terça-feira, 22 de maio de 2012

Nossa Solidariedade as Religiosas dos Estados Unidos


 Em solidariedade a estas religiosas, postamos  este texto 


OBRIGADO, IRMÃS!
Por James Martin, SJ
Contributing Editor of AMERICA Catholic Magazine
Essa semana, muito se falou sobre algumas religiosas católicas que apareceram com frequência nas notícias. Inclusive, é possível que vocês tenham lido que a Congregação para a Doutrina da Fé abriu o que se chama de "investigação doutrinal” à Conferência de Superioras Religiosas dos Estados Unidos. Qual o significado de tudo isso? Isso significa que o Vaticano está investigando a instituição que agrupa a maior parte das religiosas desse país, também conhecida como LCWR ou Leadership Conference of Women Religious.
Porém, aqui não se trata de falar do documento vaticano; dirigiremos nosso olhar a essas mulheres e à tarefa que elas vêm desenvolvendo nos Estados Unidos a partir do Concílio Vaticano II. É verdade que a "investigação doutrinal” do Vaticano entristeceu e decepcionou a muitas dessas religiosas. Muita gente, nos blogs e nos meios de comunicação, se perguntava: "qual é o problema?” Talvez desconhecessem que a "investigação doutrinal” do Vaticano é a continuação de uma longa inspeção apostólica em todas as ordens religiosas femininas em geral. Por isso, não é de se estranhar que as religiosas nos Estados Unidos sintam-se um pouco desmoralizadas ultimamente.
Outra coisa que, creio, é importante recordar e que algumas críticas dos que não veem essa organização de religiosas com bons olhos não levam em consideração que muitas dessas irmãs das que estamos falando, que agora andam pelos setenta ou oitenta anos de idade, ao ingressarem na vida religiosa, sabiam perfeitamente que iriam vestir hábito e que viveriam sua vida semienclaustradas em um convento, da maneira tradicional. E o que aconteceu?
Veio o Concílio Vaticano II. No início dos anos 60, a grande assembleia dos bispos católicos deu como frutos inúmeros documentos, como Perfectae caritatis [decreto sobre a vida religiosa]. Pouco depois, o Papa Paulo VI divulgou sua exortação Evangelii nuntiandi e outras cartas nas quais se dizia claramente às religiosas que deviam colocar-se em dia e reformar-se. E elas regressaram às fontes de seus documentos fundacionais, para ver o que realmente disseram os fundadores e fundadoras e aprofundaram-se buscando entender o que deveriam fazer. E perceberam que deveriam sair para o mundo e não permanecer semienclaustradas; deveriam vestir-se como se vestem habitualmente as mulheres de seu tempo.
E não devemos esquecer que essas mulheres tinham sido minuciosamente preparadas para viver semienclaustradas. O mais fácil para elas teria sido continuar seu modo tradicional de vida. No entanto, abraçaram as mudanças propostas pelo Concílio Vaticano II, apesar de que essa era a opção mais difícil para elas naquele tempo. Uma amiga religiosa me dizia ontem à noite: "levamos esses documentos muito a sério”. Portanto, creio que qualquer crítica a essas mulheres –também a do Vaticano- deveria começar reconhecendo que elas responderam fielmente ao que a Igreja lhes pedia.
E, todavia mais importante do que entender isso, é contemplar as próprias religiosas. Façamos isso. Olhemos algumas dessas mulheres da era do Concílio Vaticano II e vejamos o que foram capazes de tentar e o que chegaram a alcançar por fidelidade a Deus:
1) Para começar, pensemos em Mary Luke Tobin, das Irmãs de Loreto, a única mulher americana que foi convidada a participar no Concílio Vaticano II. Em seguida chegou a dirigir a LCWR. Toda sua vida lutou pela paz e pela justiça, até sua morte aos 98 anos. Uma mulher portentosa na história religiosa da América.
2) Há também pessoas a quem considero heroicas, como Ita Ford e Maura Clarke, da congregação das Irmãs de Maryknoll, ou a religiosa ursulina Dorothy Kazel e a missionária leiga Jean Donovan. As quatro foram martirizadas em El Salvador como consequência de seu compromisso decidido com os mais pobres; as quatro pagaram seu seguimento pessoal de Cristo com o preço de suas vidas. Foram mulheres como estas as que encarnaram o espírito do Concílio Vaticano II.
3) Penso também em alguém incrível, como Dorothy Stang, que há somente uns anos foi martirizada no Brasil quando lutava pelos pobres sem terra. A Irmã Dorothy foi assassinada enquanto recitava as bem-aventuranças. Uma mulher inigualável, missionária das Irmãs de Notre Dame de Namur, cujo testemunho serviu de inspiração a tanta gente.
4) E, talvez também conheçam a Irmã Helen Prejean, autora do livro Dead men walking [traduzido para o espanhol como Pena de morte, levado ao cinema e protagonizado pela atriz Susan Sarandon] e da qual poderíamos dizer que fez mais do que ninguém no mundo no que refere à conscientização sobre a pena de morte e o rechaço que, como católicos, devemos manifestar por esse procedimento desumano.
5) E, penso em gente como Elizabeth Johnson, irmã da Congregação de São José, professora [de Teologia] na Universidade de Fordham, em Nova York, e cujos livros sobre Jesus, sobre Maria e sobre Deus, escritos com precioso estilo literário, tem ajudado a muita gente a aproximar-se a Deus.
6) E pensemos também nas cinco irmãs Adoradoras do Sangue de Cristo, martirizadas na Liberia, em 1992, por seu compromisso com os pobres. Não esquecemos a Agnes MuellerBarbara Ann MuttraShirley KolmerKathleen McGuire e Joel Kolmer.
7) Recordamos também a Mary Daniel Turner, a anterior superiora geral das Irmãs de Notre Dame de Namur e diretora da LCWR, coautora do livro The Transformation of American Catholic Sisters, grande promotora da justiça e da renovação na Igreja antes e depois do Concílio Vaticano II.
8) Penso também nas mulheres que trabalham no campo da espiritualidade, gente como a irmã priora beneditina, Joan Chittister, ou na irmã Joyce Rupp, cujos escritos teológicos tem permitido a tanta gente aproximar-se do Senhor.
Porém, penso também em outras religiosas cujos nomes talvez não sejam tão conhecidos, irmãs que dirigem colégios e universidades, são professoras em escolas ou institutos, trabalhadoras sociais, responsáveis de pastoral, enfermeiras, médicas... Mulheres que têm sabido aplicar suas mais diversas capacidades na Igreja. São estas as religiosas que, juntas, sustentam a Igreja Católica na América, a partir de seus votos de pobreza, castidade e obediência e que põem a serviço da comunidade todo o dinheiro que possam ganhar com seu trabalho. Mulheres que agora estão se aproximando do fim de sua vida ativa.
Por último, gostaria de compartilhar também um comentário no terreno pessoal: algumas irmãs que conheci e que marcaram a minha vida, sem dúvida, como irmã Louise French B.V.M., de Dubunque [Iowa], professora de várias gerações de jesuítas na Universidade Loyola, em Chicago e a quem seus alunos adoravam. E deixem-me falar-lhes também de outra amiga minha, Janice Farnham, uma religiosa de Jesus e Maria, que foi minha professora durante minha formação teológica e que quis aproximar-se para visitar meu pai, já em estado terminal de sua enfermidade, apesar de que, para isso, tivesse que viajar por quatro horas em trem, estar junto a ele durante uma hora no hospital e regressar no dia seguinte. Quando lhe agradeci; ela retribuiu o agradecimento por considerar uma honra ter podido acompanhar ao meu pai.
Tive algumas religiosas como diretoras espirituais. E até houve uma que, em meio a uma forte crise espiritual, soube orientar-me de maneira muito estimulante e iluminadora. Agradeci expressamente e ela me disse que o mérito não era seu, que havia sido simplesmente a mão de Deus. Ao longo de minha vida como jesuíta, encontrei a muitas religiosas e as admiro como verdadeiras heroínas.
Qualquer que seja nossa opinião sobre o documento do Vaticano, está claro que entristeceu e desmoralizou a muitas mulheres religiosas católicas que entregaram generosamente suas vidas à Igreja. Por isso, creio que é um bom momento para que todos lhes digamos "obrigado”. Obrigado a todas essas magníficas mulheres religiosas que chegaram a ser partes tão importantes em nossas vidas, que nos conduziram a Cristo por uma variedade tão grande de caminhos; até pelo caminho do martírio; porém, também por esse outro martírio do cotidiano, que é simplesmente viver como religiosas católicas, com as exigências da pobreza, da castidade e da obediência. Gostaria de agradecer-lhes pessoalmente por tudo isso e seria maravilhoso se vocês agradecessem a algumas de suas religiosas favoritas. Porque eu creio que sempre é momento para a gratidão; e, especialmente, nesses tempos, gostaria de dizer às religiosas católicas dos Estados Unidos: Obrigado Irmãs!
[Traduzido do inglês para o espanhol por Juan V. Fernández de la Gala. O texto que está entre colchetes são notas agregadas pelo tradutor espanhol
Publicado em espanhol por Eclesalia Informativo.
Para mais informaçãohttp://www.americamagazine.org/].

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