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CUIDAR (primeira parte)
Somos cientes de que nossa vida é marcada, entre outras características, pela pressa, pela massificação, pelo descuido e abandono, pelo stress e o seu conseqüente nervosismo que chega às vezes a ser angustiante, pela violência, e, como muita gente afirma, pela falta da presença de Deus na vida das pessoas. Exatamente estas características são ingredientes propícios para nos esquecermos daquilo que deveria ser uma preocupação primordial e constante: o cuidado. Por não sermos cuidadosos(as) o suficiente, vemos que há cada vez mais pessoas vivendo em solidão, que a comunicação verdadeiramente humana continua a diminuir, que a nossa própria vida vai perdendo o seu mais profundo sentido: de estarmos no mundo por causa da relação, do relacionamento que somos convidados a construir com o(s) outro(s) e a(s) outra(s), e, enfim, que o nosso sonho com um mundo melhor pode morrer antes da hora. O cuidado é essencial à nossa vida.
Cuidar, ou ter cuidado, ser cuidadoso(a), em primeiro lugar, é uma atitude, um modo de ser, um jeito de estar no mundo, de se relacionar com o mundo e com tudo que há nele. Não é um ato isolado, algo que se faz de vez em quando, na hora que der, ou na ocasião que se apresentar. Cuidar diz respeito à maneira como a pessoa é, vive, se relaciona. O cuidado caracteriza o ser humano por se tratar de uma preocupação constante, um jeito de deixar claro que a pessoa sabe que é responsável, tanto por si mesma, como pelos outros e por tudo que faz parte da sua vida.
Em segundo lugar, sem este cuidado nós deixamos de ser humanos: tanto nós mesmos precisamos ser cuidados, como também podemos e devemos cuidar dos outros. Como alguém disse: “Devemos cuidar para não frustrar quem nos procura.” Eu acrescento: “Devemos procurar para não frustrar que alguém possa cuidar!” Por meio e através do cuidado mostramos afeto, amor, compaixão para com as outras pessoas: o esposo, a esposa, os filhos, a família, os vizinhos, os amigos, os colegas. E mais: devemos procurar ter o mesmo cuidado, construir um profundo relacionamento para com tudo que faz parte da nossa vida: o trabalho, a escola, o hospital, a rua na qual andamos, seja a pé, de bicicleta, de carro, de ônibus, a praça onde sentamos ou brincamos, toda a cidade na qual vivemos, a Igreja à qual pertencemos, os animais, as plantas, toda a natureza.
O cuidado dinamiza, aprofunda e dá sentido às relações, à vida, valoriza nossa vida. Através do cuidado mostramos responsabilidade tanto para com todos com quem convivemos, como para com tudo que faz parte da nossa vida.
Enfim, o cuidado abre a porta para a esperança: a esperança em um profundo relacionamento amoroso entre as pessoas, uma relação construtiva entre todos os familiares, amigos, colegas, vizinhos. Este mesmo cuidado dá as necessárias condições para que possamos ter esperança num mundo do trabalho que dignifique a vida do(a) trabalhador(a), esperança em escolas e universidades que se preocupem em construir uma nova sociedade, esperança numa cidade na qual possamos ser felizes, em Igrejas que cuidem de todos com o mesmo amor do Pai, pregado por elas, e, enfim a esperança na natureza que nos sustente e da qual somos convidados a cuidar.
Se quisermos viver, haveremos de cuidar.
Geraldo Frencken
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