Ritual indígena pela recuperação da saúde de Dom Tomás
Mais de cinquenta pessoas, amigos e amigas, companheiros e companheiras de Dom Tomás, acompanharam na tarde deste sábado, 9, o ritual indígena feito por índios das etnias Xerente, Krahô e Krahô-Kanela pelo pronto restabelecimento da saúde de Dom Tomás. Pelas 11 horas da manhã ele havia deixado a UTI e fora transferido para o quarto. O ritual se desenvolveu na rua em frente ao Hospital do Coração Anis Rassi, em Goiânia (GO). Desde a janela do quarto Dom Tomás acompanhou tudo.
O ritual contou com cânticos, ao ritmo do som de maracás, falas e aplicação de um pó vegetal, à semelhança de unção. Nas falas, todos ressaltaram a importância de Dom Tomás para a luta dos povos indígenas, não só do Tocantins, mas de todo o Brasil. Isabel Xerente disse que Dom Tomás é o segundo pai. Vagner Krahô-Kanela lembrou o apoio de Dom Tomás na conquista de suas terras. Acentuou que a luta deles é pela vida, e a vida dos povos indígenas não existe sem o território. Foi lembrado também que Dom Tomás acompanhou, há poucos meses, uma delegação indígena do Tocantins em audiência com o Ministro Alexandre Padilha, quando foram reivindicar melhor atendimento de saúde.
Todos afirmaram com força que Dom Tomás é ainda muito necessário para a luta dos povos indígenas, pois a pressão contra seus direitos e seus territórios é muito grande. Por isso Deus vai ajudá-lo a superar esta doença.
Isabel Xerente passou o pó de uma árvore do Cerrado, ao modo de uma unção, em diversas pessoas presentes, amigas de Dom Tomás, já que ele estava no quarto. O ritual tem o sentido de proteger a pessoa, pois segundo eles ao mesmo tempo em que tem muita gente que quer Dom Tomás vivo, muitos fazendeiros gostariam de ver Dom Tomás morto, como a senadora Kátia Abreu.
Depois de terminado o ritual em frente ao Hospital, Isabel e outra indígena subiram ao quarto onde aplicaram também nele o pó.
Dom Tomás acompanhou tudo desde a janela do quarto, acenando para os presentes, e se comunicando através do viva voz de um celular. Ainda deu uma entrevista à TV Anhanguera pelo telefone. No final deu a todos e todas sua benção.
Todos aguardam a hora em que ele receberá alta hospitalar.
Carta à Dom Tomás BalduinoBispo emérito da cidade de Goiás (GO)
Prezado companheiro;
Após nossos sinceros cumprimentos em nome dos povos Apinajé, Krahô, Krahô Kanela, Xerente, Tapuia, comunicamos que fomos informados de sua internação em UTI de hospital da cidade de Ceres (GO). Também já sabemos que foi transferido e se encontra hospitalizado em Goiânia (GO).
Todas essas notícias nos deixaram profundamente entristecidos e abalados. Diante dessa situação pedimos que nos compreenda e nos desculpe por não poder visitá-lo nesse momento. Porém queremos que saiba de nosso respeito e consideração a sua história e sua luta. E que apesar das distancias geográficas, mesmo assim estamos juntos com você em mais essa batalha em defesa de sua própria Vida.
Os Povos Indígenas do Estado de Tocantins e Goiás somos muito gratos a você. Para nós você é um Mestre, Conselheiro, Profeta, um defensor inalienável e convicto da Causa e da Vida dos povos marginalizados, escravizados e excluídos.
Temos Fé e acreditamos que nosso Deus, também está junto com você nessa batalha pela vida, por que nosso Pai jamais abandonará um varão justo numa hora difícil. E você é um ser humano justo, digno e honrado, que está cumprindo a sua nobre missão; praticando a Justiça e promovendo a Paz.
Dom Tomás veja que bela e exemplar história de resistência você está escrevendo e “imprimindo” junto com os Povos Indígenas e Movimentos Sociais desse País. Um bom pastor, sempre armado com a verdade e munido com sabedoria cristã; às vezes voando em céus de turbulências, às vezes navegando em águas agitadas ou trilhando os caminhos espinhentos dessa América Latina. Você nunca se intimidou e nem se curvou diante da arrogância e da prepotência dos tiranos.
Nessa caminhada você tem nos ajudado a fazer o bom combate; assim junto com outros lutadores você fundou o CIMI e a CPT, trincheiras seguras para denunciar e lutar contra as injustiças sociais, as violências, o preconceito, a escravidão, o latifúndio e a pistolagem, que também são as piores “doenças” que geram a morte. Nessa guerra temos contabilizado muitas vitórias; se lembra de algumas?
Nesse momento de sua Vida você nos dá a maior lição de amor ao próximo. Esse gesto Guerreiro nos fortalece e nos enche de esperança; na certeza que temos que continuar lutando pelas crianças, pelos idosos, pelos empobrecidos e excluídos. A nossa luta por dignidade e Direitos Humanos não tem fronteiras e é contínua. Até breve grande Guerreiro da Paz, nós vamos vencer!!!
Terra Indígena Apinajé, 09 de novembro de 2013.
Antônio Veríssimo da C. Apinajé.
Liderança do povo Apinajé do Estado do Tocantins.
Nenhum comentário:
Postar um comentário