NATAL (IV)
Lucas é o único evangelista que narra, de forma detalhada e explicativa, o nascimento de Jesus. Em meio a essa narrativa humana e comovente, a cena que sempre chamou minha atenção é aquela entre os anjos e os pastores. Os últimos ficaram um tanto assustados com certos fenômenos sobrenaturais: eles não os entendiam e, consequentemente, não souberam interpretá-los. Os anjos, no entanto, acalmaram os pastores, dizendo: “Não tenham medo!” (cf. Lucas 2, 8-14).
Por que os pastores não precisavam temer nada? Pobres como eram, não tinham condições para cumprir todas as exigências da Lei, tanto das leis impostas pelas pesadas estruturas de sua religião, como dos intermináveis tributos cobrados pelo poder dos romanos. Mas justo eles, os despossuídos daquele tempo, foram os favorecidos para receberem a mensagem daquele Menino na pobreza e humildade. Ao verem o Menino, começaram a entender o que estava acontecendo, e, como relata Lucas, se tornaram, alegremente, testemunhas oculares, “contando o que o anjo lhe anunciara sobre o Menino”, espalhando a notícia por toda parte. Eles deixaram de ter medo e criaram coragem para anunciar “a boa notícia”, fazendo com que todos que os ouviam, ficassem “maravilhados”. É assim mesmo: quem tem coragem, age com coração, com convicção, e, conscientemente, assume sua responsabilidade.
É interessante como na Bíblia aparece o tema de “não ter medo” ou de “não se assustar”. Ele aparece em momentos cruciais na vida das pessoas. Zacarias, ao saber da gravidez da Isabel, se assustou, porém o anjo lhe disse: “Não tenha medo, Zacarias! Deus ouviu seu pedido.” (cf. Lucas 1, 8-20). Maria, ao saber-se a escolhida de Deus para ser a mãe de Jesus, ficou preocupada, mas o anjo falou: “Não tenha medo, Maria, porque você encontrou graça diante de Deus.” (cf. Lucas 1, 26-37). Maria Madalena e a outra Maria, indo ao túmulo de Jesus, ficaram muito assustadas por não encontrá-Lo, mas o anjo, ali sentado, lhes disse: “Não tenham medo ..... Ele não está aqui. Ressuscitou, como havia dito!” (cf. Mateus 28, 1-10). Em outras palavras: não ter medo, não se assustar, significa dizer que há coisa boa para acontecer: aos pastores era anunciada uma boa nova, e os outros exemplos mostram também a mão de Deus intercedendo em favor da vida das pessoas.
Natal, portanto, é a festa dos que não tem medo.
O Menino não teve medo de nascer em meio a um mundo cruel, opressor, dilacerado por divisões internas, “onde não havia lugar para ele”; não teve medo de nascer pobre, distante da corte e das autoridades, porque sabia que podia esquentar-se no colo da humildade da serva sua mãe e nos braços do seu cuidadoso pai; também sentia-se abraçado pelos modestos e bons pastores. Consequentemente, o Natal de
Jesus pode acontecer através de nós, se nos colocarmos no nosso mundo sem medo, defendendo a vida em todo seu esplendor de diversidade. Não podemos contentar-nos com o Natal de Jesus como lembrança daquele fato histórico. É preciso procurar trazê-Lo à vida no cotidiano das nossas palavras e ações, exatamente quando não é dado lugar para ideias e práticas que constroem vida, pois é lá que o Menino quer nascer.
Natal também é a festa da luz.
Deixemos de procurar a luz no fim do túnel da vida, porque o Menino ensinou a sermos luzes dentro do túnel da vida (cf. Carlos Mesters). Quem procura a luz no fim do túnel, já se encontra no desespero. Desespero não combina com quem quer ser do Caminho de Jesus. Desespero é o contrário de coragem, e opõe-se à fé.
Natal é, acima de tudo, a festa do amor.
Nelson Mandela diz: “O amor entra mais fácil no coração do homem do que o ódio!”. Nesta certeza, este homem de Deus encontrou a coragem para lutar por um mundo melhor. Que mensagem bela para o Natal, esta palavra do Madiba.
Seja o nosso Natal verdadeiramente feliz, cheio de luz e amor, sinônimos de Deus, que espantam o medo dentro de nós, a fim de construirmos um mundo de paz e de bem, fazendo nele Jesus nascer, nos recantos da vida, cada dia de novo.
Fortaleza, 19 de dezembro de 2013,
Geraldo Frencken
geraldof73@yahoo.com.br
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