sábado, 21 de dezembro de 2013

Reflexões acerca do Natal.

NATAL (I)

O NOSSO NATAL MERCANTILIZADO!?
Desejo refletir um pouco acerca de alguns aspectos do Natal, data tão marcante e importante na vida das pessoas. Deixarei guiar-me por quatro fontes, não de forma sequencial, e sim como luzes que se misturam e se influenciam mutuamente: - a observação dos acontecimentos do nosso dia-a-dia desta época; - um pouco da história e dos costumes natalinos; - o sentido originário desta data e os sonhos que sobraram; - o próprio Jesus com sua mãe, seu pai e todos aqueles que nEle se reconheceram e se reconhecem.
O bom observador deve ter percebido que o comércio natalino passou, este ano, por uma demasiada antecipação. Enquanto há poucos anos era dado início aos anúncios comerciais natalinos a partir do fim do mês de novembro, começo de dezembro, este ano estamos mergulhados em e entupidos por ofertas de preços espetaculares dos presentes de natal, já desde o fim do mês de outubro, enquanto aquela chatérrima sequencia de notas, formando o insuportável “Jingle Bells”, tapulha nossos ouvidos, decompondo nosso gosto e sensibilidade musicais.
Pergunto-me o quanto tudo isso nos afasta do espírito natalino que diz respeito a algo novo que pede passagem, a fim de “habitar entre nós”.
Considero o “novo”, o “não conhecido”, o “não esperado”, o “surpreendente” uma das características mais belas do Natal, isto é, de todas as formas de Natal, de toda vida nova, seja de planetas ou estrelas, de ideias, pensamentos ou descobertas, de seres humanos, animais ou plantas, de sentimentos, emoções ou paixões. A língua alemã expressa bem o que pretendo dizer, pois nela se fala em “AHA-Erlebnis”, o que significa a inesquecível experiência e vivência da admiração, do encanto. O novo se apresenta a nós e nos convida a um diálogo entre o já percorrido caminho da nossa história e a originalidade de todo novo ser, que carrega dentro de si a possibilidade de dinamizar nossa vida e transformá-la.
A mercantilização mata tudo isto dentre de nós, porque a “lógica” do comércio é propaganda, é concorrência, disputa, oferta, e, acima de tudo, é a frieza do cálculo, é o endeusamento do lucro.
A “lógica” do mercantilismo e o momento natalino se contradizem.
De um lado, o comércio se impõe, nos engana e nos ludibria por meio de suas propagandas berrantes, suas cores ofuscantes e músicas ensurdecedoras, que nos
transportam para o mundo da ilusão e nos afundam em ambientes onde reinam valores passageiros. Do outro lado, o Natal, através do verdadeiramente “novo”, acontece no silêncio, no escuro da madrugada, quando o novo dia aponta no horizonte, quando a esperança se torna realidade. O “surpreendente” necessita do espírito da reflexão que leva à admiração, ao encanto, a fim de nos elevar, enriquecidos, ao mundo do real e definitivo, conquistável por meio de valores a serem adquiridos, mas que perpetuam.
Há muito tempo, mais precisamente no século II da nossa era, o Papa Teléforo – papado entre 126 e 136 - lançou, no ano de 128, um edito, regulamentando a festa de Natal, a fim de coibir os abusos, uma vez que ela era celebrada sem espiritualidade alguma.
Será que não está na hora de nos interrogarmos se o nosso Natal também não está sendo ofuscado debaixo de abusos, neste caso, mercantilistas, que nos cegam, enquanto perde, pouco a pouco, a sua espiritualidade? E mais: o que podemos fazer para nos reconduzirmos ao espírito originário e cristão do Natal?

Fortaleza, 19 de dezembro de 2013,
Geraldo Frencken
geraldof73@yahoo.com.br

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