O Movimento por uma Formação Cristã Libertadora surgiu em razão da insatisfação, compartilhada entre estudantes e docentes de teologia, catequistas e lideranças comunitárias, acerca do tipo de formação teológica catequética que se oferece ao Povo de Deus na Igreja de Fortaleza. O Movimento busca uma instrução Cristã Libertadora, engajada e solidária com os pobres.
segunda-feira, 27 de agosto de 2012
'O Vaticano é um antro de misóginos
Maria João Sande Lemos*
Sara Rodrigues: O recém-eleito prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, o arcebispo alemão, Gerhard Müller, considera que a exclusão das mulheres da ordenação sacerdotal "segue a vontade e o chamamento de Cristo". Como comenta estas declarações?
Lemos: Isso é uma inverdade. Não há absolutamente nada nos Evangelhos que diga que as mulheres não podem aceder ao sacerdócio. Aliás, Cristo não ordenou ninguém, pelo contrário, ele foi contra a instituição sacerdotal estabelecida. Nos primeiros tempos do Cristianismo havia comunidades lideradas por mulheres e por homens e isso está comprovado, por exemplo, nas cartas de S. Paulo, onde são dadas instruções diretas a mulheres para que conduzam as comunidades de determinada forma. O anúncio da ressurreição de Cristo foi dado por uma mulher. Há momentos fundamentais na pregação de Cristo em que ele mostra o sentimento que tinha de que as mulheres eram as grandes divulgadoras da sua mensagem.
S.R: Estas declarações são uma tentativa de travar o assunto?
Lemos: Não, apenas servem para confortar a ala mais conversadora da Igreja. Tenho a certeza de que 80% do Clero não pensa assim, mas como têm as suas carreiras obedecem. Dizem uma coisa quando estão no púlpito, mas off the record dizem outra.
S.R.:Então, há uma voz oficial e outra oficiosa...
Lemos: ... há um mainstream católico e, concordo, uma voz oficiosa que se traduz num sentimento generalizado de que as coisas deveriam mudar e, também, de desconforto em relação à maneira como o Vaticano funciona. O poder absoluto corrompe absolutamente e aquilo é um poder absoluto. O Vaticano não é nenhum santuário.
S.R.: A mulher ainda é malvista pela Igreja Católica?
Lemos: Sim, completamente. As mulheres são excluídas dos centros de decisão da Igreja. Basta ver o recente caso das freiras americanas: um grupo de mulheres muito respeitadas pela sociedade local porque ajudam os mais carenciados, mas como levantaram a voz a favor dos oprimidos e não se submeteram a determinadas ordens clericais o Vaticano enviou um comité de investigação. Enquanto isso, não mandaram investigar as dioceses onde há escândalos de pedofilia e assédio sexual do clero masculino.
S.R.: Foram usados dois pesos e duas medidas para homens e mulheres.
Lemos: Exatamente. O Vaticano é um antro de misóginos.
S.R.: Como assim?
Lemos: A não ordenação de mulheres é só uma birra. Os padres foram casados até ao séc. XII, a partir daí introduziram o celibato, que foi uma medida burocrática por causa de questões de heranças e partilhas. Enquanto eles não resolverem o fim do celibato obrigatório, a questão das mulheres estará sempre [em segundo plano]... porque somos o demônio. Foram educados com horror às mulheres.
S.R.: O que falta à Igreja?
Lemos: Amor. Enquanto Jesus significava amor, solidariedade e compaixão, a Igreja tornou-se seca, árida, quezilenta e sempre contra tudo. É um espaço de exclusão e não de abertura.
S.R.: Que balanço faz destes sete anos de pontificado do Papa Bento XVI?
Lemos: Péssimo. Acho que é uma pessoa dura e, pelo que ele fez ao longo de 30 anos como braço-direito de João Paulo II, nomeadamente ao nível dos castigos permanentes aos teólogos, não tenho boa impressão dele.
S.R.: A governação deste Papa é autocrática?
Lemos: Sim, aliás monárquica absoluta. E outra coisa que me faz impressão é que ele voltou a usar aqueles chapéus... como é que num mundo tão pobre, os cardeais andam vestidos de seda e rendas. O luxo das igrejas horroriza-me.
*Quem é Maria João Sande Lemos?
Nasceu em Lourenço Marques, atual Maputo, em 1938. Esteve na origem, ao lado de Sá Carneiro, do PSD.
Ativista em várias causas, trabalhou na Comissão para a Igualdade dos Direitos das Mulheres e participou em conferências da ONU sobre o tema.
Em 1992, fez parte da equipa de observadores que acompanhou as eleições em Angola e, em 1997, foi uma das cofundadoras do braço português do Movimento Internacional Católico Nós Somos Igreja.
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OTIMO COMENTÁRIO. MUITO CRITICO SOBRE OS PASSOS DA IGREJA, MAS ACHO QUE ELE DEVERIA ERA CITAR SOLUÇÕES E MOSTRAR UMA AUTO CRITICA MAIS CONSTRUTIVA....MAS FOI MUITO BOA SUA POSIÇÃO.. AINDA PRECISA DE MAIS ESCLARECIMENTOS..UM ABRAÇO A TODOS..
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