quarta-feira, 25 de setembro de 2013

MAIS MÉDICOS


Nas últimas semanas temos lido, ouvido e visto comentários e reportagens a respeito do programa do governo federal “Mais Médicos”.
Antes de tudo, quero ressaltar que é mais do que claro que os médicos e outros profissionais na área da saúde em questão hão de corresponder às exigências vigentes em nosso país quanto ao exercício da medicina.
Embora muitos aspectos deste assunto complexo e espinhoso já tenham sido debatidos por pessoas mais qualificadas do que eu, gostaria de colocar algumas observações, pouco abordadas, mas que me parecem ser relevantes.
Críticas ao governo federal atual
É notória a enorme problemática na área da saúde pública em nosso país: faltam hospitais, leitos, postos médicos, prontos socorros, ambulâncias, médicos, técnicos em enfermagem, materiais essenciais e básicos até para pequenas cirurgias, e etc. . Investimentos pesados por parte do governo federal não têm resolvido, muitas vezes, os problemas, seja por excesso de burocracia, ou, pior, por incompetência administrativa e desvio de verbas. Claro que o governo federal atual não pode se eximir de suas responsabilidades, porém também governos estaduais e municipais não podem ser isentos quanto à culpabilidade em relação aos intermináveis problemas que o povo tem de enfrentar, diariamente, para conseguir algum atendimento médico. Da mesma forma, os governos federais do passado recente e longuínquo não deram a devida e necessária atenção à saúde pública, causando o caos que enfrentamos hoje. Ou seja, o descaso, além de vergonhoso, vem de longa data, é histórico.

Faltam médicos na periferia e no interior! Mas, será que faltam médicos mesmo?
Embora não tenha à mão dados acerca de quantos médicos há no nosso país para cada mil brasileiros, quero fazer uma pergunta: será que faltam médicos mesmo? Permitam-me fazer algumas comparações. Não falta dinheiro no Brasil, mas há uma injusta concentração do PIB, da riqueza nas mãos de poucos. Não falta terra no nosso país, mas vivemos, desde 1500, com uma vergonhosa distribuição desigual da terra; não faltam padres, e muito menos religiosas no nosso país, mas vemos como a presença dos mesmos se concentra
em apenas algumas áreas e poucas obras, seja nas cidades, seja nos nossos imensos interiores. Creio poder constatar esse mesmo fenômeno na área da saúde pública. Ao menos na nossa cidade de Fortaleza é impressionante a concentração de consultórios médicos numa área bem restrita, enquanto bairros periféricos, habitados por uma população de baixo poder aquisitivo, continuam sem cobertura, minimamente necessária quanto à assistência médica. Pergunto, portanto: - por quanto tempo ainda vamos aceitar esta má distribuição dos recursos nacionais, abrindo cada vez mais o abismo entre os poucos ricos e os muitos pobres? - por quanto tempo ainda vamos assistir a má distribuição da terra em nosso país, causando conflitos e derramamento de sangue de pessoas que buscam sobreviver? - embora haja exceções, perguntamos: quando a Igreja vai olhar o povo da periferia, inserindo-se em sua vida, não através de documentos belos e “profundos”, pregações emocionantes e celebrações alienantes, e sim através de uma verdadeira partilha de vida? – mesmo que haja felizes, porém poucas exceções, a partir de quando vamos poder contar com mais médicos que se coloquem à disposição para trabalhar com e em favor daquela parcela do povo que pena?

Precisamos ouvir, acima de tudo, o povo que está na fila de espera.
Lemos, ouvimos e vimos muitos comentários a respeito do projeto “Mais médicos”. Opinaram políticos, gestores, médicos, peritos de diversas áreas,formadores de opinião, etc. Muito bem. É preciso ressaltar que é mais do que claro que estes médicos hão de corresponder às exigências vigentes em nosso país quanto à prática da medicina. Porém, não lembro ter lido, ouvido ou visto reportagens acerca desta questão, feitas com aquela gente que sofre, diariamente, as consequências da falta de médicos. Não foi pedida a opinião do povo que se encontra, desde as três horas da madrugada, na calçada do Posto Médico, esperando tirar uma ficha, que dá direito de ser atendido após mais um mês de espera. Qual é a opinião daquelas pessoas? Por certo vão querer algum médico, sendo formado no Brasil ou fora dele, sendo espanhol, português, cubano, ou argentino. Será que não estão ávidos por uma boa consulta, mesmo sendo feita com sotaque estrangeiro?
Um dia desses vi uma foto de um amigo meu, abraçado com uma médica cubana, recém-chegada.
Gostei.
É por aí!
Fortaleza, 25-09-2013,]
Geraldo Frencken

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