segunda-feira, 23 de abril de 2012

Todo dia é dia de Gente


E foi olhando pra esta foto, pensando em nossa sociedade centralizada no consumo e na produção, controlada por uns poucos e impregnada por valores falsos que transformam a vida num inferno.
Não se pode pensar em dia do indio , porque todo dia é dia do indio , é dia de gente...e indio é gente.
Lembrei então, de uma história, sobre o diálogo entre um ancião tupinambá com um oficial francês, onde ele questionava tantos esforços, riscos e sofrimentos dos europeus para levar aquela madeira pelo mar afora.
___Não há madeira lá pra vocês se aquecerem?
 O oficial esclareceu que não era pra queimar, mas fazer tinta.
___ E pra quê é preciso tanta tinta?
 O francês explicou que havia homens riquíssimos, que produziam mais tecidos, contas, espelhos e outras coisas em tamanha quantidade que o velho índio não poderia imaginar.
 E que um só comerciante riquíssimo desses poderia comprar vários navios cheios desta madeira ,o  Pau-Brasil.
 O índio não compreendia.
___Mas esse homem riquíssimo de que você fala... ele não morre?
 Morria, claro, como todos os outros.
___ E quando ele morre, o que se faz com o que ele juntou?
Fica para os descendentes dele, como herança, para que possam viver e estar garantidos.
 Então o índio balançou a cabeça, em reprovação, e afirmou que agora entendia que os europeus eram mesmo loucos. Se submeterem a tanto esforço, tanto risco, tanto sofrimento, a uma vida de sacrifício e dor, por um motivo daquele... não fazia sentido.
____Nós também temos parentes de quem gostamos, as crianças nascem e crescem e nós sabemos que a mesma terra que nos alimentou, também os alimentará. Então, vivemos a vida com gosto, sem nos preocupar com coisas inúteis como essa e sem precisar sofrer tanto sem necessidade.
E pensando assim , como nosso ancião tupinambá, veio-me à mente este poema de Alberto Caeiro,  o  mestre ingênuo  dos heterónimos de Fernando Pessoa.

Quando vier a Primavera,
se eu já estiver morto,
as flores florirão da mesma maneira
e as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada.
A realidade não precisa de mim.
Sinto uma alegria enorme
ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma.
Se soubesse que amanhã morria
e a Primavera era depois de amanhã,
morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
e gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
porque tudo é real e tudo está certo.
Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é.

 ( stella maris)

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