quinta-feira, 22 de março de 2012

LIBERTANDO JESUS DAS IGREJAS


Talvez os pregos que O pregaram na cruz não tenham imobilizado tanto quanto as instituições O imobilizam hoje. Os que O prenderam na cruz foram perdoados, pois não sabiam o que estavam fazendo, talvez os que O prendem nas igrejas saibam mais, dentro de suas limitações, o que fazem.
Os pregos institucionais, embora invisíveis, imobilizam muito mais que os de ferro, pois estes O aprisionaram por algumas poucas e terríveis horas, os outros pregos, no entanto, O aprisionam por mais de mil e setecentos anos, e cada vez mais, O impedem de caminhar livre pelas estradas do mundo, para que possa, vestindo as roupas de cada cultura, comendo a comida de cada povo, morando onde o povo está, falando sua língua, se comunicando plenamente e expondo sua boa notícia, uma notícia de libertação, possa reavivar a esperança concreta da realização do reino.
Preso na instituição Jesus geme. Talvez clame, mas a instituição grita, brada e berra mais alto, em seu nome, mas não anuncia sua boa nova, não avisa aos necessitados que o Reino já chegou. O prisioneiro de cravos de ouro e resplendor de prata, sob o jugo de leis e interditos, proibições e ritos de tradições arcaicas, dogmas imutáveis e penitências impostas aos outros, pede para se libertar.
Sociedades religiosas medievais, conventos vazios, prédios imensos e sombrios onde jazem as ‘conquistas’ do passado, fazem sombra aos pobres que sobrevivem nas sombras da civilização.
Já passa da hora de se libertar o Cristo das igrejas, de todas as dominações e confissões, pois lá fora, na planície é onde a vida acontece e onde as respostas são esperadas pelos presos, doentes, coxos, cegos, surdos, emigrantes clandestinos, é lá que os famintos esperam pelo prato e a certeza de não mais ter fome e os sedentos de verem jorrar água em abundância.
O novo há que se mostrar e mudar a vida do mundo velho e cansado, para que os sinais de morte se mudem em vida e vida em abundância.
Precisamos urgentemente retirar a pedra da prisão, assim como foi removida a pedra do túmulo na Páscoa, libertar dos grilhões como Pedro foi libertado, fazer internamente, nas instituições, o que o Senhor fez com seu amigo Lázaro, desatá-lo das amarras e chamá-lo para fora, para que ande com seus próprios pés.
A boa nova de Jesus sempre foi um motivo e razão de esperança para os desesperados. O mundo, mais que nunca não tem respostas para eles. A Palavra precisa ser anunciada, além, muito além das paredes dos templos e de suas grades, precisa romper as barreiras dos preconceitos e limites culturais.
É preciso lhe arrancar os pregos, calçar-lhe as sandálias, vesti-lo com as cores dos povos, para que nos aponte os caminhos coletivos de solidariedade e partilha.
Libertar Jesus das igrejas é ‘descrucificar’ e libertar os pobres em cada canto de deserto e tornar em jardim suas vidas semeadas na misericórdia.


Assuero Gomes  (assuerogomes@terra.com.br)
Cristão católico leigo da
Arquidiocese de Olinda e Recife


(artigo publicado no JORNAL DO COMÉRCIO, Recife, dia 18 de março de 2012, postado neste  Blog por Geraldo Frencken )

4 comentários:

  1. Esse texto é perfeito! Nada o que acrescentar!!! Austri Junior (Circulo Teológico).

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    1. Claro que pode..
      deve,
      quando mais compartilharmos melhor..
      abraços e siga nos lendo.

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  2. Acabei de artilhar esse texto nos meus (três) twitters e nos meus (dois) facebooks. Posso reproduzí-lo em meus Blogues: CIRCULO TEOLÓGICO e CULTURA E SOCIEDADE? Citando a fonte (é claro), e com muito prazer. Seria para mim uma grande honra. (e-mails para resposta: austrijunior@gmail.com e austrijunior@hotmail.com). Paz e Bem!!!

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  3. Parabéns! Texto brilhante !
    É preciso libertar o prisioneiro do sacrário, descê-lo da cruz onde tornaram a pregá-lo para desperat o medo e aculpa do povo.
    O Jesus a quem seguimos ressuscitou não está mais na cruz nem pode ser preso porque segue adiante de nós nos incitando a libertarmos o seu povo e sermos construtores de seu reino.

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