O Movimento por uma Formação Cristã Libertadora surgiu em razão da insatisfação, compartilhada entre estudantes e docentes de teologia, catequistas e lideranças comunitárias, acerca do tipo de formação teológica catequética que se oferece ao Povo de Deus na Igreja de Fortaleza. O Movimento busca uma instrução Cristã Libertadora, engajada e solidária com os pobres.
domingo, 29 de julho de 2012
SONS QUE COMUNICAM VIDA
A música faz parte da expressão cultural de cada povo. Por isso há grande diversidade e riqueza musicais. A música embeleza nossa vida, explica-a e a eleva. A música estabelece um canal de comunicação constante entre nós e com o mundo que nos cerca. Ela nos ajuda a descobrirmos o sentido de tudo que existe e a entender melhor os acontecimentos que marcam e dinamizam nossa vida. Música em favor da vida, música que “transfigura o existente” (Friedrich Nietzsche). Música, feita de sons que comunicam. Somos convidados(as) a estarmos receptivos(as) à diversidade musical.
Os encontros musicais propostos oferecem uma oportunidade para conhecermos os diversos aspectos da vida, apresentando a diversidade musical que expressa a realidade humana. Portanto, ouviremos e analisaremos composições tanto da assim determinada ‘música clássica’, passando por diversos compositores de épocas diferentes, como também do estilo popular (MPB), e ainda de música não ocidental (jazz p. ex.), e etc. É uma viagem pela história da música, uma viagem no tempo, um mergulho na arte da música, atravessando a nossa própria vida em toda sua riqueza.
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PERÍODO: 06 de agosto a 10 de dezembro de 2012
DIA: todas as segundas-feiras
HORÁRIO: 18:30 às 21:00
PÚBLICO ALVO: Jovens e adultos que valorizam a música em sua vida
LOCAL: RUA RODRIGUES JUNIOR, 268 (ao lado do Centro Pastoral)
INVESTIMENTO: R$ 75,00 mensais (diretamente com o facilitador)
FACILITADOR: GERALDO FRENCKEN
INFORMAÇÕES: 3282-6837 / 9984-7854 geraldof73@yahoo.com.br
ROMEU TEIXEIRA CAMPOS, PADRE CASADO DE MINAS GERAIS, DECIDE VOLTAR AO MINISTÉRIO SACERDOTAL:
"Estou voltando às funções sacerdotais por própria conta, independente de autorização ou da aceitação de alguma autoridade da Igreja Católica".
Através de um canal de comunicação do Movimento das Famílias dos Padres Casados (MFPC) chegou em nossas mãos o seguinte extenso manifesto, o qual consideramos importante ser publicado neste blog, apresentando os pontos mais relevantes.
(Postado por Geraldo Frencken, membro do Movimento por uma Formação Cristã Libertadora e do Movimento das Famílias dos Padres Casados)
ROMEU TEIXEIRA CAMPOS é padre casado, tem três filhos, 82 anos e mora em Santa Luzia (MG). Ele é ligado à instituição NÓS SOMOS IGREJA. É membro ativo, durante muitos anos, do Movimento das Famílias dos Padres casados (MFPC) e um de seus animadores. Estudioso de temas religiosos, licenciado em filosofia, graduado em teologia, bacharel em tradução, advogado aposentado.
"O encorajamento a essa declaração minha se alinha com o movimento de desobediência que está em curso em alguns países do centro da Europa incluindo um número considerável de “leigos” católicos conscientes e de alguns sacerdotes também. O Movimento Internacional “Nós Somos Igreja” parece ser um parceiro importante e, no caso do Brasil, ao que sabemos, nenhum grupo se declara partidário da iniciativa de desobediência, a não ser o nosso pequeníssimo grupo denominado NUNSI, cuja sede é nossa casa aqui em Santa Luzia-MG. NUNSI quer dizer Núcleo de Nós Somos Igreja. Durante quarenta e quatro anos cumprimos o Rescrito Papal que nos impunha o afastamento de qualquer ato próprio das funções sacerdotais, tempo suficiente para que estudos teológicos nos convencessem da ilicitude e da invalidade desse ato, nulo de pleno direito, além de altamente incoerente para quem sempre ensinou a indelebilidade do caráter sacerdotal. A punição que cai sobre o sacerdote que opta pelo matrimônio não tem base em delito algum, pois o sacramento do matrimônio não pode ser visto como delito. O sujeito desse sacramento, como tal, não é penalizável por isso, pois o matrimônio é um sacramento como os demais, não podendo, portanto, ser tratado como se tivesse a triste característica de manchar, sujar ou invalidar algum ato sagrado. O procedimento atual da cúpula eclesiástica para com seus sacerdotes parece obedecer aos comandos de uma heresia.”
MANIFESTO AOS PARENTES,
CONTERRÂNEOS E AMIGOS
CAUTELAS E RESSALVAS
Valorização das pessoas “leigas” e democracia na Igreja são, ao lado da Igreja Doméstica, os pontos-chave da Igreja do Futuro que queremos. [.....]
1 - Nossos esforços são, sobretudo, na área da Evangelização por julgarmos ser esta a área mais frágil da Igreja Católica que carregou na sacramentalização e nos aspectos
exteriores em detrimento da fundamentação das práticas religiosas centrada no conhecimento histórico e no entendimento bíblico, dois eixos descurados até agora.
2 – A revitalização das práticas religiosas será obra do grau de conscientização do próprio Povo de Deus e não obra de alguma lei baixada por alguma autoridade e de cima para baixo. [.....] O desafio que se impõe aos que abraçam a revitalização é esse trabalho de conscientização e de evangelização. Aos não ordenados do Povo de Deus, acordados do sono da passividade e dispostos a assumir não só os seus deveres, mas também os seus direitos, uma tarefa imensa e prolongada se anuncia e se impõe.
3 - Já que os templos, as igrejas e os diversos recintos onde o povo se aglomera não serão facultados aos que se entregam ao grande projeto de revitalização da Igreja Católica pelo fato de tais recintos serem geridos pelos que exercem o poder religioso e preferirem manter-se na linha antiga, deveremos trabalhar no sentido de uma Igreja Doméstica. [.....]. 4 – [.....]
5 – A Igreja Doméstica a que aludimos foi o modelo durante um bom tempo seguido pelos cristãos como atestam em vários tópicos os Atos dos Apóstolos. Além do mais, são muitos os teólogos e eclesiólogos a apontar a necessidade de um outro sistema eclesiástico diferente deste que, baseando-se em divisões territoriais do antigo Império Romano ( dioceses, paróquias, etc.), mostram-se esgotados.
6 – “Paróquia virtual” é uma expressão que provisoriamente pode ser usada para nomear todas as pessoas que aderirem às novas idéias de revitalização [.....] . 7 – [.....]
8 – Por fim, algo muitíssimo importante. [.....] Já há muito tempo defendo que, como no princípio da Igreja (com os primeiríssimos cristãos) quem deve autorizar a celebração é a comunidade, é o povo. É o povo que deve indicar, em cada ocasião, quem é que vai presidir a Missa. Aliás, muito bem diz a nossa Constituição Federal, no seu artigo primeiro, é do povo que emana todo poder.
9 – A valorização do “leigo” está por toda a parte nesse projeto ao qual aderi, incluindo o fim da hegemonia absoluta do clero que, com honrosas exceções, tem contrariado de cheio as recomendações do nosso Divino Mestre em Mt 20,24-28; Lc 22,24-27; Mc 9,33-37; Jo 13,4-15. [.....] . 10 – [.....]
Nota Final: A divulgação do Manifesto é essencial em todos os pontos de vista. Meus blogues: www.http://consensonafe.blogspot.com e asspop.hotmail.com
Ciao! Abraço do servo
sexta-feira, 20 de julho de 2012
"Desligue-se da televisão evangélica"
"Desligue-se da televisão evangélica" é a admoestação do bispo Walter McAlister, sugerindo que fiéis façam uma "desintoxicação" dos hábitos neopentecostais frequentando templos de igrejas históricas
. Ele propõe que para a desintoxicação o crente busque uma igreja tradicional, como batistas, presbiterianos, metodistas e congregacionais, que são, na sua grande maioria, mais dedicados ao estudo das Escrituras. "Ache uma", recomenda em seu site. "Digo isso não porque seja necessariamente a igreja que você vai frequentar pelo resto da vida.
Mas encare isso como parte de sua 'desintoxicação'". Um dos pecados de igrejas neopentecostais é "o abuso ou o abandono das Sagradas Letras", aponta o bispo. "Usam frases feitas, adesivos, chavões e uma cultura interna massacrante de autoajuda e pensamento positivo", assinala. Ou seja, não fazem teologia.
O argumento de que não precisam de teologia, só de Jesus, "é um apelo à ignorância e não acrescenta nada à nossa vida espiritual". Teologia, define McAlister, é a linguagem da Igreja, é a formação de conceitos corretos e bíblicos. "É a maneira pela qual os pensadores organizaram o conhecimento bíblico e o traduziram à prática e ao culto cristão" (...)
Na França, o Conselho Nacional dos Evangélicos (CNEF) publicou documento em que classifica a teologia da prosperidade, proclamada por igrejas neopentecostais, como uma distorção da mensagem cristã, informa o jornal "La Croix".
domingo, 8 de julho de 2012
Curso de Verão na Terra do Sol. Abre espaço para diálogo interrreligioso
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quarta-feira, 4 de julho de 2012
AINDA... A COPA QUE NINGUÉM VÊ......Moradia Acima do Espetáculo
Raquel Rolnik -
Relatora da ONU para o direito à moradia ainda acredita que os preparativos para Copa e Olimpíadas no Brasil podem ser feitos sem violação dos direitos humanos. E aponta o caminho para isso
Entrevista do Jornal O POVO
http://www.opovo.com.br/app/opovo/paginasazuis/2012/07/02/noticiasjornalpaginasazuis,2870214/moradia-acima-do-espetaculo.shtml
O POVO – A senhora foi indicada relatora da ONU para o direito à moradia quase simultaneamente à escolha do Brasil para sede da Copa do Mundo (2014) e das Olimpíadas (2016).
Raquel Rolnik – Exatamente. Assim que eu assumi, comecei a receber muitas denúncias de violações de direitos humanos de cidades que estavam se preparando para receber um megaevento esportivo. Na época, era a África do Sul. E também na China, Pequim, nas Olimpíadas (2008). Naquela época, ainda, de Nova Délhi, na Índia, que estava se preparando para os Commonwealth Games, os jogos da comunidade britânica (2010). Comecei a ver que, em todas essas situações, havia muitas denúncias de violação dos direitos à moradia adequada. Principalmente remoções.
OP – Como essa experiência anterior balizou o trabalho desenvolvido agora no Brasil?
Rolnik – Eu apresentei um relatório temático à ONU. Em 2009 ainda eu preparei esse relatório sobre os megaeventos esportivos e o direito à moradia. Me correspondi com o Comitê Olímpico Internacional (COI). Procurei contato com a Fifa. Não consegui. Mas com o Comitê Olímpico, trabalhamos juntos. Apresentei esse relatório e o conselho votou resolução específica dizendo: países que se preparam para grandes eventos esportivos têm de respeitar o direito à moradia, colocando uma série de questões que precisam ser respeitadas.
OP – Há um perfil ou um padrão específico nas remoções no Brasil e em outros países?
Rolnik – Quando a gente fala de África do Sul, quando a gente fala de Índia e quando a gente fala de Brasil, percebemos imediatamente que o grande alvo das remoções são comunidades que não têm títulos individuais de propriedade registrados em cartório. Isso, em si, já é uma situação discriminatória, e a discriminação é uma violação dos direitos humanos. Ou seja, o alvo principal foi todo tipo de assentamento informal, irregular, semilegal, ocupações, favelas. Que, na verdade, tanto no Brasil, quanto na África do Sul, como na Índia, é a maior parte dos territórios das cidades. E, sobretudo, a maior parte do território popular das cidades. E em países onde a população autoproduziu sua própria casa.
OP – Remover essas pessoas, por outro lado, tem custo político. Só a discriminação explica isso? Qual o fundamento pelo qual elas são transformadas em alvo?
Rolnik – Explica-se a partir de pressuposto que é totalmente equivocado, de que, se há pessoas que não têm título individual de propriedade registrado no seu nome, uma escritura registrada no cartório, sai mais barato. Sai mais barato, ou não tem problema nenhum, porque essas pessoas não têm direito mesmo de estar ali. Isso é totalmente equivocado.
OP – O direito à moradia está acima do aspecto legal, oficial?
Rolnik – Do ponto de vista dos direitos humanos, são duas as cartas legais internacionais sobre isso. A Declaração Universal dos Direitos Humanos e no Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos Sociais e Culturais. Tal como está lá, a moradia é um direito humano. É da pessoa. Independe se ela é posseira, se é proprietária, se é locatária, se está vivendo de aluguel, se está vivendo numa casa cedida. É direito de todas as pessoas. Não exclusivamente daqueles que são proprietários. Nesse sentido, é uma visão muito equivocada. No Brasil, é particularmente equivocada. Porque, além desse marco internacional, desde a Constituição de 1988, temos o reconhecimento do direito de posse da moradia daquelas famílias que têm situação que não é de títulos individuais registrados em cartório. Porque têm renda baixa, ocupa até 250 metros quadrados de terreno para sua moradia. Ou seja, está definido claramente na Constituição brasileira que a condição de posse dessas pessoas tem de ser reconhecida. Ao não reconhecer isso, estamos cometendo dupla violação – no campo do direito internacional e no campo do direito nacional.
OP – O processo brasileiro se dá após a aprovação da resolução da ONU. Isso representou avanço em relação aos outros países?
Rolnik – Na verdade, na China há um problema tão grande de informação que é difícil saber exatamente o que aconteceu. Nos países com democracia mais desenvolvida, como é a África do Sul, a Índia e o Brasil, a gente fica sabendo muito mais o que se passa. Eu diria que começamos a reproduzir esse modelo no Brasil, também. Foi pra mim uma surpresa muito grande, sabendo que na Constituição nós reconhecemos os direitos de posse, sabendo que no Brasil nós construímos toda uma legislação para proteger esses direitos. Sabendo da luta histórica de moradores de assentamentos populares para serem urbanizados, receberem infraestrutura. História de 30 anos de luta e conquista, da qual eu tenho maior orgulho. Agora, temos dinheiro para pagar essas promessas e dizer: vamos consolidar esses assentamentos, vamos possibilitar que todos tenham moradias dignas. De repente, essas questões todas não valem mais. E aí a gente está vendo o procedimento. Não apenas em Fortaleza. É praticamente um padrão que se observa nas cidades em processo de preparação para receber a Copa. Padrão que viola o direito à moradia adequada em vários pontos.
OP – Mas as pessoas não podem ser desapropriadas sem violar esses direitos? Há casos em que a remoção pode ser positiva até para as famílias, que nem sempre vivem em condições adequadas.
Rolnik – É muito importante entender que a remoção, em si, não é uma violação. A grande questão é como ela é feita.
OP – E como deve ser feita?
Rolnik – Definimos diretrizes bem claras, no campo do direito à moradia, sobre como fazer remoções respeitando os direitos humanos. Brevemente, o que tem de ser obedecido, para fazer como se deve, uma pergunta que esse projeto tem de responder é se ele fez tudo que pôde para evitar ou minimizar. A remoção sempre é um trauma. Para idosos, para crianças. Muitas vezes implica em depressão, morte. Estamos falando de arrancar uma pessoa de sua raiz. Arrancar do lugar em que ela vive há 40, 50 anos. Onde ela tem lar. Então, sempre, a primeira questão é minimizar. Às vezes, você muda o projeto três metros para esquerda, ou três metros para a direita e evita tirar 10 casas. Tudo que você minimiza já é melhor. Ou evita ou minimiza. Infelizmente, o que sinto é que os projetos, ao invés de serem pensados assim, são pensados: “Onde que é mais fácil passar por cima?” Pum. “Ah, é em comunidade de baixa renda, eles são ilegais mesmo. Então vamos que vamos”. Então, desvia do motel, desvia do prédio de apartamentos, desvia de um terreno vazio, mas vai por cima das comunidades. Isso é a primeira coisa que não pode ser. E o projeto tem de passar por processo de discussão pública. Esses projetos da Copa não foram debatidos amplamente. É fundamental o direito à discussão, à participação. Direito, também, à informação. Coisa muito grave que observei em várias cidades e estou observando aqui em Fortaleza é as famílias dizerem assim: “Um dia, eu estava em casa, almoçando, entra um cara de uma empresa terceirizada e pinta a minha casa com um número. E fala: ‘Vim aqui medir para calcular a indenização’”. Ninguém nem tinha falado que ele ia ser removido. É um desrespeito e uma violação do direito à informação, à participação. Outro aspecto que também tem de ser feito de outro jeito são as alternativas à remoção. Se você já estudou, minimizou, tentou, mas, mesmo assim, algumas casas vão ser removidas. Ou até situações em que muitas vezes, poxa vida, a casa está na beira de um trilho. Um trem que passa, é uma área ruim pra pessoa.
OP – É o caso de Fortaleza.
Rolnik – É. Em algumas situações, a segurança delas exige, para a moradia adequada delas, que elas possam ser deslocadas para outro lugar. Como fazer isso? As alternativas que se apresentam para essas pessoas, na maior parte das vezes, é que ou não apresenta alternativa nenhuma. Vai com ameaça. Ou apresentam propostas de indenização em dinheiro – R$ 5 mil, R$ 10 mil, R$ 15 mil. Absolutamente insuficiente para aquela pessoa poder ter uma moradia adequada. Resultado: vai ocupar outra beira de trilho de trem. Ou beira de rio. Óbvio. Porque não tem outra alternativa. Ou, também, as propostas de reassentamento, que geralmente são super distantes do lugar onde a pessoa mora. Não consideram que a moradia adequada não é só a casa. A moradia adequada, para os direitos humanos, é a porta de entrada para os outros direitos. Direito à educação, direito à saúde, direito ao trabalho, ao acesso aos meios de sobrevivência.
OP – Essa reacomodação, então, deve ser o mais próximo possível do lugar original.
Rolnik – Para que essa rede em que a pessoa está inserida, que é uma rede de oportunidades de trabalho, de sustentação econômica, social e até de parentesco possa, ao máximo, ser mantida. E a pessoa deve sofrer o mínimo de efeitos perversos. Porque o que acontece é que, na hora em que arranca daqui e joga pra lá longe e enfia dentro de uma casa, a pessoa perde o posto de saúde onde fazia o tratamento, já tinha a ficha, conhecia o médico. Perdeu a vaga na escola onde o menino estudava. Perdeu a oportunidade de ir a pé ao local onde ela trabalhava. A uma série de outras violações você vai expondo essa pessoa. Tem de ser o mais próximo e de comum acordo.
OP – A nova casa deve estar pronta?
Rolnik – De preferência. Se a casa não está pronta, ela tem de existir. A pessoa saber que é este meu apartamento, neste lugar, está tudo certo, falta terminar a obra, dois ou três meses. Então, vamos esperar a obra terminar para poder deslocar a pessoa. Ou essas soluções paliativas, que são intermediárias, provisórias, que está se usando muito no Brasil, que é o bolsa-aluguel, estamos vendo o monte de problemas que está dando. Valores baixos, que não permitem que a pessoa alugue no lugar lá onde ela estava morando. Já começa assim, degradando a condição da pessoa. Segundo, já vi situações, não no âmbito da Copa, mas na reconstrução depois da enchente em Niterói, há dois anos: as pessoas começaram a receber a bolsa-aluguel. De repente, parou a bolsa-aluguel. Mas aí a comunidade já está toda desarticulada, dispersa. As pessoas sozinhas. E aí acabou. O direito à moradia delas fica completamente violado.
OP – No caso mais problemático de Fortaleza, ao lado do trilho onde passará o Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), há a questão do risco às famílias, que a senhora mencionou. Além disso, é área da União, que, em tese, não poderia ser ocupada.
Rolnik – Áreas da União podem ser ocupadas. Existe inclusive um instrumento, no Brasil, de reconhecimento a esses direitos de ocupação de áreas da União. Chama-se Concessão Especial de Moradia. Instrumento que existe desde o Estatuto das Cidades, em 2001. É instrumento para regularizar situações de posse em áreas públicas. Inclusive área ambiental. A questão é da segurança. A moradia adequada é aquela que não oferece risco à saúde e à vida. Por exemplo, assentar perto de lugar que era um lixão, como já vi aqui (em Fortaleza), não é adequado. É uma área contaminada. Expõe quem vai morar lá a risco. Viver grudado num trilho onde está passando um trem, você está sujeito a risco. Então, não é adequado. A questão, como lhe disse, não é que não pode remover. De jeito nenhum. Muitas vezes, a gente tem de remover, pela segurança e adequação da própria família. A questão é: como, para onde, através de que processo?
OP – Como a senhora situa Fortaleza em relação ao que viu em outras sedes da Copa?
Rolnik – Tenho expectativa muito grande ainda, em relação ao Brasil, em geral. E a Fortaleza, em particular. Porque o que eu observei em outras situações, como em Porto Alegre (RS) e no Rio de Janeiro, que inicialmente começa até com violência, truculência, completamente ao arrepio de qualquer lei. Mas, à medida que a população toma consciência, se organiza, chama atenção, à medida que esse também é um tema trabalhado pelos meios de comunicação, já houve recuos e mudanças de conduta dos governos. Em Porto Alegre, ia jogar lá pra longe. Mas, não, voltou atrás. Vai reassentar ali mesmo, no bairro. Ia transferir, dar bolsa-aluguel e só depois construir a casa. Não, é chave contra chave. Mudanças no sentido de incorporar essas reivindicações. No Rio de Janeiro, as indenizações, que no começo tinha uma portaria que só poderiam ir até R$ 40 mil, hoje isso foi dobrado. Podem ir a R$ 80 mil. Fruto da denúncia, da organização, da mobilização e da resistência a essas violações. Acredito que estamos num momento importante em Fortaleza, onde se anuncia alguma possibilidade de mudança de conduta. No caso, por exemplo, da comunidade Aldaci Barbosa, a partir da organização, da mobilização, houve pelo menos sinalização de mudança no projeto. Diminuindo radicalmente o número de removidos. Isso é muito positivo. Às vezes, governadores e prefeitos tentam minimizar (os protestos). “Isso é gente de oposição, gente que está querendo se aproveitar e fazer oposição política”. Evidentemente que tem componente político em todo lugar. Mas eu posso testemunhar que tenho ido e, aqui em Fortaleza, fui conversar com os moradores. Com as pessoas. Com as velhas, com os novos. Não com as referências. Com as pessoas que moram lá. E mais de uma vez teve gente que foi falar comigo e não conseguiu falar porque chorava. Não conseguia parar de chorar. E contou, e não só contou, como mostrou coisas pra mim, que são absolutamente inaceitáveis. As autoridades têm de se abrir para entender que começaram com conduta que não é correta. Entender, reconhecer e mudar isso. Porque ainda é tempo. A gente não pode ter um legado da Copa do Mundo com violações dos direitos humanos para fazer isso. Não se faz legado violando direitos humanos.
segunda-feira, 2 de julho de 2012
Cardeal Martini e a dignidade da diferença
PPCIR – UFJF
“Hoje encontro muitas pessoas,
de todo o mundo e de diversas religiões.
Entre elas, estão os anjos com os quais
podemos nos reunir aqui na terra”.
(Cardeal Martini)
Ao ler hoje pela manhã o IHU notícias (27/06/2012), deparei-me com a informação de que o grande cardeal Martini se despedia de sua coluna no jornal italiano Corriere dela Sera. Dizia que chegara o momento em que, por razões da idade e da doença, deveria se retirar de suas atividades e empenhos para preparar-se para o encontro decisivo com o Mistério de Deus. Fiquei, de certa forma, entristecido, pois ele sempre foi para mim um fator de alegria, incentivo e esperança na luta em favor de uma Igreja mais fraterna e solidária. Nesses “tempos difíceis”, sua voz serena, corajosa e audaz vai nos fazer muita falta. Em todo o meu itinerário teológico pude acompanhar atentamente suas produções, seus sermões e suas lindas intervenções nos campos da pastoral e da vida social. Foi sempre uma alegria renovada entrar em contato com suas instigantes provocações. É na verdade, um fiel seguidor de uma Igreja primaveril, um autêntico “amigo de Deus”, e são eles, como tão bem indica Simone Weil, que nos facultam o exercício singelo da manutenção do olhar fixado intensamente em Deus.
O cardeal Martini foi aquele que sempre esteve nos meus sonhos em favor de uma Igreja mais profética, solidária e aberta. Nos últimos dois conclaves, foi por ele que o meu coração bateu mais forte. Talvez a figura mais nobre que um cargo tão complexo, exigente e difícil, poderia fazer jus. O cardeal Martini, jesuíta de ternura e vigor, foi durante muitos anos – de 1980 a 2002 -, arcebispo de Milão, a maior diocese do mundo. Ali atuou de forma impressionante, deixando uma marca que não poderá jamais ser esquecida. É também um dos mais importantes biblistas que temos.
Sua reflexão sobre Jesus é apaixonante. A forma como nos confronta com Jesus de Nazaré é singular e provocadora. Como sinalizou Georg Sporschill, ele nos apresenta Jesus em perspectiva distinta à apresentada por papa Bento XVI em seu livro sobre o itinerante de Nazaré. A partir de sua visada, o Jesus que nos vem revelado “é o amigo dos publicanos e pecadores. Ele escuta a pergunta dos jovens. Ele provoca inquietações. Ele luta conosco contra as injustiças”. Foi essa perspectiva que pude ver, com grande alegria, no seu livro sobre O itinerário espiritual dos doze (1981), onde aborda o Evangelho de Marcos. Com essa obra ele nos ajuda a rever, refletir e pensar sobre a nossa caminhada interior com base no itinerário espiritual dos doze discípulos. Nos ajuda a trabalhar o difícil confronto interior em favor da decisão de dar prosseguimento na história ao caminho de Jesus. Assim como os discípulos, nós também temos dificuldades de compreender os desafios da missão e de ver com clareza o horizonte a seguir. O conselho que vem do mestre Martini é simples: basta sair de uma situação marcada pelo orgulho e suficiência e deixar-se habitar por atitude de humildade, de “ignorância”, com a disposição acesa e atenta da audição. Sublinha que esta deveria ser a atitude fundamental de quem se coloca diante do Mistério de Deus, para poder ouvir o que Ele nos quer comunicar. Nada mais importante, sublinha, do que “olhar com atenção”. Mesmo que não se consiga explicar o que há de belo no mundo, e no outro, “a admiração diante da beleza pode me levar a Deus”.
Outro traço que sempre percebi em suas reflexões foi o da abertura ao outro, ao seu mistério indiscernível. Em livro publicado em 2000, Sobre o corpo, o cardeal Martini trata questões difíceis como a doença e o limite. Indica que a doença não é um incidente fortuito, mas nos coloca irremediavelmente diante de limites bem precisos. Desvela ainda algo que está “escondido” em nós mesmo quando nos sentimos saudáveis, mas que aparece um dia, com sua patente realidade, fazendo emergir a verdade de nossa limitação e pobreza. É esse mesmo corpo que coloca para nós, de forma viva, a questão do outro e o desafio imprescindível da relação. Diz Martini: “O outro é, porém, um mistério que escapa a qualquer analogia e redução de semelhança; se quero possuí-lo não é mais ´outro`, e permaneço só, sem nenhum outro”. Não há lugar para o belo Narciso, que se afoga em sua própria imagem e reflexo. Sublinha ainda que esse amor aos outros nunca o afastou de sua comunidade. Ao contrário, diz ele: “Quanto mais convivo com os outros, tanto mais amo a Igreja”.
Um dos maiores desafios assumidos por Martini em sua trajetória foi a defesa desse outro, e sempre com base em Jesus de Nazaré. No livroDiálogos noturnos em Jerusalém(2008), ele trata da importância de levar a sério a abertura e universalidade que envolve a expressão “católica”. E o caminho que ele aponta é o seguimento de Jesus. Foi ele que “tornou visível o amor de Deus por meio de sua vida e de suas palavras”. E o que caracteriza esse amor é sua proximidade com os outros, sobretudo os mais necessitados e pobres. Foi alguém que “optou pela vida itinerante e, assim, estar disponível para todos e não construir muros ao seu redor. Jesus foi ao encontro dos estranhos. E o que é mais importante: era capaz de difundir seu amor”. Como assinala Martini, é o nosso grande mestre nessa abertura aos estranhos.
Levando a sério esse desafio, Martini dedicou-se por muitos anos em Milão ao diálogo com os muçulmanos. Um de seus lindos trabalhos a respeito ganhou grande notoriedade: “Nós e o Islã – da acolhida ao diálogo”. Trata-se de um discurso que ele proferiu na vigília do dia de Santo Ambrósio, em dezembro de 1990. Reconhece em seu discurso os grandes valores religiosos e morais que marcam a tradição islâmica, e que tanto ajudaram “centenas de milhões de homens a prestar a Deus um culto honesto e sincero, bem como a praticar a justiça”. É no respeito a tal dignidade que os cristãos são convocados ao diálogo com os muçulmanos, e na sua dinâmica poder refletir e aprender sobre sua “forte experiência religiosa”, destinada a restituir a Deus, com gratuidade, um mundo a ele intimamente vinculado.
Levou também o diálogo ao pórtico dos não-crentes. Nos debates com Umberto Eco, registrados no livro Em que crêem os que não crêem(1999), trata com grande honestidade e seriedade essa questão. O que está em jogo, fundamentalmente, é a questão ética, o lugar da ética, “no qual se decide o futuro meta-histórico da aventura humana”. Partilha com Eco da idéia de uma esperança comum que irmana crentes e não-crentes, que transparece sobretudo na prática. Diz Martini:
“É possível ver crentes e não crentes vivendo o presente, dando-lhe sentido e empenhando-se com responsabilidade. Isto é particularmente visível quando alguém se coloca, gratuitamente, por sua conta e risco, a serviço de valores elevados, sem nenhuma retribuição visível. Quer dizer, portanto, que existe um húmus profundo que crentes e não-crentes, pensantes e responsáveis, alcançam, sem que, no entanto, consigam dar-lhe um mesmo nome”.
Martini reconhece o valor e a dignidade da ação ética de muitas pessoas, com “elevado altruísmo”, sem que estejam animadas por um fundamento transcendente em sua ação.
Sobre o seu sonho de Igreja, Martini sublinha:
“Antigamente eu tinha sonhos em relação à Igreja. Sonhos de uma Igreja que seguisse seu caminho na pobreza e na humildade, de uma Igreja que não dependesse dos poderes do mundo (...). Com uma Igreja que desce lugar às pessoas que pensam o futuro. Com uma Igreja que encorajasse especialmente àqueles que se sentem sozinhos ou pecadores. Eu sonhava com uma Igreja jovem”.
Em seus colóquios de Jerusalém, na ocasião, com avançados 75 anos, revelou que esses sonhos tinham se diluído e que agora rezava pela Igreja. Mas ainda vigorava em seu peito o grande sonho de Teilhard, que via “o mundo caminhar em direção à grande meta, onde Deus será tudo em todas as coisas”.
Em sua última coluna, esse grande cardeal de Milão, conhecedor do segredo dos corações e do mistério das distintas formas de fé, responde a uma última questão, extremamente difícil, levantada por Francesco Rizzo, que havia perdido o seu filho de 10 anos. Na sua carta, o desencantado pai pedia uma palavra de conforto para poder voltar a viver. E com a resposta de Martini, concluo essa minha breve homenagem a esse grande cristão:
“Caro Franco, não há palavras verdadeiras de conforto diante de uma dor tão grande, talvez a maior dor para um ser humano. Eu também não sei lhe indicar caminhos precisos. Posso lhe dizer que rezo por você para que seja Jesus, o Filho, que lhe indique o caminho. Mas certamente não será logo, porque dores tão fortes tiram a força, a visão, a audição e ferem até a nossa força fundamental que é a coragem de enfrentar qualquer acontecimento
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