domingo, 31 de março de 2013

Páscoa, tempo de Revolução!



João Facundo 

Nesses dias de Semana Santa vi vários textos e frases sobre o sentido da Páscoa, a sua origem e os seus diversos significados. Peguei-me a refletir e pude perceber o quando “romantizaram” a festa da Páscoa e o quanto isso pode deturpar o seu significado.

A festa da Páscoa tem origem no povo Judeu, ela retrata a saída do povo que vivia na escravidão e na opressão sob o julgo do faraó, saída essa conseguida pela ação de Deus em suas vidas, rumo a “terra prometida”. De forma sintética, essa é a visão bíblica que nos é apresentada nas páginas do livro do Êxodo e que até hoje faz parte da identidade deste povo, que ocupa, sobretudo, a região em que se encontra o Estado de Israel.

Um segundo significado é a releitura a partir de Jesus de Nazaré. Sua vida, sua morte e sua ressurreição. Isto é, o que Ele fez pelas pessoas, o que Ele fez para ser morto e ainda que morto, permanecer vivo. Parece-me, que a galera não reflete hoje: Que vida? Que morte? Que ressurreição?


Causa-me um verdadeiro incômodo ver diversas afirmações que “Ele morreu por nossos pecados”! Não que isso seja inverdade, mas, com esse tipo de lógica retiramos a atitude mais corajosa de Alguém que: causou um impacto profundo na vida de várias pessoas ao passar “fazendo o bem”, de uma pessoa que por fidelidade a Deus esteve sempre ao lado dos excluídos socialmente (pobres, prostitutas, viúvas, doentes) e por isso se colocava a favor de uns e contra outros... Jesus não era imparcial, um tipo de “intelectual autônomo”, sem vínculo nenhum. Jesus era parcial! E é essa parcialidade que o faz ser morto, na tradição de sua época, como um desgraçado... Afirmar o “pelos nossos pecados” é simplório demais para retratar tal vida.

Assim, Jesus é morto e se deixa morrer. É um revolucionário, no sentido de que aponto novos caminhos e atitudes. Foi preso, sofreu um processo político pelos poderes de sua época, foi torturado e sentenciado à morte. Ele viveu, sofreu, chorou e amou pela convicção de resgatar dos terrores deste mundo os que lá estavam, de ter misericórdia, isto é, de fazer com que os miseráveis passassem pelo crivo do coração e assim implantar o Reino de Deus.
 
A Páscoa é a festa da passagem! Da opressão para a liberdade, da morte para a vida, do desamor para o amor. Desejar Feliz Páscoa é desejar um tempo de mudanças, de inquietações, de revoluções... É perceber que para conquistar a liberdade (étnica, religiosa, de gênero, sexual, etc) é preciso ter coragem de sair das mãos do faraó e descer da cruz os diversos cristos que são diariamente crucificados. É afirmar como Pedro Casaldáliga: “ser o que se é, falar o que se crer, crer no que se prega, viver o que se proclama até as últimas consequências”.

Feliz Páscoa, feliz Revolução!


Um comentário:

  1. Ser Cristão é eminentemente ser um revolucionário, concordo com vocês. Não há espaço para dubiedade ou acomodação de interesses. Não. É o duro enfrentamento do pensamento conservador que buscar manter "o que está do jeito que tá". O problema é que o mundo moderno é tão cheio de múltiplos interesses que fica muito mais difícil enxergar a escolha mais "cristã" dentre as múltiplas que se apresentam. Era um mundo mais simples aquele dos anos 80 quando comecei a entender o que era ser cristão... O mundo de hoje é um desafio imenso à quem quer se aproximar de cristo!

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