quarta-feira, 7 de setembro de 2011

GRITO DOS EXCLUÍDOS E DAS EXCLUÍDAS




Após mais um ano do “Grito dos excluídos e das excluídas” e tendo participado do mesmo com muito prazer e alegria, não posso deixar de fazer minha reflexão a respeito do que senti, vi e observei e também do que não vi.
O “Grito” foi muito bem organizado e algumas coisas chamaram atenção. A abertura se deu às 08:30, ou seja, desde cedo as pessoas ali reunidas se agrupavam junto ao trio-elétrico, a partir do qual eram dirigidas as atividades, como leituras, orações, cânticos, avisos, depoimentos etc. . Charmosa a apresentação da criançada, alegrando a todos e todas. A presença das pastorais sociais, de diversos grupos e organizações, assim como de pessoas que apóiam estes movimentos populares, as faixas, o colorido das pessoas, a alegria estampada no rosto de todos e a naturalidade com a qual se enfrentava o sol escaldante, tudo isso inspira confiança e a certeza de que vale a pena insistir num projeto que vise a humanização da nossa sociedade. Considero muito positivo o fato que havia a distribuição de sacinhos com água gelada, a fim de refrescar todos e todas que precisavam deste serviço irmão. E ainda: foi bonito ver que haviam sido colocados sacos de plástico, para que ninguém precisasse jogar lixo na pracinha em frente e nos laterais da capela de São Francisco. Ótimo foi ver algumas moças juntando lixo nas ruas por onde passava mais tarde a caminhada: um gesto ecológico de alta qualidade! A comunidade do Lagamar soube-se incluída no “Grito” que sonha com uma sociedade mais igualitária, mas não ficou com aquele lixo no meio da rua como sempre se vê onde há concentrações de muita gente. Parabéns!
Tudo isso vimos, ouvimos, sentimos e muito apreciamos.
Mas permita-me fazer outras observações. É um pouco lamentável ver pouca gente num ato popular desta importância. Não é por falta de aviso por parte da organização. Não é possível que as pessoas que poderiam ou deveriam se interessar possam alegar que não sabiam: este foi o décimo sétimo ano do “Grito”, que nunca aconteceu em outra data a não ser no dia 07 de setembro, que por sua vez nunca deixou de ser um
feriado. E ainda é bom nos lembrar que o “Grito” é um movimento organizado a partir da e apoiada pela própria CNBB e seus órgãos, especialmente aqueles ligados às questões sociais. O Concílio Vaticano II tinha como suas duas afirmações mais fecundas a identificação da Igreja como “Povo de Deus”, e a outra que dizia que o lugar da Igreja é no mundo bem pertinho das pessoas, comprometendo-se especialmente com os empobrecidos e injustiçados, anunciando desta forma o desabrochar do Reino de Deus no meio de nós. As constituições conciliares Lumen Gentium e a Gaudium et Spes têm trabalhado esta temática exaustivamente há cinqüenta anos (!) e inúmeros documentos da Igreja aprofundaram a mesma temática. Pergunto por tanto: por que a quase total ausência por parte do clero, que insiste em não participar!? Sei e sou testemunho de que em muitas paróquias nem é dado o aviso do “Grito”! Penso que o povo tenha ao menos o direito de saber o que acontece no seio da Igreja! Eu gostaria somente que alguém respondesse com seriedade e sinceridade a esta simples pergunta: POR QUE!?

Não nos esqueçamos que Jesus somente ficou quatro vezes num lugar mais alto do que o povo: durante o Sermão da Montanha, mas foi para nos ensinar o novo jeito de viver; na Cruz, mas foi para se doar à humanidade no mais sublime ato de amor; na Ressurreição, mas foi para anunciar que a Vida vence a morte; e, em fim, na subida aos céus, mas foi para nos dizer que Ele está nos esperando na casa do seu Pai que é definitivamente “Pai Nosso”. Jesus nunca ficou “acima” do povo para se distanciar, e sim para se aproximar mais, servindo aos seus irmãos e às suas irmãs, bem ao lado deles e delas.

Fortaleza, sete de setembro de 2011,

Geraldo Frencken

Um comentário:

  1. Realmente, concordo em número, gênero e grau que um ato como o grito dos excluídos deveria ter a participação de mais pessoas. Sou principiante, meu nome é Sebastião Ramos, particicipei pela primeira vez, hoje, deste importantíssimo evento. Sou desassociado da Igreja Testemunhas de Jeová e autor de uma denúncia pioneira xcontra a mesma que corre o Brasil, com repercussões internacionais, pelo fato, do MPF ter denunciado a Entidade que patrocina a discriminação religiosa aos seus ex membros.

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