O Movimento por uma Formação Cristã Libertadora surgiu em razão da insatisfação, compartilhada entre estudantes e docentes de teologia, catequistas e lideranças comunitárias, acerca do tipo de formação teológica catequética que se oferece ao Povo de Deus na Igreja de Fortaleza. O Movimento busca uma instrução Cristã Libertadora, engajada e solidária com os pobres.
quarta-feira, 13 de junho de 2012
ACERCA DO FUTURO DO CRISTIANISMO
Encontra-se na nossa cidade o Padre João Batista Libânio, jesuíta, renomado teólogo dos nossos tempos, completando neste ano oitenta anos de vida. Padre Libânio está viajando pelo Brasil, oferecendo conferências, palestras e bate-papos sobre temas relevantes à vida, ao mundo, à fé, à religião, à igreja.
Discursará, entre outros assuntos, sobre a pergunta “Qual o futuro do Cristianismo?”
Fazendo minha reflexão pessoal, quero ligar esta questão sobre o futuro do cristianismo a um dado nos oferecido, na semana passada, a respeito de um assunto muito sério. Foi realizada uma pesquisa em onze capitais estaduais da federação sobre a questão da pena de morte.
Em média 44,02% dos entrevistados estão a favor da pena de morte. O que chama atenção, porém, é o fato que na nossa capital, Fortaleza, esta porcentagem sobe para 57,5%, tornando os fortalezenses os mais favoráveis à pena de morte em todo o Brasil.
A pesquisa ainda explica o seguinte: “Fortaleza apresentou crescimento de 91% na taxa de mortes por agressão, passando de 22,2 óbitos por 100.000 habitantes em 1996, para 42,5% por 100.000 habitantes em 2010.” Estamos diante de uma realidade que apresenta números assustadoramente altos e um crescimento de violência assustador e muito preocupante.
Torna-se urgente que nos interroguemos a nós mesmos, e assim as autoridades devem fazê-lo: esta violência deve ser combatida com mais violência?
Tanta morte brutal e irracional deve ser abordada com mais morte brutal e calculista e oficializada pelo estado, chamando isso, por cima, de “justiça”? Olhe, oficialmente há no mundo 193 países, dos quais apenas 18 aplicam a pena de morte, ou seja, menos de 10%, sendo que nos últimos anos este número já tem declinado.
O vice-presidente da ordem dos advogados do Brasil no Ceará, Júlio Ponte, diz a respeito da pesquisa: “Os elementos evidenciam duas situações: a sociedade não acredita mais nos poderes constituídos e a morosidade da justiça enseja um sentimento de impunidade. Se tivéssemos uma justiça séria, não teríamos esse resultado.”
Eu gostaria de acrescentar algumas considerações a esta colocação:
- se tivéssemos políticas públicas sérias dum verdadeiro combate às reais causas da pobreza e da miséria, será que não diminuiria toda esta matança?
- se houvesse mais investimentos especialmente na área da educação, tanto por parte do município (lembremos que Fortaleza teve o segundo pior desempenho no Sistema Permanente de Avaliação da Educação Básica, ficando em penúltimo lugar no
Estado do Ceará em relação à qualidade do ensino básico) como também por parte do estado, será que a nossa sociedade não se tornaria mais humanizada?
- se as igrejas investissem mais em obras educacionais e sociais e menos em aplausos (Dom Helder), será que tanta passividade no meio dos católicos em relação ao mundo social não diminuiria e muitos passariam a considerar o agir social como essencial à religião cristã (Comblin), seguindo o exemplo de grandes nomes de sua própria tradição como Francisco, Vicente de Paulo e Dom Bosco? Será que desta forma não teríamos como resultado um mundo mais humano e apaziguado e, portanto, mais cristão?
Ou preferimos optar por querer continuar nesta cultura do atraso de “olho por olho e dente por dente”(cf. Mt. 5,38)? Ou consideramos que “amar os nossos inimigos e rezar por aqueles que nos perseguem (cf. Mt. 5,44)” foi um erro de Jesus, coisa que Ele nunca devia ter falado? Ou não temos mais a capacidade do exercício de humildade de pedir e conceder o perdão entre nós “até setente vezes sete” (cf. Mt. 18,22)? Ou achamos que Jesus exagerou quando afirmara que o que importa é que “haja vida e vida em abundância.” (cf. J. 10, 10)?
Pergunto, portanto: como vemos, na condição de cristãos e cristãs, o futuro do cristianismo numa sociedade que permite a pena de morte?
Que cristianismo seria este?
Fortaleza, 13 de junho de 2012
Geraldo Frencken
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BELISSIMO COMENTÁRIO DO PADRE LIBANIO, ELE FALA COM PROPRIEDADE E COM SEGURANÇA SOBRE O DESTINO DO NOSSO CRISTIANISMO, PARA ONDE IREMOS, PARA ONDE DESIGNARMOS NOSSAS CONVICÇÕES, PARA ONDE MARCHAMOS COM TANTAS ATROCIDADES, SE NÃO DERMOS UM PASSO A FRENTE PARA TENTARMOS MUDAR ESSA REALIDADE, O QUE FAREMOS. ADOREI, OTIMA COLOCAÇÃO EXPOSTA NESTE TEXTO. MAS ME QUESTIONO, SERÁ QUE ESTÁ EXISTINDO MESMO ESTE SENTIMENTO DE IMPUNIDADE POR PARTE DAS NOSSAS AUTORIDADES, QUANTO AOS NOSSOS PODERES CONSTITUIDOS, O QUE ESTÁ FALTANDO PARA MORALIDADE SER INSTALADA, JA QUE O BRASIL POSSUI UM DOS MAIORES SISTEMAS E COMPLEXOS DE ATENDIMENTO AOS NECESSITADOS EM TERMOS DE JUSTIÇA, MESMO COM TODA DEFICIENCIA, A IGREJA TEM PARTICIPAÇÃO NESTE PROCESSO, NESSA TRANSIÇÃO, NESTE MOMENTO TÃO CRITICO NA ATUALIDADE. POR ESSA RAZÃO, OS ENSINAMENTOS RELIGIOSOS, TEOLOGICOS, FILOSOFICOS, SOCIOLOGICOS, HÁ ANOS NOS AUXILIAM PARA UMA VIDA MAIS REGRADA E PACIFICA, ESPERO QUE O PADRE LIBANIO NESTE ENCONTRO DEIXE ENRAIZADO EM NOSSOS CORAÇÕES A SEMENTE DO RENASCER PARA UMA NOVA REALIDADE. FAZENDO DE TODOS NÓS HOMENS DE DEUS, CHEIOS DE RELIGIOSIDADE E ESPIRITUALIDADE E QUE POSSA NOS ENSINA A CAMINHAR NESTE MUNDO PEDREGOSO, SELVAGEM QUE TANTO NOS ACOLHE.....UM ABRAÇO A TODOS.
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