quarta-feira, 28 de março de 2012

João Brás de Aviz uma luzinha a bruxulear no Vaticano

João Brás de Aviz, novo cardeal brasileiro, confessou ter no corpo 130 bolinhas de chumbo, por causa de um tiroteio em que se viu envolvido há 30 anos. Além disso é, segundo o site de notícias religiosas Vatican Insider, um defensor da "teologia de libertação.

Nos últimos dias acendeu a luz vermelha no “Stato Città del Vaticano”. As três maiúsculas da designação oficial do país em italiano – SCV – estão nas placas de todos os automóveis, em geral carros clássicos, muitos dos quais doação das fábricas de automóveis desse mundão de Deus e por isso mesmo de ótima aparência, sempre em gestos de “captatio benevolentiae” (captação das boas graças) como qualificavam presentes desse tipo, os latinos antigos.

Eu mesmo, nos dois anos em que trabalhei na Sagrada Congregação dos Ritos, usufruí da mordomia desse tipo de transporte. Sempre que havia uma cerimónia de beatificação ou canonização, de manhã bem cedo, encostava junto à minha moradia, um carrão desses a fim de me levar até o interior do pequeno país também denominado Santa Sé ou Cúria Romana. Saltava do carro bem junto à Capela Sixtina e um funcionário já estava à minha espera para vestir-me com a indumentária especial da cerimónia, o ferraiolo.

Não faltavam humoristas entre o povo, sempre prontos para, na passagem de um automóvel desses, tendo presente o fausto das cerimónias vaticanas, ler SCV, em italiano,“Se Cristo Vedesse!...” ou seja: Se Cristo Visse!... cotejando a pobreza do Mestre com a riqueza atual da instituição que se declara seguidora.

Eis que de repente em meio à fofocada sem tamanho em que não faltaram trocas de cadeiras, boatos os mais inverosímeis, tais como os de possível assassinato do próprio Papa buscados junto ao governo da China, imaginem só!... e coisas do género, tendo pela frente que no próximo mês de abril Bento XVI completará 85 anos, pessoas mordidas pela mosca azul,  diante do problema sucessório do mais absoluto poder deste mundo, às turras com suscetibilidades que invadiram todas as esferas da Cúria, acabando por ricochetear pelo mundo inteiro.

O próprio Papa, certamente sem querer, deu margem a que a boataria crescesse a ponto de assustar as pessoas realmente preocupadas com o futuro da Igreja Católica Apostólica e Romana. Três dias atrás, a 18 de fevereiro, realizou o Consistório em que entregou o barrete cardinalício a 22 novos cardeais entre os quais, pelo menos a metade com menos de 80 anos em condições de fazer parte do conclave para a eleição de um novo papa, se o atual não for muito longe. Convém ainda lembrar que há mais tempo foi plantada na imprensa mundial a informação que o papa Bento teria demonstrado vontade de abdicar do cargo, o que atiça mais ainda a mordida da mosca azul.

Jornalistas achegados aos melhores vaticanistas, foram unânimes em dizer que os 22 novos purpurados não representam absolutamente a universalidade da Igreja. O novo colégio eleitoral promete ser essencialmente europeu. Fora desse continente é inteiramente vã qualquer esperança por parte de quem sonha com mudanças. A luta pelo poder dentro da instituição Igreja, continuará pelos séculos em fora já que nem o próprio Homem Jesus de Nazaré conseguiu, em vida, resgatar a pequena comunidade inicial dos 12, da mosca porque entre pecadores, poder é sempre poder. É uma caminhada muito dura transformar poder em serviço, exclusivamente serviço.

Lembramos que no Evangelho vem a mãe de dois dos discípulos de Jesus solicitar ao Mestre que quando chegasse o tão decantado projeto do Reino de Deus, um dos filhos sentasse à direita dele e o outro à esquerda.

Um pouco mais tarde, sempre na vida terrestre de Jesus, ao longo de uma estrada os discípulos vinham discutindo entre si. Logo que chegaram junto do Mestre, ele perguntou: “O que vínheis discutindo no caminho?” Ficaram envergonhados porque discutiram quem era mesmo o maioral entre eles. Porém Jesus não calou. Malhou a ferro frio dizendo: “Quem quiser ser o primeiro tem que ser o último. Tem que ser o servo de todos, disposto até a dar a vida pelas pessoas que ama.”

Em meio a circunstâncias à primeira vista tão desastrosas da conjuntura do Vaticano, não é que começou a bruxulear uma luzinha a indicar possibilidade de uma reviravolta nos cálculos demasiadamente humanos em relação aos labirintos do poder.


Que luzinha é essa?... Eis a notícia que nos chegou ontem do jornal virtual do Instituto Humanitas:

“O brasileiro João Braz de Aviz, único latino-americano que recebeu nesse sábado, 18 de fevereiro, o título de cardeal, espera que o Colégio Cardinalício seja mais "universal" e pede que a Europa e os Estados Unidos desçam do pedestal e "mudem o seu olhar" para a América Latina.”

Em entrevista à agência de notícias católica I-Media, o purpurado de 64 anos, próximo do movimento italiano dos Focolares, que representa no novo Colégio Cardinalício o país mais católico do mundo, convidou seus colegas purpurados a reconhecer que o mundo mudou”.

"Na América Latina e em outras partes, temos que admirar a grande história da Europa, a sua beleza. Mas a Europa, por sua vez, deve descer das alturas e ter uma atitude fraternal com os outros continentes e deixar de olhar os outros de cima", afirmou.

"Isso a partir de um ponto de vista político e econômico, mas também dentro da Igreja", especificou.

"Não podemos deixar de notar que a América Latina, a Ásia e a África mudaram, nem continuar pensando que são colônias ou do Terceiro Mundo", acrescentou.


O novo purpurado, que recebeu em São Pedro, juntamente com outros 21 colegas, das mãos do Papa Bento XVI, o título cardinalício, há mais de um ano é prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e é responsável por cerca de 800 mil religiosos e religiosas espalhados por meio mundo.

Ex-arcebispo de Brasília, que confessou ter no corpo 130 bolinhas de chumbo por causa de um tiroteio em que se viu envolvido há 30 anos, é, segundo o site de notícias religiosas Vatican Insider, um defensor da "teologia de libertação".

Para o purpurado brasileiro, a corrente teológica latino-americana que surgiu na década de 1960 contra a opressão e em favor da luta dos mais desfavorecidos, foi "útil" e até "necessária", porque fez com que a Igreja descobrisse a "opção preferencial para os pobres", diz o site.

Que notícia alvissareira! Uma autêntica Boa Nova! Temos finalmente, dentro do Colégio Cardinalício cuja missão principal é participar do conclave para a eleição do Papa, um legítimo representante do maior país católico do mundo que é o nosso Brasil


E não é um representante qualquer, não senhor!... Ele é representante, junto aos cardeais, do Novo Modelo de Igreja, surgido na América Latina. Esse novo modelo foi iniciado por Dom Hélder Câmara, no início da década de 1950, quando bispo auxiliar na arquidiocese do Rio de Janeiro. O Padre Hélder, como gostava de ser chamado pelo povo apesar de bispo, era franzino de corpo e de pequena estatura, porém começou um discurso novo que parecia que dava às frases que pronunciava, um caráter tonitruante tal o impacto que produzia. Na Igreja do Brasil, foi Dom Hélder que nos iniciou à opção pelos pobres que, logo em seguida, em Medellín, se espraiou por todo o continente Latino Americano. Começou então a ser esboçado um novo modelo de Igreja Católica. Ao lado do modelo convencional que nos chegou da Europa no ano de 1500, oficialmente na pessoa de Frei Henrique de Coimbra em companhia de Pedro Álvares Cabral, o modelo de Igreja tipicamente latino-americano que veio para ficar.

É óbvio que a um modelo novo de Igreja, corresponda naturalmente um novo modelo de organização na base, no caso, as CEBs; um novo modelo de evangelização, a Catequese Libertadora; um novo modelo de teologia, a da Libertação e também um modelo novo de vida religiosa. É o novo questionando o velho. Enquanto o novo avança, o velho tende a entrar em crise. O tempo se encarrega de agravá-la sempre mais como constatamos hoje.
Lembremos novamente o Mestre Jesus com as palavras “Não se remenda pano novo com roupa velha!... Também não se põe vinho novo em odres velhos porque esses arrebentam e o vinho novo se perde!”

Nosso bispo João Brás de Aviz, se não participou do Concílio Vaticano II, andou por muito perto com certeza. Teria então participado do “pacto das Catacumbas” realizado por Dom Hélder junto com várias dezenas de outros colegas bispos do mundo inteiro, dispostos a viver a nova realidade de uma Igreja Pobre.

João Brás de Aviz, conforme diz a notícia, confessou ter no corpo 130 bolinhas de chumbo por causa de um tiroteio em que se viu envolvido há 30 anos, além disso é, segundo o site de notícias religiosas Vatican Insider, um defensor da "teologia de libertação".

Isto significa que já é meio mártir do Novo Modelo de Igreja tipicamente Latino-Americano. Arriscou já “dar a vida pelas suas ovelhas”. Deus com toda a certeza o salvou porque o quer para missões ainda mais altas.


Aos colegas purpurados, a homilia que lhes fez, foi uma autêntica Catequese Libertadora, bem no estilo de Jesus de Nazaré que só tecia considerações sobre os fatos para dar-lhes a transparência da História da Salvação. Na ausência de fatos, criava-os através de parábolas.

Hoje esse nosso bispinho terceiro-mundista é o responsável por 800.000 religiosos do mundo inteiro. Imaginemos um exército de 800.000 religiosos no mundo se forem empoderados na linha do método Paulo Freire?

Nossa torcida é que a luzinha se transforme em farol ou em um facho de luz tão grande que possa iluminar os mais autênticos caminhos da mãe de nós todos que é a Igreja. Seria, em meu modesto entender, retomar os caminhos primeiro sonhados e depois iniciados pelo bom Papa Giovanni, o vigésimo terceiro João. Então éramos felizes e não o sabíamos!...

(Antonio Cechin; marista e miltante dos movimentos sociais, autor do livro  Empoderamento Popular. Uma pedagogia de libertação. Porto Alegre: Estef, 2010 )
  


 





 

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