...Sem dúvida. E não poderia ser diferente em uma teologia que procurar pensar a experiência de Deus em sua totalidade e nos mais diferentes contextos. Essas diferenças têm a ver com a diversidade de enfoques ou perspectivas (econômico, gênero, ecologia etc.), de mediações práticas (CEBs, movimento social etc) e teóricas (ciências sociais, antropologia etc.), de temas/problemas (sociedade, igreja, Jesus Cristo etc.). Mas há um ponto crucial e polêmico que diz respeito à compreensão da TdL e de seu método. Enquanto para alguns, a TdL é uma teologia das questões sociais (é a tese básica de Clodovis Boff), para a grande maioria dos teólogos, a TdL é uma teologia que procura pensar a experiência de Deus em sua totalidade a partir do núcleo fundamental da experiência bíblica de Deus: salvação/libertação dos pobres/oprimidos.

Depois de 40 anos, o que mudou na TdL?

Houve uma ampliação do horizonte da libertação e, consequentemente, das mediações práticas e teóricas dos processos de libertação. Se nos primeiros anos se deu muita ênfase às dimensões econômica e política da opressão e da libertação, a partir dos anos 90 se insiste muito em outras formas e em outros processos de opressão e libertação: gênero, etnia, cultura, ecologia, religião etc. Passa-se a falar cada vez mais de teologias da libertação: feminista, negra, indígena, ecológica, das religiões e, mais recentemente, tem-se falado também de teologia gay.

Estamos celebrando 50 anos do Concílio e 40 anos da TdL. Que relação existe entre o Concílio e a TdL?

Não se pode pensar a TdL sem o Concílio Vaticano II, embora tampouco se possa entendê-la simplesmente a partir dele. Se o Concílio teve o mérito incalculável de descentrar a Igreja, de abri-la e lançá-la ao mundo, a TdL avançou nas trilhas abertas pelo Concílio, explicitando que mundo era esse (mundo estruturalmente injusto e opressor) e determinando, a partir da fé, o lugar que a Igreja deve ocupar nesse mundo (mundo dos pobres e oprimidos).

Por que se fala tanto do Concílio e tão pouco da "Igreja dos pobres”, de Medellín, da TdL, inclusive na América Latina e, concretamente, no Brasil?
Isso é curioso... Mesmo o tema da Igreja dos pobres proposto pelo papa João XXIII tem sido completamente silenciado nas comemorações dos 50 anos do Concílio. Basta ver os títulos de livros e artigos publicados e os temas das conferências nos congressos, simpósios etc. Talvez porque os que estão discutindo o Concílio estejam mais preocupados com seus interesses e problemas (saber, poder etc.) do que com os dramas da humanidade sofredora... Não por acaso o tema não teve muita repercussão no Concílio – mais voltado para os problemas e preocupações das igrejas do primeiro mundo... Evangelicamente, parece um mau sinal: desvio do núcleo do Evangelho de Jesus Cristo.

Muita gente fala que a Igreja caminha atualmente numa direção muito diferente, quando não contrária, à direção tomada e proposta pelo Concílio e, sobretudo, pela TdL. O que você acha?
Tenho a mesma impressão, pelo menos em relação ao conjunto da Igreja e, sobretudo, com relação aos bispos e padres. Basta ver as prioridades pastorais das dioceses e paróquias e mesmo as últimas diretrizes da ação evangelizadora da igreja no Brasil. Dá a impressão que os problemas do mundo, sobretudo dos pobres e oprimidos, são completamente estranhos à vida da Igreja que parece ter coisas mais "importantes” e "urgentes” para cuidar (número de fieis, templos, vestes litúrgicas, corais, coroinhas, devoções, missão popular etc). Se o Concílio abriu e descentrou a Igreja de si mesma e a TdL a colocou a serviço da humanidade sofredora, a conjuntura atual para ir numa direção contrária, concentrando todas as suas preocupações e "urgências” pastorais na vida interna da Igreja. Mais que de uma volta à grande disciplina, é preciso falar hoje de uma volta à sacristia ou, na melhor d as hipóteses, ao templo...

Na sua opinião, qual o maior desafio para a Igreja e a teologia atualmente?

Recuperar as intuições e as preocupações mais fundamentais do Concílio e da TdL: A Igreja não existe para si mesma; deve ser sinal e instrumento de salvação e salvação das mais diferentes formas de opressão e dominação. Por isso mesmo, ela é e tem que ser sempre mais, na feliz expressão de João XXIII, a Igreja dos pobres e oprimidos como Ele, para que os pobres e oprimidos possam viver. Eles são, no Juiz e Senhor, juízes e senhores de nossas vidas, igrejas e teologias (Mt 25, 31-46)...

domingo, 2 de setembro de 2012

Simpósio Teológico - Encerramento

Segue abaixo o vídeo com o encerramento do nosso Simpósio Teológico "O que o Espírito diz às Igrejas?" - 50 anos de Vaticano II e 40 anos de Teologia da Libertação.
 
Carlo Tursi, emocionado, encerra o Simpósio. E Mercedes de Budallés nos propõe sairmos de nossos lugares. A vida pede dinâmicas, a vida pede o MOVIMENTO.
 
Agradecemos à todos e todas! Vamos em frente!
 
 
Jean dos Anjos