João Facundo
Nesses dias de Semana Santa vi vários
textos e frases sobre o sentido da Páscoa, a sua origem e os seus diversos
significados. Peguei-me a refletir e pude perceber o quando “romantizaram” a
festa da Páscoa e o quanto isso pode deturpar o seu significado.
A festa da Páscoa tem origem no
povo Judeu, ela retrata a saída do povo que vivia na escravidão e na opressão
sob o julgo do faraó, saída essa conseguida pela ação de Deus em suas vidas,
rumo a “terra prometida”. De forma sintética, essa é a visão bíblica que nos é
apresentada nas páginas do livro do Êxodo e que até hoje faz parte da
identidade deste povo, que ocupa, sobretudo, a região em que se encontra o
Estado de Israel.
Causa-me um verdadeiro incômodo
ver diversas afirmações que “Ele morreu por nossos pecados”! Não que isso seja
inverdade, mas, com esse tipo de lógica retiramos a atitude mais corajosa de
Alguém que: causou um impacto profundo na vida de várias pessoas ao passar “fazendo
o bem”, de uma pessoa que por fidelidade a Deus esteve sempre ao lado dos excluídos
socialmente (pobres, prostitutas, viúvas, doentes) e por isso se colocava a
favor de uns e contra outros... Jesus não era imparcial, um tipo de “intelectual
autônomo”, sem vínculo nenhum. Jesus era parcial! E é essa parcialidade que o
faz ser morto, na tradição de sua época, como um desgraçado... Afirmar o “pelos
nossos pecados” é simplório demais para retratar tal vida.
Assim, Jesus é morto e se deixa
morrer. É um revolucionário, no sentido de que aponto novos caminhos e
atitudes. Foi preso, sofreu um processo político pelos poderes de sua época, foi
torturado e sentenciado à morte. Ele viveu, sofreu, chorou e amou pela
convicção de resgatar dos terrores deste mundo os que lá estavam, de ter misericórdia,
isto é, de fazer com que os miseráveis passassem pelo crivo do coração e assim
implantar o Reino de Deus.
A Páscoa é a festa da passagem!
Da opressão para a liberdade, da morte para a vida, do desamor para o amor.
Desejar Feliz Páscoa é desejar um tempo de mudanças, de inquietações, de
revoluções... É perceber que para conquistar a liberdade (étnica, religiosa, de
gênero, sexual, etc) é preciso ter coragem de sair das mãos do faraó e descer
da cruz os diversos cristos que são
diariamente crucificados. É afirmar como Pedro Casaldáliga: “ser o que
se é, falar o que se crer, crer no que se prega, viver o que se proclama até as
últimas consequências”.
Feliz Páscoa, feliz Revolução!
Ser Cristão é eminentemente ser um revolucionário, concordo com vocês. Não há espaço para dubiedade ou acomodação de interesses. Não. É o duro enfrentamento do pensamento conservador que buscar manter "o que está do jeito que tá". O problema é que o mundo moderno é tão cheio de múltiplos interesses que fica muito mais difícil enxergar a escolha mais "cristã" dentre as múltiplas que se apresentam. Era um mundo mais simples aquele dos anos 80 quando comecei a entender o que era ser cristão... O mundo de hoje é um desafio imenso à quem quer se aproximar de cristo!
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