quinta-feira, 25 de agosto de 2011

DOM HELDER

DOM HELDER
Neste sábado, dia 27, completam-se doze anos da morte de Dom Helder Camara. Faz bem refletirmos um pouco juntamente com este “Profeta dos nossos tempos”.
Dom Helder, nascido na cidade de Fortaleza em 07 de fevereiro de 1909, e formado padre no “Seminário da Prainha”, viveu numa época de transformações e, conseqüentemente, tensões. Primeiramente, nos tempos durante e depois da II Guerra Mundial, toda a humanidade estava à procura de uma nova identidade, buscando novos horizontes, porque, como está escrito num mural em Bogotá “Cuando tenía todas las respuestas me cambiaron lãs preguntas.”. Logo em seguida, o nosso país entrou nos assim chamados “anos de chumbo”, ou seja, começava a ser governado pela ditadura militar que reinou de 1964 a 1985.
O Dom não somente viveu nesta época de transformações políticas, sociais e econômicas.  Ele mesmo, movido por uma fé inabalável no Deus do amor, se tornou transformador destas realidades. Em especial tornou-se um dos reformadores da Igreja, dando uma guinada no percurso da história dela durante e a partir do Concílio Vaticano II (1962-1965). Ele se fez a voz firme e forte em favor de uma igreja mais humana e humanizante, uma Igreja a partir dos pobres, porque esta está em sintonia melhor com o Evangelho de Jesus. Dom Helder escutou e entendeu muito bem o que o Papa João XXIII havia colocado como objetivo para aquele Concílio: que a Igreja entrasse em um contínuo processo de mudança e adaptação, processo este chamado de “aggiornamento”, que significa dizer, ouvindo as sábias palavras do nosso querido pastor Dom Aloísio Lorscheider “que eu devo fazer um esforço permanente de expressar aquilo em que eu creio de forma compreensível para hoje.” Ou seja, na vivência da nossa fé devemos estar atentos aos sinais dos tempos, à realidade que vivemos, ao mundo no qual nos encontramos: fé e vida em plena harmonia. A fé não pode fazer de nós fugitivos deste mundo. Não podemos nos revestir com aquela atitude de Pedro que, ao ver Jesus na sua glória, queria montar logo uma tenda pra ficar pro resto da vida olhando para este belo Jesus esplendoroso, ou então ficar olhando para os altos como faziam os apóstolos quando Jesus foi levado para o céu (cf. Mt. 17, 1-10 e Atos 1, 10-11). Ainda bem que o mestre argumentou que todos descessem, porque ainda havia muito o que fazer, ordenando que olhassem ao seu redor, a fim de que entendessem que este mundo havia de ser transformado e que não se construiria o Reino de Deus, escondendo-se num tenda e se fazendo de anjinho deitado aos pés de Deus sentado em seu trono.
Pois bem, foi isso que Dom Helder fez: desceu da montanha, o que no caso dele significava deixar o palácio episcopal no Recife e ir morar na sacristia da “Igreja Sem Fronteiras” (de fato o testemunho dele não conheceu fronteira alguma!), deixando os incensos e todas as pompas e circunstâncias eclesiásticas para trás, mantendo assim mais facilmente contato com a realidade, especialmente aquela realidade vivida pelos pobres. Daí olhou ao seu redor e encontrou-se com aqueles e aquelas que estavam com fome, com sede, sem moradia, sem roupa, com os doentes e os presos. Agiu assim no Rio de Janeiro, no Recife e em todos os lugares por onde passava. Descobriu que a miséria era a primeira e maior violência que o ser humano está sofrendo e explicitou o que é miséria, dizendo que ela “engloba a sub-habitação, o sub-trabalho, a sub-diversão, a sub-saúde, opressão, dominação, em resumo: sub-vida!” O grande sonho dele era que chegássemos ao “ano 2000 sem miséria que significa dizer: dar um estímulo ao otimismo, uma crença no que o homem quando quer, é capaz de fazer, e ter a certeza de que Deus ajuda!” Neste seu embate ele nos ensinava que “melhor do que o pão é a sua partilha, sua divisão!”
Este seu sonho maior não se realizou, porque sabemos que no Brasil ainda há 16 milhões de pessoas que vivem em miséria, que na Somália morreram nos últimos três meses 27.000 crianças de 0 a 5 anos de fome e assim por diante. Dom Helder dizia: “A fome dos outros condena a civilização dos que não têm fome.” Mas ele tinha uma profunda confiança nos homens e em Deus. O Dom alimentava esta esperança nas longas madrugadas, durante as quais conversava com Deus. Dom Helder não falava alto com seu Criador ou com os dois santos preferidos, Francisco e Vicente de Paulo: ele os escutava, porque sabia que não faz sentido gritar para Deus, pular ou exercendo-se com belos movimentos acrobáticos na frente dEle: tudo isso não adianta se não se sabe escutar a Deus no silêncio, se não O enxerga na pequenez dos mais humildes entre os seres humanos.
Para o Dom, a crença em Deus e nos homens anda junto com a esperança e a confiança. Ele dizia: “Esperança é crer na aventura do Amor, jogar nos homens, pular no escuro confiando em Deus!”
Que bom que Dom Helder esteve no meio de nós. Torna-se necessário procurarmos dar um jeitinho para que ele não desapareça!

Geraldo Frencken

Um comentário:

  1. Um Novo Cristianismo é possível, aos modes de D. Helder

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