terça-feira, 29 de março de 2011

É PRECISO SONHAR - José Comblin

Não apenas em homenagem ao profeta falecido, mas porque ele representa para nós a "viva voz do Evangelho" colocamos aqui na íntegra a transcrição da conferência de José Comblin proferida na Universidade Centro-Americana (UCA) em San Salvador, em 14 nov. 2010:
 
"Boa tarde a todas e todos.
Não é a primeira vez que falo neste lugar, mas agradeço muito a amizade de Jon Sobrino. Nós nos conhecemos há muito tempo e eu o estimo como uma das cabeças mais lúcidas deste tempo que renovou completamente a Cristologia.
Bom ... As perguntas de ontem me deram a impressão de que em muitas pessoas há certo desconcerto em relação à situação atual da Igreja. Ou seja, uma sensação de insegurança. Como dizia Santa Teresa, por "não saber nada a respeito, que nada provoque temor". Quando era jovem eu conheci algo semelhante e, talvez, pior. Era o pontificado de Pio XII. Ele havia condenado todos os teólogos importantes, havia condenado todos os movimentos sociais importantes, por exemplo, a experiência dos padres operários na França, Bélgica e outros países. Aí nós, jovens seminaristas e depois jovens sacerdotes, estávamos mais que desconcertados, perguntando-nos: mas, ainda há futuro? Eu me lembro que naquela época tinha lido uma biografia de um autor austríaco do papa Pio XII. E aí contava algumas palavras que havia escrito o Pe. Liber, jesuíta, professor de História da Igreja na Gregoriana. O Pe. Liber era confessor do Papa. Sabia tudo o que passava na cabeça de Pio XII e então dizia: "Hoje a situação da Igreja católica é igual a um castelo medieval, cercado de água, levantaram a ponte e jogaram as chaves na água. Já não há como sair (risos). Ou seja, a Igreja está cortada do mundo, não tem mais nenhuma possibilidade de entrar". Isso foi dito pelo confessor do Papa, que tinha motivos para saber essas coisas. Depois disso veio João XXIII e aí, todos os que haviam sido perseguidos, de repente são as luzes no Concílio e de repente todas as proibições são levantadas. Aí renasceu a esperança. Digo isto para que não se perturbem. Algo virá. Algo virá que não se sabe o que, mas algo sempre acontece.
Como explicar essas situações que ainda podem recomeçar? Porque estamos nos aproximando da fase final da cristandade. Já faz muitos séculos que anunciaram a morte da cristandade... que está agonizando já faz cerca de 200 anos, mas ainda pode continuar sua agonia durante algumas décadas ou alguns anos. Ou seja, deixou de ser a consciência do mundo ocidental. Deixou de ser a força que anima, estimula, esclarece, explica a fonte da cultura, da economia, de tudo o que foi durante o tempo da cristandade. Tudo isso foi sendo destruído progressivamente desde a Revolução Francesa e aqui desde a independência, desde a separação do império espanhol. Então, pouco a pouco, apareceram muitos profetas que disseram que a cristandade morreu ... já faz 200 anos. Mas agora creio que a cristandade está entrando em suas fases finais. Querem um sinal? A Encíclica Caritas et Veritate. Não sei quantas pessoas aqui leram a Encíclica. Se se vê a repercussão que teve no mundo: impressionante silêncio... Talvez silêncio respeitoso, mas mais provavelmente silêncio de indiferença. A doutrina social da Igreja não importa mais a ninguém, que também deixou de se interessar pelo que acontece na realidade concreta.
Há alguns anos, um sociólogo jesuíta muito importante, o Pe. Calvez, que teve um papel importantíssimo na criação e manutenção da Doutrina Social da Igreja, publicou um livro intitulado: "Os silêncios da Doutrina Social da Igreja". Ainda está em silêncio. Deixa de entrar com força nos problemas do mundo atual. Fica com teorias tão vagas, tão abstratas, tão genéricas... A carta Caritas in Veritate poderia ser assinada pelo Fundo Monetário Internacional (risos), pelo Banco Mundial... sem nenhum problema. Não há absolutamente nada que incomode esse pessoal. Então, para quê? Esse é o sinal.
Querem outro sinal? A Conferência de Aparecida disse muitíssimas coisas boas. Quer transformar a Igreja em uma missão, passar de uma Igreja de "conservação" a uma Igreja de "missão". Só que pensa que isso será feito pelas mesmas instituições que não são de missão, mas de conservação. Isso será feito pelas dioceses, pela paróquia, pelos seminários, pelas Congregações Religiosas. Estes aqui, de repente e por milagre, vão se transformar em missionários. Já se passaram três anos e o que aconteceu em sua diocese? Como se aplicou a opção pelos pobres? Não sei como é aqui, mas no Brasil não vejo muita transformação. Ou seja, a cristandade está se dissolvendo progressivamente, mas o problema é o depois. O que vem depois? Como? Daí a insegurança porque não sabemos o que vem depois. Isto aconteceu muitas vezes na história e ainda vai acontecer provavelmente muitas vezes. É preciso aprender a resistir, a suportar, a não se deixar desanimar ou perder a esperança pelo que vem acontecendo.
O que acontece é que em Roma não estão convencidos de que a cristandade está morta. Acreditam que as Encíclicas iluminam o mundo, que as instituições eclesiásticas iluminam e conduzem o mundo. Ou seja, é um mundo fechado, que de fato vive em um castelo medieval, cercado de água. E então, o que acontece? Vamos ver como interpretar, como ver o que está acontecendo. E então ver qual é o "método teológico" que convém para isso.
O Evangelho vem de Jesus Cristo. A religião não vem de Jesus Cristo
É preciso partir de uma distinção básica que agora vários teólogos já propuseram entre o Evangelho e a religião. O Evangelho vem de Jesus Cristo. A religião não vem de Jesus Cristo. O Evangelho não é religioso. Jesus não fundou nenhuma religião. Não fundou ritos, não ensinou doutrinas, não organizou um sistema de governo. Nada disso. Ele se dedicou a anunciar, a promover o Reino de Deus. Ou seja, uma mudança radical de toda a humanidade em todos os seus aspectos. Uma mudança, e uma mudança cujos autores serão os pobres. Dirige-se aos pobres pensando que somente eles são capazes de agir com essa sinceridade, com essa autenticidade para promover um mundo novo. Seria essa uma mensagem política? Não é política no sentido de que propõe um plano, uma maneira... não, para isso a inteligência humana é suficiente; mas como meta política, porque isto é uma orientação dada a toda a humanidade.
E a religião? Aah! Jesus não fundou uma religião, mas seus discípulos criaram uma religião a partir dEle. Por quê? Porque a religião é algo indispensável aos seres humanos. Não se pode viver sem religião. Se a religião atual aqui se desintegra... Há 38.000 religiões registradas nos Estados Unidos! Ou seja, não faltam religiões, elas aparecem constantemente. O ser humano não pode viver sem religião, mesmo que se afaste das grandes religiões tradicionais. Então, a religião é uma criação humana. Entre a religião cristã e as demais religiões, a estrutura é igual. É uma mitologia. Assim como há uma mitologia cristã, há uma mitologia hinduísta, xintoísta, confucionista. Isso é parte indispensável para a humanidade. Ou seja, como interpretar todo o incompreensível da humanidade pela intervenção de seres com entidades sobrenaturais, fora deste mundo, que estão dirigindo esta realidade.
Em segundo lugar, uma religião é feita de ritos. Ritos para afastar as ameaças e para acercar-se dos benefícios. Todas as religiões têm ritos. E todas têm pessoas separadas, preparadas, para administrar os ritos, para ensinar a mitologia. Isto é comum a todas. Então, isto devia acontecer com os cristãos também. Devia acontecer. Como poderiam viver sem religião?
Como começou essa religião? Deve ter começado quando Jesus se transformou em objeto de culto. O que aconteceu bastante cedo, sobretudo entre os discípulos que não o conheceram, que não haviam vivido com ele, que não haviam estado próximos dele. Então, a geração seguinte ou aqueles que viviam mais distantes, mais afastados, para eles Jesus se transformou em objeto de culto. Com isso se desumanizou progressivamente. O culto de Jesus vai substituindo o seguimento de Jesus. Jesus nunca havia pedido aos discípulos um ato de culto. Nunca havia pedido que lhe oferecessem um rito... nunca. Mas queria o seguimento, seu seguimento. Essa dualidade começa a aparecer cedo. 30 anos, 40 anos depois da morte de Jesus, já aparece com força suficiente para que Marcos escrevesse em seu Evangelho precisamente para protestar contra essas tendências de desumanização, ou seja, de fazer de Jesus um objeto de culto. Este Evangelho é precisamente para recordar uma palavra de profeta: Não! Jesus era isso. Jesus fez isso, viveu aqui neste mundo! Viveu aqui nesta terra.
Com o desenvolvimento da religião cristã que se fez - aqui problema para os teólogos -, progressivamente essa tentação reapareceu. Nasceu um começo de doutrina, o Símbolo dos Apóstolos. E o que diz o Símbolo dos Apóstolos sobre Jesus? Aah... diz que nasceu e morreu. Nada mais. Como se as outras coisas não tivessem importância, como se a revelação de Deus não fosse justamente a própria vida de Jesus, seus atos, seus projetos, todo o seu destino terrestre. Essa é a revelação, mas isso já vai se perdendo de vista. Os Símbolos de Niceia e Constantinopla, da mesma maneira: Cristo nasceu e morreu. O Concílio de Calcedônia define que Jesus tem uma natureza divina e uma natureza humana. Mas, o que é uma natureza? Um ser humano não é uma natureza. Um ser humano é uma vida, é um projeto, é um desafio, é uma luta, é uma convivência em meio a muitos outros. Isso é o fundamental se queremos fazer o seguimento de Jesus.
A religião: distinção entre o sagrado e o profano
Progressivamente, aparece a partir dos primeiros Concílios um distanciamento entre a religião que se forma. Com Niceia e Constantinopla já há um núcleo de ensinamento e de teologia e a Igreja vai se dedicar a defender, promover, aumentar essa teologia. Já se organizaram as grandes liturgias de Basílio e outros, e já se organizou um clero. O clero como classe separada é uma invenção de Constantino. Até Constantino não havia distinção entre pessoas sagradas e pessoas profanas. Eram todos leigos. Porque Jesus apartou a classe sacerdotal e não tinha previsto nenhuma maneira que aparecesse outra classe sacerdotal, porque todos são iguais. E não há pessoas sagradas e pessoas não sagradas, porque para Jesus não há diferença entre sagrado e profano. Tudo é sagrado ou tudo é profano.
Agora, na religião há uma distinção básica entre sagrado e profano. Em todas as religiões. E há um clero que se dedica ao que é sagrado. E os outros que estão no profano, na religião são receptores, não são atores. Não têm nenhum papel ativo. Para ter um papel ativo é preciso ser realmente consagrado. Isso começa no tempo de Constantino.
E a partir daquilo vão aparecer duas linhas na história cristã. Os que, como o Evangelho de Marcos quer recordar: Não, Jesus veio para mostrar o caminho, para que o sigamos. Isso é o básico, o fundamental. Uma linha que vai renovar, aplicar em diversas épocas históricas o que foi a vida de Jesus e como ele o ensinou. E em toda a história podemos seguir. Claro que não sabemos tudo, porque a grande maioria dos que seguiu o caminho de Jesus foram pobres, dos quais nunca se falou nos livros de história e, portanto, não deixaram nenhum documento. Mas há pessoas que deixaram documentos e com isso podemos acompanhar onde, na história da Igreja cristã, aparece o Evangelho. Onde se buscou primeiramente a vivência do Evangelho. Os que buscaram radicalmente o caminho do Evangelho foram sempre minorias, como dizia Helder Câmara, "minorias abraãmicas".
A maioria está no outro pólo, na religião. Ou seja, dedicando-se à doutrina. Ensinando a doutrina, defendendo a doutrina contra os hereges e as heresias... Essa foi uma das grandes tarefas, praticar os ritos e formar a classe sagrada, a classe sacerdotal. Isso nos leva a uma distinção que vai se manifestar em toda a história. O pólo "Evangelho" está em luta com o pólo "religião" e "religião" com o pólo "Evangelho". Em toda a história. Toda a história cristã é uma contradição permanente e constante entre aqueles que se dedicam à religião e aqueles que se dedicam ao Evangelho. Claro que há intermediários e assim não há pólos totais. Mas na história há visivelmente duas histórias, dois grupos que se manifestam. A história oficial: quando eu era jovem nos davam aulas de História da Igreja que era "história da instituição eclesiástica" e ali só se falava da religião, supondo que a religião era a introdução ao Evangelho. Mas isso é uma suposição: que tudo o que nasceu no sistema católico vem de Jesus, como se dizia na teologia tradicional em tempos da cristandade, que tudo o que existe na Igreja Católica Romana, ao final, vem de Jesus. Com muitos malabarismos teológicos se consegue mostrar que tudo tem finalmente sua raiz em Jesus. Não têm sua raiz em outras religiões, em outras culturas. Como se os cristãos que se convertem à Igreja fossem totalmente puros de toda cultura e toda religião. Todos trazem sua cultura e sua religião, e introduzem em sua vida cristã elementos que são de sua religião e cultura anterior e por isso resulta uma religião que é sempre ambígua, complexa. É inevitável, porque os seres humanos que entram na Igreja não são anjos. Eles estão carregados de séculos e séculos de história e de transmissão cultural e tudo isso entra, naturalmente, na Igreja. Daí uma oposição que em matéria política, por exemplo, se mostra claramente. Se diz: o Evangelho procede de Deus e, portanto, não pode mudar. A religião é criação humana, portanto, pode e deve mudar segundo a evolução da cultura, das condições de vida dos povos em geral. Se a religião fica apegada ao seu passado, ela é pouco a pouco abandonada a favor de outra religião mais adaptada. O que é muito compreensível.
O Evangelho é vivido na vida concreta, material, social. A religião vive em um mundo simbólico. Tudo é simbólico - doutrina, ritos, sacerdotes... -, todos são entidades simbólicas, que não entram na realidade material. O Evangelho é universal, porque não traz nenhuma cultura e não está associado a nenhuma cultura, a nenhuma religião. As religiões estão sempre associadas a uma cultura. Por exemplo, a religião católica atual está ligada à subcultura clerical romana que a modernidade marginalizou, que está em plena decadência porque seus membros não quiseram entrar na cultura moderna. O Evangelho é renúncia ao poder e a todos os poderes que existem na sociedade. A religião busca o poder e o apoio do poder em todas as formas de poder. E são tão visíveis!
O poder... Lembro que na época da prisão dos bispos em Riobamba o núncio dizia: "se a Igreja não tem o apoio dos governantes, não pode evangelizar" (risos). Pode-se pensar o contrário: que caso se tenha o apoio dos poderes será difícil evangelizar. Mas essa é uma mentalidade que ainda é remanescente na cristandade entre a Igreja fundida em uma realidade político-religiosa e então naturalmente estavam unidas todas as autoridades: o clero e o governo; o clero e o Exército - tudo unido. Renunciar a isso é muito difícil. Renunciar à associação com o poder é muito difícil. Vou dar um exemplo. Meu atual bispo na Bahia é um franciscano, se chama Luis Flavio Cappio. Ficou famoso no Brasil por duas greves de fome que fez para protestar contra um projeto faraônico do governo, baseado em uma imensa mentira. Não há tempo para contar toda a história, mas se tornou conhecido e foi convidado para o Kirchentag da Igreja alemã. Depois do convite falou em várias cidades da Alemanha. Um grupo se aproximou dizendo que vinham para entregar-lhe uma doação, uma ajuda para as suas obras. E era bastante: cerca de 100 mil dólares. Ele perguntou: "De onde vem esse dinheiro?" Disseram-lhe que são algumas empresas, alguns executivos que o recolheram. Então disse: "Não aceito. Não quero aceitar o dinheiro que foi roubado dos trabalhadores, dos compradores de material". Não aceitou nenhuma aliança com o poder econômico. Eu não sei quantos no clero não aceitariam (aplausos). Esse bispo é um franciscano igual a São Francisco. Toda a sua vida foi assim. Por isso fui morar ali para santificar-me um pouquinho em contato com uma pessoa tão evangélica...
Então, como nasceu a Igreja? A Igreja de que se fala: essa realidade histórica, concreta de que temos experiência. Para o povo em geral a Igreja é o Papa, os bispos, os padres, as religiosas, religiosos... esse conjunto institucional de que se fala e que provoca também tanta incerteza, como vimos. Como nasceu a Igreja? Jesus não fundou nenhuma igreja. O próprio Jesus se considerava um judeu. Era o povo de Israel renovado e os primeiros discípulos também; Os doze apóstolos são os patriarcas da Igreja do Israel renovado. A primeira consciência era da continuação de Israel, a perfeição, a correção de Israel. Mas uma vez que o Evangelho penetrou no mundo grego, aí Israel não significava muitas coisas para eles e então Paulo inventa outro nome. Dá às comunidades que funda nas cidades o nome de "ekklesia", o que se traduziu por "igreja". O que é a ekklesia? O único sentido que tem no grego é "a assembleia do povo reunido que governa a cidade". Na prática eram as pessoas mais poderosas, mas enfim é que na cidade grega o povo se governa a si mesmo e o faz em reuniões que são "ecclesias". Paulo não dá nenhum nome religioso às comunidades; os vê como um grupo destinado a ser a animação. A mensagem de transformação de todas as cidades, de tal maneira que estão constituindo o começo de uma humanidade nova. E é uma humanidade onde todos são iguais, todos governam a todos. Depois vem a Carta aos Efésios em que se fala da Igreja como tradução de "kahal" dos judeus, ou seja, é o novo Israel. E a ecclesia é aí também o novo Israel. Ou seja, todos os discípulos de Jesus unidos em muitas comunidades, mas não unidos institucionalmente, mas unidos pela mesma fé. Todos constituem a "ecclesia", a grande Igreja que é o corpo de Cristo. Ainda não existem instituições.
Mas, naturalmente, não podia continuar assim. Os judeus que aceitaram o cristianismo não abandonaram todos o judaísmo. E quando o número de cristãos cresceu, o número de comunidades, ali começaram a penetrar algumas estruturas. No tempo de Paulo ainda não há presbíteros, mesmo que São Lucas diga o contrário. Mas São Lucas não tem nenhum valor histórico; isso todo o mundo já sabe. Atribui a Paulo o que se fazia em seu tempo. Então imagina que Paulo fundou presbíteros, conselhos presbiterais. Como se justificaria um bispo sem ordenar sacerdotes? Então, parece evidente um começo de separação ainda muito simples, porque ainda não há sacralidade, não há nada sagrado. Os presbíteros não são sagrados, assim como os presbíteros das sinagogas não eram sagrados. Eles tinham uma função, uma missão de governo, de administração, mas não uma função ritual, ou uma função de ensino de uma doutrina.
Depois apareceram os bispos. No final do século II se estima que o esquema episcopal esteja generalizado, mas demorou bastante. Clemente de Roma, quando publica e escreve sua Carta aos Coríntios, diz "presbíteros", o que não é bispo. Ainda em Roma não há bispo, só presbíteros. Mas se organizou o esquema episcopal. É provável que para as lutas contra as heresias, contra o gnosticismo, se necessitasse de uma autoridade mais forte, para poder enfrentar o gnosticismo e todas as novas religiões sincréticas que aparecem naquele tempo.
E a Igreja como instituição universal, quando aparece? Houve, no século III, Concílios regionais: bispos de várias cidades que se reuniam. Mas uma entidade para institucionalizar tudo não existia. Quem inventou esta Igreja universal foi o imperador Constantino. Ele reuniu todos os bispos que havia no mundo com viagens pagas por ele, alimentação também paga por ele, e toda a organização do Concílio foi dirigida pelo imperador e os delegados do imperador. Isto constitui um precedente histórico. Até hoje não estamos livres disso: que a Igreja universal como instituição tenha nascido com o imperador.
Depois, na história ocidental caiu o imperador romano e então progressivamente o papa conseguiu chegar à função imperial. Houve muitas lutas na Idade Média entre o papa e o imperador, mas sempre o papa se estimava superior ao imperador. Nas cruzadas, o papa era generalíssimo de todos os exércitos cristãos. Era uma personalidade militar - comandante em chefe do exército cristão. E dentro da linha dos Estados pontifícios, isto ainda se mantém.
Quando o papa perdeu o poder temporal, reforçou seu poder sobre as Igrejas: e governa as igrejas como um imperador, ou seja, todos os poderes são centralizados em uma única mão e com todas as vantagens de uma corte. Por que se não há nada de democracia na Igreja, quem são aqueles que orientam o papa? A corte! Os cortesãos, os que estão ali próximos. Claro que ele não pode fazer tudo, mas enfim uma corte separada do povo cristão. Ainda estamos sofrendo as consequências daquilo. O Papa Paulo VI disse em alguns momentos que realmente teria que mudar a função atual do Papa, ou seja, o que o Papa faz. João Paulo II na "Unum sint" disse também que é preciso dar-se conta de que o grande obstáculo no mundo de hoje é essa concentração de todos os poderes no Papa. Seria preciso encontrar outra maneira de exercer isso. Isso para dizer que tudo isto pertence à religião.
Tarefa da teologia: no Evangelho e na religião
A partir disso, qual é a tarefa da teologia? É complexa, justamente porque tem uma tarefa no Evangelho e uma tarefa na religião. A teologia foi durante séculos a ideologia oficial da Igreja. Seu papel era justificar tudo o que a Igreja diz e faz com argumentos bíblicos, com argumentos da tradição, liturgia, e um monte de coisas que eu aprendi quando estava no seminário. Claro que não acreditava nisso (risos), mas a maioria ainda crê nisso. Então, o que acontece?
Primeira tarefa: o que diz o Evangelho?
Primeira tarefa: o que diz o Evangelho? O que é de Jesus? O que é penetração do judaísmo, de outra cultura, de outro tipo de religião? O que vem de Jesus segundo o Novo Testamento? Todo o Novo Testamento não vem de Jesus? Não, as Epístolas pastorais que falam, por exemplo, dos presbíteros, isso não vem de Jesus. Então, a tarefa da teologia consistirá em dizer o que é de Jesus, o que realmente quis, o que realmente fez e em que consiste realmente o seguimento de Jesus.
Vendo a história, quais foram as manifestações, onde, em formas diferentes - porque as situações culturais eram diferente -, onde podemos reconhecer a continuidade dessa linha Evangélica? Porque se quisermos penetrar no mundo de hoje e apresentar o cristianismo ao mundo de hoje, tudo o que é religioso não interessa. O que pode interessar é justamente o Evangelho e o testemunho evangélico. Ninguém vai se converter pela teologia. Você pode fazer todas as melhores aulas, ninguém vai se fazer cristão por causa da teologia. Por isso, me pergunto: por que nos seminários se crê que a formação sacerdotal é ensinar a teologia? Eu não entendo, não entendo. Não há outra coisa necessária para evangelizar? Não é muito mais complexo? Por isso faz 30 anos que decidi, na presença de Deus, nunca mais trabalhar em seminários (risos).
Então, a linha evangélica é essa - São Francisco. São Francisco era um extremista. Não queria que seus irmãos tivessem livros: nada de livros. Com o Evangelho basta, não se necessita nada mais. Ele próprio dizia: "Eu, o que ensino, não aprendi de ninguém, nem do papa; o aprendi de Jesus diretamente, por seu Evangelho". Bom, isso é o que pode convencer o mundo de hoje que está em uma perturbação completa e que se afasta sempre mais das Igrejas institucionais antigas, tradicionais. Quase todas as grandes religiões nasceram entre os anos 1.000 e 500 antes de Cristo, salvo o Islã que apareceu depois, mas que é um ramo da tradição judeu-cristã.
O que fazer com a religião?
Segundo, a religião. O que fazer com a religião? É preciso examinar em todo o sistema de religião, o que ajuda, o que realmente ajuda a entender, a compreender, a agir segundo o Evangelho. Isso terá nascido por inspiração do Espírito em monges, por exemplo? Se você olha a vida dos monges do deserto no Egito, isso não é uma mensagem. Não é uma mensagem e também não vem do Evangelho. Ou seja, muitas coisas vêm não se sabe de que tradição, talvez possa ter sido do budismo ou outras coisas assim. Então, examinar o que é o que ainda vale hoje, e sinceramente.
Jesus não instituiu 7 sacramentos. Até o século XII se discutia se eram 10, 7, 5, 9, 4. Não havia acordo. Finalmente, decidiram que havia 7. Bom, por motivos dos 7 dias do Gênesis, 7 planetas, o número 7..., mas há coisas que visivelmente já não falam para as pessoas de hoje. Por exemplo, o sacramento da penitência com confissão a um sacerdote. Quantos se confessam atualmente? Há 20 anos, eu atendia na Semana Santa, em uma paróquia popular, 2.000 confissões, e o pároco outras tantas. Atualmente, 20, 30, ou seja, as pessoas já não respondem mais. Isso foi definido no século XII, XIII. Por que manter algo que já não tem nenhum significado e, ao contrário, provoca muita recusa? Ou seja, que alguém necessite falar com alguém, que o pecador goste de falar com alguém, mas não justamente ao sacerdote. Há muitas pessoas, muitas mulheres, que podem exercer esse ofício muito melhor, com mais equilíbrio, sem atemorizar como fazem os sacerdotes. Isso é uma coisa.
Mas há um monte de coisas que é necessário revisar porque não têm futuro. É inútil querer defender ou manter algo que já é obstáculo para a evangelização e que não ajuda absolutamente em nada. Nas liturgias há muitas coisas que mudar. A teoria do sacrifício foi introduzida pelos judeus, naturalmente. No templo se oferece sacrifícios, os sacerdotes são pessoas sagradas que oferecem o sacrifício. Toda essa teoria, atualmente não significa absolutamente nada. Que o padre seja dedicado ao sagrado para oferecer o sacrifício e que a Eucaristia seja um sacrifício, tudo isto vem de Jesus? Ah, não vem de Jesus. Então, é preciso ver se isso vale ou não vale. Para que manter algo que não vale?
E depois há também a outra parte: o que não ajuda, o que tem sido infiltração de outras tendências, outras correntes. Por exemplo, a vida ascética dos monges irlandeses. A Irlanda foi a ilha dos monges. Ali os bispos não tinham autoridade. Serviam apenas para ordenar sacerdotes, mas para as outras coisas podiam descansar. Quem mandava eram os monges. Os mosteiros eram os centros, o que é a diocese atualmente. Esses monges irlandeses viviam uma vida ascética, mas tão extraordinariamente desumana para nós que isso é impossível que venha de Jesus, é impossível que isso ajude, porque esses homens ali eram super-homens, mas não existem mais homens assim hoje. Um exercício de penitência que faziam, por exemplo, era entrar no rio - na Irlanda os rios são frios - e ficar nu para rezar todos os salmos (risos)... Essa maneira de entender a vida, não, não devemos considerar que isso seja cristão. Também não é marca de santidade. Não é assim que a santidade se manifesta. Examinar tudo o que vem de lá.
Todas as congregações femininas sabem o quanto é preciso lutar para mudar costumes, tradições que não são evangélicos. Quantos debates! Eu conheço uma série de congregações femininas e quanto tempo se gasta em discussões, disputas entre aquelas que querem conservar tudo e aquelas que querem abandonar o que não serve mais e encontrar outro modo de viver mais adaptado à situação atual! Então, a tarefa da teologia, claro que é mudar, isso muda a tradição, deixa de ser a ideologia de todo o sistema romano, mas essa não tem futuro. Esse tipo de teologia já faz tempo que foi progressivamente abandonado.
Na América Latina apareceu algo. Conhecemos um novo franciscanismo, ou seja, uma nova etapa, mas radical, de vida evangélica. Quando nasceu? Falei dos bispos que participaram disso e que animaram Medellín e da opção pelos pobres, dos santos padres da América Latina. E vocês os conhecem. Se for preciso marcar a origem do novo evangelismo da Igreja latino-americana, eu diria - não se esqueçam - dia 16 de novembro de 1965. Nesse dia, em uma catacumba de Roma, 40 bispos, a maioria latino-americanos, incitados por Helder Câmara, se juntaram e assinaram o que se chamou de "Pacto das Catacumbas". Ali se comprometeram a viver pobres, na alimentação. Se comprometeram e, de fato o fizeram depois, uma vez que chegaram às suas dioceses. E depois, priorizar em todas as suas atividades o que é dos pobres, ou seja, deixando muitas coisas para se dedicar prioritariamente aos pobres e uma série de coisas que vão no mesmo sentido. Foram eles que animaram a Conferência de Medellín. Ou seja, nasceu aqui.
E tiveram um contexto favorável. O Espírito Santo já naquele tempo havia suscitado uma série de pessoas evangélicas. As Comunidades Eclesiais de Base já tinham nascido. Já havia religiosas inseridas nas comunidades populares. Mas, eram poucos e se sentiam um pouco marginalizados no meio dos outros. Medellín lhes deu como que legitimidade e ao mesmo tempo uma animação muito grande, e se expandiu. Foi toda a Igreja latino-americana? Claro que não. Sempre é uma minoria. Um dia, me lembro, um jornalista perguntou ao cardeal Arns - um santo, com quem vivemos muito boas relações de amizade: "você, senhor cardeal, aqui em São Paulo tem muita sorte, toda a Igreja se fez Igreja dos pobres, as monjas todas a serviço dos pobres, que coisa magnífica!". Aí, Dom Paulo disse: "Sim, pois, aqui em São Paulo 20% das religiosas foram às comunidades pobres; 80% ficaram com os ricos". Era muito. Atualmente, não há 20%.
Isto foi uma época de criação, uma dessas épocas em que há, às vezes, na história com uma efusão muito grande do Espírito. Mas temos que viver essa herança. É uma herança que é preciso manter, conservar preciosamente porque isso não vai reaparecer. Às vezes me perguntam: Por que hoje os bispos não são como naquele tempo? Porque aquele tempo foi uma exceção, ou seja, na história da Igreja é exceção. De vez em quando o Espírito Santo manda exceções.
E quem vai evangelizar o mundo de hoje? Para mim, são os leigos. E já aparecem muitos grupinhos de jovens que justamente praticam uma vida muito mais pobre, livre de toda organização exterior, vivendo em contato permanente com o mundo dos pobres. Já existem. Haveria mais se se falasse mais, se fossem mais conhecidos. Pode ser uma tarefa também auxiliar da teologia: divulgar o que está realmente acontecendo, onde o Evangelho está sendo vivido neste momento, para dá-lo a conhecer, para que se conheçam mutuamente, porque do contrário podem perder ânimo ou não ter muitas perspectivas. Uma vez que se unam, formem associações, cada qual com sua tendência, seu modo de espiritualidade. Não espero muito do clero. Então é uma situação histórica nova.
Mas acontece que os leigos deixaram de ser analfabetos; isso já faz tempo. Eles têm uma formação humana, uma formação cultural, uma formação de sua personalidade que é muito superior ao que se ensina nos seminários. Ou seja, têm mais preparação para agir no mundo, mesmo que não tenham muita teologia. Se poderia dar mais teologia, mas isso é outro assunto. Agora, não vamos pensar que amanhã quem vai colocar em prática o programa de Aparecida serão os sacerdotes. Eu não conheço tudo, mas levando em conta os seminários que eu conheço, as dioceses que eu conheço, seriam necessários 30 anos para formar um clero novo. E quem vai formá-lo? Para os leigos é diferente. Há muitíssimas pessoas dispostas, e pessoas com formação humana, com capacidade de pensar, de refletir, de entrar em relação e contatos, de dirigir grupos, comunidades ... Mas muitos ainda não se atrevem, não se atrevem. Mas aí está o futuro.
Para terminar, uma anedota: me chamaram para ir a Fortaleza, no nordeste do Brasil. Atualmente, Fortaleza é uma cidade muito grande - um milhão de habitantes (sic!). A Santa Sé havia afastado, marginalizado o cardeal Aloísio Lorscheider, mandando-o ao exílio em Aparecida, que é um lugar de castigo para os bispos que não agradam. Então, veio um sucessor, Dom Cláudio Hummes, que agora é cardeal em Roma. Cláudio Hummes suprimiu tudo o que havia de social na diocese, despediu todos: 300 pessoas com a longa trajetória de serviço, com capacidade humana. Um dia me chamaram: eram 300, chorando, lamentando: "e agora não podemos fazer nada. E agora, o que vai acontecer?". Eu lhes disse: "mas, vocês são pessoas perfeitamente humanizadas, desenvolvidas, com uma personalidade forte. Tiveram êxito em sua família, tiveram êxito em suas carreiras, em seus trabalhos profissionais. Do que agora se preocupam se o bispo quer ou não quer? Por que se preocupam se o pároco quer ou não quer? Vocês têm formação suficiente e a capacidade. Por que não agem, não formam uma associação, um grupo, de forma independente? Porque o Direito Canônico - o que muitos católicos não sabem - permite a formação de associações independentes do bispo, independentes do pároco. Isso não se ensina muito nas paróquias, mas é justamente algo que é importante. Então, vocês podem muito bem reunir 4, 5 pessoas para organizar um sistema de comunicação, um sistema de espiritualidade, um sistema de organização de presença na vida pública, na vida política, na vida social: 300 pessoas com esse valor. Se paga, tem que pagar a 5, cada um vai gastar nem sequer 2% do que ganha, ou seja, podem muito bem manter 5 pessoas dedicadas a isso. E vão escolhê-los entre 25 e 30 anos porque essa é a época criativa. Até os 25 o ser humano se busca. A partir deste momento termina seus estudos e já conseguiu um trabalho. Então já quer definir sua vida: estes são os que têm capacidade de inventar. Todas as grandes invenções se deram por gente com essa idade". Mas não o fizeram. Por quê? O que acontece? Por que tanta timidez? "Vocês que são tão capazes no mundo, na Igreja nada!" Não se sentiam capazes, necessitavam do bispo que lhes dissesse o que fazer, necessitam de sacerdotes que lhes digam o que fazer. Como é possível? Certamente, não se lhes ensinou. Podem ser adultos na vida civil e crianças na vida religiosa.
Mas nós podemos! Nós podemos fazê-lo e multiplicá-lo em todas as regiões que vamos conhecer. Então, o futuro depende de grupos de leigos semelhantes, que já existem mesmo que ainda estejam muito dispersos. O futuro está aí, é tarefa de todos, começando pelos jovens. No Brasil há neste momento seis milhões de estudantes universitários. Dois milhões, são de famílias pobres - são pobres os que ganham menos de três salários mínimos, porque com menos disso não se pode viver decentemente. Dois milhões. E qual é a presença do clero? Pouquíssima. Alguns religiosos. Das dioceses? Nada. E ali está o futuro. São jovens que estão descobrindo o mundo. Claro, há alguns que entram no mundo das drogas, que se corrompem, mas é uma minoria. Ou seja, o conjunto são pessoas que querem fazer algo na vida. Se não conhecem o Evangelho não vão viver como cristãos. É preciso explicar, mas não explicar com cursos de teologia, mas explicar fazendo, participando de atividades que de fato são realmente serviços aos pobres. Isso é possível fazer.
Tarefa da teologia. Então será preciso mudar um pouquinho: menos acadêmico, mais orientado para o mundo exterior ... com todos os que não estão mais na rede de influxo da Igreja, que não recebem. Mas, presença nisso. E uma teologia que se possa ler, sem ter formação escolástica, porque anteriormente se não se tinha formação aristotélica não se podia entender nada dessa teologia tradicional. Bom, a filosofia aristotélica morreu, ou seja, os filósofos do século XX a enterraram. Agora temos liberdade para ver no mundo como nos abrimos.
Obrigado pela atenção de vocês!"
Conferência transcrita por Enrique A. Orellanae no dia 14-11-2010.
Disponível e. o. no site do CEBI [acesso em: 22 mar. 2011].

segunda-feira, 28 de março de 2011

OBRIGADO, PADRE COMBLIN!

Poucos dias antes de voltar para a casa de seu Criador em 27-8-1999, Dom Helder Camara, sendo visitado por padre Marcelo Barros, disse:
“Não deixem cair o profetismo!
Despediu-se ontem, dia 27 de março de 2011, durante um encontro com as CEBs no interior da Bahia, Padre José Comblin. Ele foi um daqueles que levou muito a sério este pedido do profeta dos nossos tempos, Dom Helder. Até os últimos dias de sua vida e já com 88 anos de idade, Padre Comblin, dotado de uma brilhante inteligência e revestido de uma simplicidade e humildade evangélicas, se dedicou de corpo e alma à causa das minorias, dos empobrecidos e injustiçados, estando sempre do lado deles e vivendo em condições verdadeiramente franciscanas. Ao mesmo tempo, e justo por causa desta sua opção clara de vida, foi um exímio interrogador da Igreja oficial que tanto se distancia da realidade da vida das pessoas, ofuscando os principais valores evangélicos, nos deixados por Jesus. Padre Comblin acreditava profundamente na força dos leigos, como podemos ler num de seus últimos pronunciamentos, proferido em San Salvador no dia 18 de março de 2010, por ocasião da celebração dos trinta anos de morte do Dom Oscar Romero (assassinado em 24-03-1980):
“Mas, nós podemos! Podemos multiplicar em todas as regiões grupos de leigos engajados. Esta é a nossa tarefa. Eu digo: Os leigos são pessoas perfeitamente humanizadas, desenvolvidas. Têm êxito em sua família, em suas carreiras e seus trabalhos profissionais. Porque esperar o bispo ou o pároco? Porque não atuar, formar uma associação, um grupo, em forma independente? O próprio Direito Canônico permite a formação de associações independentes do bispo, do pároco. Pode-se muito bem juntar quatro ou cinco pessoas para organizar um sistema de comunicação, de espiritualidade, de organização de presença na vida pública, na vida política, na vida social. Porque tanta timidez? Os leigos são tão capacitadas no mundo, e na Igreja ... nada! Como é possível ser adultos na vida civil e crianças na vida religiosa?!”

Obrigado Padre Comblin pela coragem que nos tem dado.
Agora a peteca está conosco de “não deixarmos cair o profetismo!”

Geraldo Frencken
(Teólogo e integrante do nosso Movimento)

domingo, 27 de março de 2011

Faleceu, hoje de manhã, o Pe. José Comblin

Pe. José Comblin (*22 mar. 1923 - 27 mar. 2011)
Vejam a nota do Pe. José Oscar Beozzo

Compartilhamos o luto de inúmeras/os irmãs e irmãos da caminhada sobre a perda desse grande profeta de nossos dias.
Alimentamos a esperança de que sua semente ainda trará muito fruto, enfim, também atraves de nosso movimento que visava convidá-lo ainda a Fortaleza para mais uma assessoria ...

Por um imaginário coerente de Jesus e condizente com a fé

Hoje em dia, em tempos chamados de “pós-modernos”, estamos vivendo num mundo cheio de “perplexidades”: de um lado notamos ainda um crescente interesse em religião, sim uma verdadeira efervescência de sentimentos religiosos e buscas de “experiências religiosas”. As pessoas têm uma sede ardente de “sentir Deus”. Tal sede frequentemente os leva a um tipo de sincretismo religioso de cunho esotérico que representa uma prática de “retalhar”, de forma individualista, sua própria religião de diferentes elementos de diversas crenças religiosas.  Em clima de atual competitividade onipresente e vinculado a  um ferveroso impulso missionário bastante questionável, tal prática religiosa assume a forma de uma verdadeira “luta dos deuses” (para lembrar uma expressão de Max Weber).
Por outro lado, sobretudo na ótica da Igreja Católica e das Igrejas da Reforma, chama atenção  a evasão contínua de fiéis, uma tendência de desinstitucionalizar a vivência religiosa, um crescente desinteresse pela doutrina, pela compreensão de sua fé como pelo código moral defendido pela Igreja. Tal evasão desemboca na flutuação de fiéis (ou crentes) entre as mais diversas igrejas ditas “cristãs” em uma espécie de “teste de degustação” do sentimento religioso, especialmente nas periferias das “megalópoles” urbanas - para, enfim, terminar em desistência de qualquer prática comunitário-eclesial.
Depois que, ao menos para boa parte da população mundial, se vaporizaram a certeza absoluta do conhecimento científico e a crença ingênua e ilimitada no potencial tecnológico e no crescimento econômico do homem em função de uma solução definitiva dos problemas que atormentam a humanidade, também os cristãos se vêem diante de uma consciência de uma fé infantilizada, enfraquecida e fragmentada e andam confusos em o que realmente acreditar.
Tal confusão se manifesta especialmente com relação à figura  (histórica) e às imagens (religiosas) de Jesus Cristo, confusão reforçada por pesquisas pouco sérias, publicadas de forma sensacionalista em livros e artigos de revistas (“Super-Interessante, “Época”, “Veja” etc). Como fontes de inspiração muitas vezes servem os apócrifos recém-publicados (cf. a “descoberta” do Evangelho de Judas). Sem muitos desses autores terem clareza da distinção entre o que a tradição de pesquisa bíblico-cristológica chama o “Jesus histórico” e o “Cristo da fé”, descreditam, em repugnância polêmica às doutrinas cristológicas da Igreja (como a respeito da virgindade de Maria, dos milagres e da ressurreição de Jesus, das aparições e do túmulo vazio etc.), uma compreensão coerente e libertadora da fé da Igreja.
No prefácio de seu livro “O Jesus Histórico: um Manual” (Edições Loyola, 2002, p. 13), Gerd Theissen e Anette Merz iniciam sua pesquisa com referência a esse clima religioso atual e sua repercussão para imagens hodiernas de Jesus de Nazaré que circulam em nosso meio:
"Em época recente, o estudo do Jesus histórico muitas vezes se vinculou com a mensagem de que não era teologicamente importante dedicar-lhe um exame detalhado. Decisivo era o Cristo anunciado, e bastava assegurar-se de que ele não estava em contradição com o que sabemos sobre o Jesus histórico – o que era muito pouco. Tal mensagem encontrou repercussão. Hoje muitas pessoas ficam perdidas, quando tentam esclarecer com argumentos o que sabemos sobre o Jesus histórico, o que apenas conjeturamos e o que não podemos saber. Trabalhos que pretendem expor o verdadeiro Jesus por trás dos supostos falseamentos da Igreja preenchem essa lacuna do mercado de conhecimento, em forma de livros edificantes que, a partir dos anseios religiosos e valores éticos de nosso tempo, acabam por criar um novo Jesus. De ambos os lados, o trabalho paciente da pesquisa está sendo desconsiderado. Mas numa sociedade esclarecida e uma Igreja aberta, que deseja prestar conta de seus próprios fundamentos, este trabalho se impõe."
Por isso é tarefa da formação catequético-teológica hoje, como sempre foi desde as advertências de Paulo em suas cartas contra uma falsa “espiritualização” da fé em Cristo bem como dos autores dos evangelhos contra um esquecimento da humanidade de Jesus de Nazaré, uma fundamental “desmitologização” (ou desmitificação) dos imaginários de Jesus Cristo. Contrariando uma falsa estilização religiosa de Jesus de Nazaré (especialmente de sua morte de cruz), afirma Paulo em 1 Cor 1,23: “nós, porém, anunciamos Cristo crucificado” e em 1 Cor 2,2: “Pois não quis saber outra coisa entre vós a não ser Jesus Cristo, e Jesus Cristo crucificado.” Além dessas tendências – ontem como hoje “neognósticas” ou “esotéricas” – temos que nos deparar dentro das próprias comunidades cristãs e fora delas, por causa do espírito científico-moderno, com uma certa “materialização” de nossa fé em Jesus. Esta parte de uma concepção historicista das fontes kerygmáticas - o que desemboca inevitavelmente em “fundamentalismo”. E isso significa, nas palavras de Paulo em outro contexto, “tornar inútil a cruz de Cristo” (1 Cor 1,17).
Por essa razão, haveremos de re-criar um imaginário de Jesus que seja coerente com nossa profissão de fé nele como o “Cristo” e “Filho de Deus”, o "Verbo encarnado". Senão, temos de nos deparar com as palavras severas de Paulo em 1 Cor 11,4: “Com efeito, se vem alguém e vos proclama outro Jesus diferente daquele que recebestes ou um evangelho diverso daquele que vos proclamamos, ou se acolheis um espírito diverso do que recebestes ou um evangelho diverso daquele que abraçastes, vós o suportais de bom grado” (cf. também Gl 1,3-6).

Michael Kosubek, teólogo e integrante do Movimento de Formação Cristã de Fortaleza
(michaelkosubek@oi.com.br)

sábado, 26 de março de 2011

“Queremos ver Jesus!” – Que Jesus queremos ver?

“Permaneçam unidos a mim”, é uma das célebres frases que o autor desconhecido do 4º Evangelho pôs na boca de Jesus (Jo 15,4). Assim, a princípio não estranhamos o fato de que, ao longo dos últimos anos, muitos bispos católicos – preferencialmente de mãos postas, olhar compenetrado e voz embargada – venham insistindo, em suas homilias e diretrizes pastorais, na necessidade imperiosa de que se proporcione aos fiéis em culto, catequese e pastoral uma “experiência pessoal com Jesus” que pudesse se tornar o fundamento para uma relação inabalável entre o “mestre” e o “discípulo” (e, sobretudo, entre o crente e a Igreja que lhe proporcionou tal experiência). Não se precisa possuir nenhum dom analítico especial para adivinhar a verdadeira razão desta necessidade descoberta, digamos: um tanto tardiamente, na Igreja Católica: É a preocupação dos pastores com a perda de fiéis para as denominações “rivais” evangélicas onde o convertido, supostamente, “encontra” o Senhor Jesus. Os bispos devem ter-se dado conta – isso dói, viu! – de que o bordão gasto da mera pertença institucional à Igreja como garantia de salvação já não funciona mais para muitos leigos. Para eles, é inútil afirmar que “a plenitude dos meios salvíficos objetivos se encontra somente na Igreja Católica” (a graça eficaz dos 7 sacramentos, por exemplo); espera-se hoje de um ambiente religioso, antes de tudo, que proporcione uma experiência subjetiva com o próprio Cristo que toca profundamente a sentimentalidade da pessoa humana. Daí, então, a tardia valorização da eclesiologia joanina (“Eu sou a videira, vocês são os ramos”) pelo episcopado católico, acompanhado pelo plágio desavergonhado de práticas litúrgico-homiléticas sentimentalistas e euforizantes criadas por outras igrejas. 

O lema “Queremos ver Jesus!” (Jo 12,21), de uma campanha evangelizadora lançada não muito tempo atrás pela CNBB, dá uma indicação do que se procura acentuar. No entanto, devemos perguntar pela qualidade cristã deste “encontro com Cristo”, festejado nas diversas igrejas, quando falta – tanto aos promotores quanto à clientela do espetáculo – uma informação teológico-exegética segura sobre quem foi, realmente, Jesus de Nazaré e qual o sentido mais profundo das afirmações cristológicas a respeito dele que se consagraram na Tradição Eclesial mais antiga. Corre-se o risco, em uma estratégia evangelizadora puramente orientada para resultados numéricos, de se oferecer um “Jesus” a gosto da multidão e de cada um(a), uma imaginação infiel àquilo que a pesquisa histórica sabe acerca de Jesus, hoje, caricatura esta que corresponde diretamente aos desejos (infantis e narcisistas) de indivíduos assustados e desorientados diante da “Babilônia” contemporânea. A necessidade psíquica, premente em pessoas imaturas, de esquecer ou negar as realidades ameaçadoras da existência (morte, doenças, violência, vício, miséria, acidentes) conduz, freqüentemente, a um “Nosso Senhor” onipotente, interventor milagroso e protetor supremo diante de todo mal, sem o qual o crente se sente um “nada”.* Motivação principal para esta procura ”religiosa” não é, em absoluto, a vontade consciente de seguir o exemplo de Jesus e transformar para melhor a realidade sofrida deste mundo; é antes um desejo inconfesso de querer ser poupado do grande mal onipresente, através de ofertas e sacrifícios devocionais ao “Todo-Poderoso”.

A alimentação deliberada, por parte de sacerdotes e bispos, de uma devoção religiosa oriunda de uma expectativa psíquica infantil torna-se sobremaneira preocupante em uma sociedade como a nossa, marcada por gritantes desigualdades sociais, altíssimos índices de violência e de mortandade infanto-juvenil e espantosa indiferença da consciência ética de muitos cidadãos. As Conferências Episcopais Latino-Americanas vem insistindo, desde Medellín (1968) que a ação evangelizadora em nosso continente precisa partir da realidade concreta de nossos povos. Aqui se abre uma dicotomia entre o que se lê nos documentos da CNBB e do CELAM e o que se vê nos templos e nos salões paroquiais. Devemos ter clareza dos vários níveis em que se deve envolver a nossa “busca por Jesus”: (1) Quem foi Jesus de Nazaré, historicamente? – Quem informa aqui com competência é a comunidade internacional de pesquisadores e exegetas, e deve-se ter a humildade de escutar e aceitar os resultados convergentes e confirmados desta pesquisa. (2) Que Jesus precisamos mostrar aos povos latino-americanos, se quisermos ajudá-los em sua caminhada rumo a uma vida em plenitude? – Aqui se juntam, na índole salvífico-libertadora da Igreja, duas fidelidades: aquela que escuta honestamente os resultados da pesquisa bíblica com aquela que escuta os clamores e os anseios daqueles que mais sofrem e menos são (lembram dos “últimos que serão os primeiros”?). (3) Que Jesus queremos ver? – Aqui precisamos de uma introspecção mais honesta, de uma auto-análise mais aguda que nos revele o quanto de conteúdo psíquico mal reconhecido e mal resolvido está por trás de nossas “imagens” de Cristo, no sentido não de prescindir totalmente delas (não se pode viver sem imaginação), mas de não tomá-las simples e acriticamente como “a” verdade, só porque um poderoso desejo infantil as alimenta. 

O Movimento em prol de uma Formação Teológico-Catequética de Qualidade para o Laicato Cristão, recém-criado em Fortaleza (moviformcrisfor@gmail.com), pretende problematizar bandeiras aparentemente insuspeitas e piedosas como “Queremos Deus!” (Que Deus?) e “Queremos ver Jesus!” (Que Jesus?), questionando o conteúdo ideológico oculto no fundo de muitas apresentações reducionistas de Jesus. Existe determinado tipo de “formação” catequética, muito procurada hoje nas igrejas, que esconde, deliberadamente, os aspectos conflitivos e dramáticos da existência terrena de Jesus (p.ex. suas tentações, a incompreensão da família, suas contestações do poder religioso e político da época que lhe valeu ser perseguido), seu papel profético-libertador e o caráter martirial de sua morte, em benefício de um Jesus puramente milagreiro, consciente de sua própria divindade e focado unicamente em sua missão de morrer para remir os pecados da humanidade. Tal (de)formação que não guarda a verdade integral sobre o Cristo precisa ser denunciada em público. Não basta ler a Bíblia, nas paróquias (por mais divina que a Lectio seja...): É preciso compreender o que se está lendo. Caso contrário, cada um(a) projeta o que quer para dentro do texto sagrado. Uma instrução teológica séria e comprometida se faz necessária, não um fazer-de-contas que se reduz a mini-cursos e alguns retiros! Façamos nosso o clamor do etíope em At 8,31: “Como posso entender, se ninguém me explica?!” O cristão leigo, tantas vezes proclamado pelo clero “protagonista” da nova evangelização, carece, no entanto, de base teológica segura para interpretar os dados da fé e aplicá-los criativamente à realidade secular complexa que encontra à sua frente. Assessorá-lo nisso é, pois, a nossa nobre missão.

*A frase joanina “Sem mim nada podeis fazer” (Jo 15,5), quando não interpretada dentro do contexto da teologia peculiar do 4º Evangelho, pode levar a um pessimismo antropológico que produz a sensação de impotência no ser humano – e o faz entregar toda responsabilidade por seus problemas a Jesus. 

Carlo Tursi, teólogo e integrante do Movimento em prol de uma Formação Cristã de Qualidade (tursicarlo@gmail.com)

sexta-feira, 25 de março de 2011

Carta Aberta sobre a Formação Teológico-Catequético-Pastoral dispensada ao Laicato Cristão

Ao Sr. Arcebispo de Fortaleza, Dom José Antônio Aparecido Tosi Marques,
Ao Diretor Geral da Faculdade Católica de Fortaleza, Pe. Antônio Almir Magalhães,
A todo o Povo de Deus que forma esta Igreja Particular:


INTRODUÇÃO
Somos cristãos e cristãs, entre leigos, religiosos e padres, que participam ativamente da caminhada eclesial e se engajam em diversas pastorais. Já há algum tempo, andamos preocupados com a Igreja de Cristo em Fortaleza quanto à maneira como vive sua missão evangelizadora no mundo de hoje. Particularmente, nos preocupa o preparo catequético-teológico dos “operários na Vinha”, agentes e testemunhas do Reino de Deus nas realidades seculares deste nosso mundo.
Desde o Concílio Vaticano II, a formação dos cristãos leigos encabeça a lista das prioridades para a Igreja Católica. Recentemente, fundou-se a Faculdade Católica de Fortaleza (FCF), com sede no Seminário da Prainha, como resultado de uma fusão dos dois institutos anteriores, a saber: o ITEP (Instituto Teológico-Pastoral do Ceará) e o ICRE (Instituto de Ciências Religiosas). Além da Faculdade contamos, há 40 anos, com a formação básica e avançada de catequistas pela ESPAC, seguindo a linha da Catequese Renovada. A tradição do concílio e das conferências episcopais latino-americanas de Medellín a Aparecida, bem como o testemunho profético de fé de figuras locais proeminentes como Pe. Cícero Romão, Dom Helder Camara e Dom Aloísio Lorscheider c o m p r o m e t e m, a nosso ver, os responsáveis por essa formação, especificamente a direção da FCF e seu chanceler, o Sr. Arcebispo. Essa tradição eclesial promove uma teologia latino-americana engajada na causa salvífico-libertadora do Evangelho mediante a opção pelos pobres, uma teologia católico-ecumênica e em contínuo diálogo crítico com o mundo atual e as ciências, uma teologia profundamente sintonizada com “as alegrias e esperanças, as tristezas e as angústias” de mulheres e homens em deparo com as grandes questões da nossa época.

NOSSOS QUESTIONAMENTOS
No entanto, não é isso que vemos acontecer. Elencamos, em seguida, algumas observações baseadas em fatos recentes e perguntamos o que tais fatos podem significar para um projeto de formação humana e cristã de qualidade para o Povo de Deus:
  • Expectativas formuladas e esperanças suscitadas pela dinâmica ao longo da construção coletiva do Projeto Político-Pedagógico (PPP), em 2006 e 2007, com a finalidade de alicerçar uma faculdade nova e unificada, encontram-se hoje, diante da realidade criada pela FCF e, em parte, imposta pelo MEC, frustradas porque engavetadas e esquecidas nos arquivos da instituição.
  • Surpreende-nos que cursos bem procurados de especialização [pós-graduação latu sensu] em psicologia da religião e ciências da religião simplesmente sumiram da agenda acadêmica e, além disso, lamentavelmente, um curso solicitado ao MEC de especialização em Bíblia e de graduação em ciências da religião não tem sido autorizado.
  • De 2009 ao presente momento está em curso, na FCF, uma radical reestruturação do quadro docente, justificada formalmente com a necessidade de saneamento financeiro e com a exigência, da parte do MEC, de uma titulação acadêmica adequada dos professores. Contudo, chama atenção o fato de que as demissões resultantes desta reestruturação atingiram quase exclusivamente teólogos leigos ou padres casados, reconhecidos por sua excelência na prática de ensino, engajados nas comunidades eclesiais e comprometidos com a fé da Igreja.
  • Nota-se um esvaziamento progressivo de alunos, sobretudo no turno da noite (antigo ICRE). Ouvem-se muitas queixas sobre uma significativa queda na qualidade do ensino, nas disciplinas bíblico-teológicas. Respira-se um clima de preocupante desânimo entre discentes e docentes.
  • Mais alarmante, porém, parece-nos ser o crescente isolamento deste espaço de formação teológica. Constatamos atividades formativas não coordenadas, particularizadas e pontuais, para não falar do baixo teor reflexivo e da ingenuidade hermenêutica no estudo da Sagrada Escritura e dos documentos oficiais do Magistério. Após diversas tentativas de alertar os responsáveis acerca dessa situação perguntamo-nos, perplexos, para onde uma formação teológica tão defasada pretende levar o Povo de Deus de Fortaleza, sedento da palavra viva, encarnada na realidade e compreendida de forma madura?
  • Não podemos deixar de reconhecer neste conjunto de medidas uma tendência à clericalização da Igreja de Fortaleza. Nisso se encaixam fatos e tendências eclesiásticos como a substituição da antiga diretoria mista (padres-leigos) por uma chapa formada exclusivamente de clérigos e a adoção de atitudes que levantam suspeita de censura que pode comprometer a liberdade de pesquisa e de expressão na Academia. Tais retrocessos reabrem o fosso, existente no catolicismo pré-conciliar, entre clero e laicato, esfera sagrada e profana, fé e política, Igreja e mundo, graça e pecado. Diante disso, indagamos: Qual o perfil de cristão que a Igreja – e a Igreja somos todos nós – deseja formar para enfrentar os desafios da sociedade contemporânea, com sua efervescência religiosa confusa, de um lado, e seu espírito secularizado, individualista e consumista, do outro?
  • Sentimos necessidade de lembrar aos responsáveis pela formação teológica do Povo de Deus de Fortaleza, que a teologia só pode nascer da fé do povo servindo à Palavra de Deus que nos liberta de todas as escravidões e nos apaixona pela missão.
  • Quanto à relação entre o clero e o povo cristão leigo, é bom não esquecermos que, de acordo com o Vaticano II, por causa do batismo, todos os cristãos usufruem de total igualdade, porque o Espírito Santo é o mesmo em Cristo e nos cristãos e que o “sacerdócio ministerial” não está acima do “sacerdócio régio” e muito menos acima da Palavra.
PALAVRAS FINAIS
Eis o que nos inquieta acerca do rumo que a formação do povo cristão, em Fortaleza, está tomando. Com esta Carta Aberta queremos chamar a atenção dos responsáveis diretos, mas também a de todos os fiéis – leigos, religiosos e padres –, corresponsáveis pelo sacerdócio batismal, para os perigos de uma formação cristã defasada e inadequada, caso queiramos cumprir a nossa missão transformadora no mundo de hoje. Convidamos todos para o debate franco e urgente dessas e de outras questões que dizem respeito à qualificação do nosso testemunho cristão. Tal debate se presta à construção de uma Igreja “Comunhão-e-Participação”, onde não prevalece o silêncio obsequioso e a uniformização, mas aquela unidade viva que representa toda a diversidade enriquecedora do povo e de sua fé.
Fortaleza, em fevereiro de 2011.
[assinaturas em anexo]

Apoie-nos também com a sua assinatura eletrônica por nos enviar seu nome, seu engajamento ou função (pastoral ou social) e seu local!

A N E X O
Adília Maria de Carvalho, CEBI (aprofundamento), Fortaleza
Agean Monteiro de Sousa, Área Pastoral São Francisco de Assis, Fortaleza
Alba Maria Pinho de Carvalho, Assessora do CEBI (Curso de Verão), Fortaleza
Aldenor Menezes Angelim, Comunidade Campo América, Fortaleza
Alexandre Carlos Ferreira Lins, ex-aluno da ESPAC, Fortaleza
Alice Maria da S. Rodrigues, catequese/João XXIII, Fortaleza
Ana Alves da L. Valentin, Área Pastoral da Barra do Ceará, Fortaleza
Ana Cely Machado de Sousa, grupo de oração e liturgia (Paróquia N. S. das Dores), Fortaleza
Ana Clara Pinto, Catequese, ex-aluna do ICRE, Fortaleza
Ana Cristina de O. Pereira, Área Pastoral São Francisco de Assis, Fortaleza
Ana Lourdes de Freitas, CEB’s, Fortaleza
Ana Maria Lima, Pastoral Carcerária, Fortaleza
Ana Neuza de Farias Paiva, Juventude Franciscana, Fortaleza
Anatátia de Sousa Jerônimo, Catequese, Fortaleza
Andréa Lima Carneiro, Especialista em Ciências da Religião, Fortaleza
Antônia Arleth Sousa Moreira, ex-aluna do ICRE, acessória bíblica do CEBI, Fortaleza
Antônia Maria da Silva, leiga, Fortaleza
Antônia Maria Marques Pereira, ECC (Área Pastoral da Barra do Ceará), Fortaleza
Antônia Socorro de Souza, leiga, Fortaleza
Antônio Carlos Machado, ex-professor do ICRE, Fortaleza
Antônio Leonor de Maria, Líder Pastoral da Criança, Fortaleza
Antônio Rodrigues dos Santos, CC Nova União, Fortaleza
Antônio Rubens Pompeu Braga, ex-aluno da ESPAC, Fortaleza
Antônio Sabino da S. Neto, aluno da UFC em Ciências Sociais, Fortaleza
Antônio Sérgio Bezerra Ferreira, Pastoral Operária/Palmeiras, Fortaleza
Ariadna Ramos Ribeiro, Movimento Familiar Cristão, Fortaleza
Ariosto Mota Moreno Filho, Bacharelado de Teologia na FCF, Fortaleza
Bete Mary Flynn, Ir. de Notre Dame, facilitadora do CEBI, Grupo Agar, Fortaleza
Carlo Tursi, Coordenação Arquidiocesana das CEB’s, Fortaleza
Célia Maria de Sousa Lima, ex-aluna da ESPAC, Fortaleza
Celina Maria Torres Portugal Bezerra, Pesquisadora das CEB’s, Fortaleza
Cícera da Silva Martins, CEB’s PAMEN, Pastoral da Criança, Fortaleza
Clara da Conceição Cruz de Sousa, Missionária (Paróquia N. S. das Dores), Fortaleza
Claudete S. Morais Frencken, leiga, “O Grupo”, Fortaleza
Cleiton Leão de Araújo, aluno da FCF, Fortaleza
Cleomar Ferreira da Conceição Alves, catequista, ex-aluna da ESPAC, Fortaleza
Cristiane Lima, Pastoral da Criança/Mag. Alves, Fortaleza
Damiana Carneiro do Nascimento, Bacharelado em Teologia – FCF, Fortaleza
Domingo Cassain Sales, CEB’s/Paróquia Cristo Rei, Fortaleza
Domingos Sávio Régis Alves, aluno do CEBI, Escola Bíblica Santo Dias, Fortaleza
Doris Holanda Sampaio, Renovação Cristã do Brasil, Fortaleza
Edvane Barros Maia, CEBI – acessória bíblica, Fortaleza
Eliana M. Vasconcelos, aluna da FCF, Fortaleza
Elianira Alves Duarte, Pastoral do Idoso (N. S. dos Remédios), Fortaleza
Elierton Marques de Menezes, ex-funcionário do ICRE, Fortaleza
Eliete Alves Rodrigues, ex-aluna do ICRE, Fortaleza
Elisabeth Vieira da Silva Bezerra, Pastoral da Saúde – Palmeiras, Fortaleza
Eremita Brito Siebra, Assessora do CEBI, Fortaleza
Érica Maria Torres Pompeu, Filósofa, Estudante de Teologia – FCF, Fortaleza
Ernandes Alves de Lima, Pastoral do Idoso (N. S. dos Remédios), Fortaleza
Fátima Maria Carvalho Rocha de Moura, teóloga, facilitadora do CEBI, Fortaleza
Felipe da Silva Barros, voluntário da Pastoral da Criança, Fortaleza
Fernanda Gonçalves de Souza, Pastoral do Povo da Rua, Fortaleza
Fernando Antônio Pinto, ex-aluno de ESPAC e ICRE, Fortaleza
Fernando Henrique da Silva, Área Pastoral São Francisco, Fortaleza
Frances de Melo Mamede, Renovação Cristã do Brasil, Fortaleza
Francisca Antônia Ferreira Pinheiro Sousa, leiga, Fortaleza
Francisca das Chagas de S. Lima, Pastoral da Juventude, Fortaleza
Francisca de Fátima Lima Carneiro, Legião de Maria, Fortaleza
Francisca Francine Antunes Oliveira, CEBI, Fortaleza
Francisca Idalice de Sousa Santos, Iniciação cristã, Crisma, Fortaleza
Francisca Irismar dos Santos Lima, Catequese (N. S. dos Remédios), Fortaleza
Francisca Márcia de Oliveira Barros, Catequese, aluna da ESPAC, Fortaleza
Francisca Maria Mendes Sousa, Grupo Agar, Fortaleza
Francisca Régia de Maria, Educadora Social da Pastoral do Menor, Fortaleza
Francisca Regina de Almeida Sales, MESC, Dízimo (Paróquia N. S. das Dores), Fortaleza
Francisca Verônica Chagas Araújo, Assessoria Bíblica do CEBI, Fortaleza
Francisco Dário de S. Gomes, ex-funcionário do ICRE, Fortaleza
Francisco Davi de Morais Furtado, pastoral da crisma (Paróquia N. S. das Dores), Fortaleza
Francisco Evandro de Alencar, Bacharelado em Teologia – FCF, Fortaleza
Francisco Fernando Martins, ex-aluno do ICRE, Fortaleza
Francisco Garcia Maciel, ex-contador do ICRE, Fortaleza
Francisco José Cirilo, Pastoral Operária, Fortaleza
Francisco Leite de Sousa, Aluno CEBI, Fortaleza
Francisco Roberto Bezerra Leita, ex-aluno da ESPAC, Fortaleza
Francisco Silva Furtado, Catequese, Fortaleza
Francival Pires Pereira, aluno do ICRE (FCF), Fortaleza
Frei Genilson dos Santos, OFM, Bacharelado de Teologia na FCF, Fortaleza
Frei Marcos Carvalho, OFM, Fortaleza
Geralda Alexandrino do Nascimento Serra, Catequese, Fortaleza
Geraldo Frencken, professor, Fortaleza
Gerd Günther Buttgereit, aluno da Faculdade Católica de Fortaleza (FCF), Fortaleza
Graciela Sales Cassain, Igreja Cristo Rei, Fortaleza
Iara Féras Araújo, CEB’s (Área Pastoral Praia do Futuro II), Fortaleza
Inés de Fátima Souza Alves, Missionárias da Mãe da Visitação, Fortaleza
Ivone Maria Aragão Correia, aluna da FCF, Fortaleza
Ivonilde de Castro Calhado, Renovação Cristã do Brasil, Fortaleza
Jaefson Rodrigues Rodrigues, ex-professor do ICRE, facilitador da ESPAC, Fortaleza
Jean Rodrigues Braga, Bacharelado de Teologia na FCF, Fortaleza
Jean Souza dos Anjos, ex-aluno do ICRE, Fortaleza
Jeane Freitas, Área Pastoral da Barra do Ceará, Fortaleza
Joana D’Arc Martins de Lima, Área Pastoral da Barra do Ceará, Fortaleza
João Bezerra de Freitas, Bacharelado em Teologia – FCF, Fortaleza
João de Deus Filho, Igreja Santa Luzia, ex-aluno, Fortaleza
João Duarte de Siqueira, aluno da FCF, Fortaleza
João Leondenes Facundo de S. Júnior, Agente de Pastoral – catequista, Fortaleza
João Lino Neto, Pastoral do Povo da Rua, Fortaleza
José Airton de Maria, Coordenação das CEB’s, Fortaleza
José Clodoaldo Ferraz, Área Pastoral da Barra do Ceará, Fortaleza
José de Lins Oliveira, CEBI, ex-aluno da ESPAC, Fortaleza
José Edson Girão, aluno da FCF, Fortaleza
José Elin de Sousa, leigo, Fortaleza
José Gileno Neves Filho, leigo, Fortaleza
José Neyardo Alves de Araújo, Bacharelado de Teologia na FCF, Fortaleza
José Pereira da Silva Júnior, Catequista da Paróquia Senhor do Bonfim, Fortaleza
José Sampaio, Estudo Bíblico, Crisma (Área Pastoral da Barra do Ceará), Fortaleza
Josilene Queiroz do Nascimento, ex-aluna da ESPAC, Fortaleza
Juscelino Dias da Rocha, CEB’s Pici/Henrique Jorge, Fortaleza
Karen Luana Cazuza da Silva, Educadora Social da Pastoral do Menor, Fortaleza
Laudiano da Silva Martins, Pastoral da Juventude do Meio Popular, Fortaleza
Leyridiana Menezes da Silva, ex-aluna do ICRE, Fortaleza
Liduina Maria Gomes C. Branco, Pastoral Litúrgica, Fortaleza
Luciana H. L. Hees, Catequese, Fortaleza
Luis Eduardo Torres Bedoya, ex-professor da FCF, Fortaleza
Madyson Felipe Gomes Lima, Shalom português, Fortaleza
Marcello Tavares Holanda Bacharelado de Teologia na FCF, Fortaleza
Marcelo B. de Oliveira, Paróquia N. S. da Assunção, Fortaleza
Márcia Maria Araújo Martins, Facilitadora Bíblica do CEBI, aluna do ICRE, Fortaleza
Márcia Maria Bastos Pereira, professora, Fortaleza
Marcos Aurélio Martins de Araújo, Área Pastoral da Barra do Ceará, Fortaleza
Maria Aldamir de Almeida, Facilitadora do CEBI (Ir. de J. M.), Fortaleza
Maria Altina Gondim Rocha, Fortaleza
Maria Antônia Pereira P. Silva, Pastoral Carcerária, Fortaleza
Maria Antonieta Figueiredo Bezerra, ex-aluna da ESPAC, Fortaleza
Maria Barbosa Dias, aluna da ESPAC, Fortaleza
Maria Bezerra Fernandes, Catequese, Fortaleza
Maria Clebia Pinto Mote Maciel, liturgia, evangelização, MESC, Fortaleza
Maria Cleide Pires e Andrade, Irmã Dominicana, Fortaleza
Maria da Conceição M. de Sousa, CEBI, ex-aluna da ESPAC, Fortaleza
Maria das Dores Vieira Pereira, Coordenadora Comunitária pastoral da Criança, Fortaleza
Maria de Fátima Alves, CEBI, Fortaleza
Maria de Fátima Lucena Xavier, aluna da FCF, Fortaleza
Maria de Fátima Silva, catequista de N. S. dos Remédios, Fortaleza
Maria de Jesus Alves da Silva, Área Pastoral da Barra do Ceará, Fortaleza
Maria de Lourdes Pereira de Lima, Apoio Pastoral da Criança, Fortaleza
Maria do Carmo de Lima Carneiro, Legião de Maria (presidenta), Fortaleza
Maria do Céu do Nascimento Chaves, Bacharelado em Teologia – FCF, Fortaleza
Maria do Socorro da Silva Oliveira, Pastoral da Crisma, Pastoral da Liturgia, Fortaleza
Maria do Socorro Lobo Duarte, Pastoral da Criança e Pastoral do Idoso, Fortaleza
Maria Edite Silva, CEB’s, Fortaleza
Maria Edna Souza Barbosa, Catequese (teologia), Fortaleza
Maria Eliane Silva de Almeida, Centro de Movimento Popular, Fortaleza
Maria Eliete de Araújo, Grupo Agar, Fortaleza
Maria Elisa Montoya Guarin, Irmã Dominicana, Fortaleza
Maria Fátima de Souza Jerônimo, Catequese, ex-aluna do ICRE, Fortaleza
Maria Fátima Rodrigues Leite, CEBI (aprofundamento), Fortaleza
Maria Gomes de Sousa, Estudo Bíblico, Fortaleza
Maria Gorete de Almeida, Pastorais Sociais (Paróquia Nossa Senhora das Dores), Fortaleza
Maria Gorethe Sousa, Pastoral da N. S. de Fátima, Fortaleza
Maria Iêda de Oliveira, Legião de Maria (Coordenação), Fortaleza
Maria José de Silva Ramalho, MESC, Fortaleza
Maria Leuda Vasconcelos, CEB’s, ESCUTA Pici, Fortaleza
Maria Luiza Mota Machado, ex-professora do ICRE, Fortaleza
Maria Marlene de Aguiar, Secretaria do Trabalho do Desenvolvimento Social, Fortaleza
Maria Norberta Viana, facilitadora do CEBI, Fortaleza
Maria Regina de Sousa, Bacharelado em Teologia – FCF, Fortaleza
Maria Silêuda Silva dos Santos, Bacharelado de Teologia na FCF, Fortaleza
Maria Silvanira Simplício Rocha, Equipe de Liturgia – João XXIII, Fortaleza
Maria Valdicélia Cavalcante Lopes, Conselho Comunitário Monsenhor Souto, Fortaleza
Maria Valdinéia Morais Oliveira, Pastoral do Povo da Rua, Fortaleza
Maria Vieira do Nascimento, Legião de Maria, Fortaleza
Mariana Alves da Silva, CEBI, ex-aluna do ICRE, Fortaleza
Marília Santos de Menezes, leiga, Fortaleza
Marinete Jales Rodrigues, CEBI, Grupo Agar, aluna do ICRE,
Marta Maria V. do Nascimento, Bacharelado de Teologia na FCF, Fortaleza
Martha Mota Machado, ex-aluna do ICRE (extensão), Fortaleza
Michael Becker, docente da FCF, Fortaleza
Michael Kosubek, docente da FCF, Fortaleza
Milton César Almeida Carvalho Gomes, Grupo de Evangelização Teatral Emanuel, Fortaleza
Nazareno Duarte de Farias, Área Pastoral Francisco de Assis, Fortaleza
Paulo Rosemberg Farias, Área Pastoral da Barra do Ceará, Fortaleza
Pe. Ermanno Allegri, Adital, Fortaleza
Pe. José Álvaro Campos Vieira, Paróquia N. S. da Paz, Fortaleza
Pe. Lino Allegri, Pastoral do Povo da Rua, Fortaleza
Pe. Marcos Passerini, Pastoral Carcerária, Fortaleza
Pedro Melo, Bacharelado de Teologia – FCF, Fortaleza
Raimundo da Silva Paiva, PJMP, Fortaleza
Regina Célia Araújo de Freitas, Bacharelado em Teologia – FCF, Fortaleza
Regina Célia Terto, Ministra da Palavra Fortaleza
Rejane Nascimento de Sousa, Articulação da Paróquia N. S. da Assunção, Fortaleza
Rita de Cássia Costa Cid, aluna da ESPAC, Fortaleza
Roberto Rodrigues Costa, ex-professor do ICRE, Fortaleza
Ronaldo Rosendo Silva de Lima, CEBI, Pastoral do Matrimônio – Vila Peri, Fortaleza
Rubens Ubiratan da Costa, Catequese, Fortaleza
Sâmya Veras, Catequese, Fortaleza
Sérgio Alves de Nascimento, leigo, Fortaleza
Serly Melo Barros Souza, Catequese, Fortaleza
Stella Maris Sales, CEBI, Especialista em Ciências da Religião, Fortaleza
Tânia de Lucena Nóbrega, aluna da FCF, Fortaleza
Tânia Maria Marques Pereira. Estudo Bíblico (Área Pastoral da Barra do Ceará), Fortaleza
Tânia Maria Pinheiro de Almeida, Leiga Salvatoriana (Paróquia da Parangaba), Fortaleza
Teresinha D. Lima, Catequese, FC, Fortaleza
Tereza de Jesus Nascimento Pinto, leiga, Fortaleza
Terezinha Casimiro Albuquerque, facilitadora bíblica do CEBI, Fortaleza
Tiago Silva, Pastoral da Criança/Mag. Alves, Fortaleza
Vicente Vidal, Assessoria Bíblica do CEBI, Fortaleza
Victória Régia Amais de Paiva, CEBI, UFC-sociologia, Fortaleza
Walmir Gomes Pessoa, Bacharelado em Teologia – FCF, Fortaleza
Welma Andrade Wanderley, Grupo Agar, Fortaleza
Zilda Barros de Oliveira, Área Pastoral da Barra do Ceará, Fortaleza

Assinaturas "online":
Fabio Delano Vidal Carneiro, Equipe de articulação de N. S. da Assunção (Barra do Ceará), Fortaleza