quarta-feira, 29 de junho de 2011

Puebla: Uma curiosidade e uma pergunta

Puebla - México - Imagem da Net
Em longo e belo pronunciamento “Puebla e a opção pelos pobres”, proferido na Primeira Jornada Teológica do Recife, 06 de agosto de 1998, padre José Comblim nos conta uma história engraçada.
“Eu tinha sido convidado pelo cardeal Dom Paulo Evaristo Arns para acompanhá-lo em Puebla, porém eu não estava na lista dos teólogos convidados e Dom Paulo não tinha poder para me dar credencial. Assim, tive que entrar clandestinamente no seminário Palafoxiano, edifício em que estava reunida a Conferência. Isso foi possível graças ao frei Gorgulho, o dominicano e exegeta de São Paulo, famoso e muito amigo de Dom Paulo. Acompanhei frei Gorgulho. O seminário estava protegido por três barreiras de jovens pertencentes a um movimento integrista mexicano. Felizmente estes jovens não tinham nenhuma prática desse tipo de função. Chegamos de taxi. Frei Gorgulho dizia aos jovens guardas: ‘Vou para a Conferência’ de uma maneira que não permitia nenhuma dúvida. Os guardas não duvidavam que fosse um dos bispos participantes da assembléia. Eu era simplesmente o servente do ‘sr. Bispo’. Mas agora, como entrar no edifício sem ser identificado pela secretaria da Conferência? Tínhamos descoberto, por trás do seminário, uma pequena porta que dava na cozinha e não estava fechada. Alí ninguém pedia documentos. Entramos pela cozinha, subimos as escadarias e fomos até o quarto de Dom Paulo, onde ficávamos escondidos. Um dia aconteceu o que era inevitável: num corredor encontrei-me com o secretário geral da Conferência, Alfonso Lopez Trujilo, que, naturalmente, me reconheceu imediatamente. É um homem tremendamente violento. É um gigante! Jogou-se contra mim com toda força, agarrou-me pelo pescoço com tanta violência, que só tive tempo de fazer um rápido ato de contrição e de pensar: “Amanhã sai nos jornais a notícia: arcebispo mata sacerdote no seminário Palafoxiano’. Providencialmente apareceu um grupo de bispos e Alfonso Lopez fugiu. Foi assim que fiquei com vida, são e salvo. Quanto ao protagonista, fez uma brilhante carreira eclesiástica, à espera de novas promoções que poderiam levá-lo finalmente ao ponto culminante da hierarquia.”
Ao terminar a palestra, padre José Comblin nos coloca diante da seguinte questão: “Haverá um dia a retomada de Puebla?”
E ele responde:
“Vai depender dos leigos. Muitos leigos que foram ativos nas décadas anteriores sentem-se como que desmobilizados. Muitos já são ex-combatentes, vivendo das saudades dos combates de outrora. Outros estão aí disponíveis, e nós sem saber o que fazer. São milhares de leigos assim desmobilizados no Brasil. Acostumaram-se a esperar da hierarquia sinais e orientações. Aí está o erro. Não olhem mais para a hierarquia, doravante daí não sairá mais nenhuma luz, somente exortações para não pensar, não tomar iniciativas e esperar com paciência.
Não esperem, tomem iniciativas e irão preparar uma Igreja nova para preparar uma sociedade nova, radicalmente diferente daquela que está sendo montada no momento e já caminha para o abismo.
O apelo dirige-se para os jovens. Os grandes projetos nascem na mente de jovens entre 25 e 30 anos. Procurem entre vocês esses jovens que poderão liderar a construção desse mundo novo.”

(Publicada em I JORNADA TEOLÓGICA DO RECIFE”, dedicado a Dom Helder Camara: Igreja do Vaticano II ao 3.º milênio. Avanço ou Retrocesso? 03 a 07 de agosto de 1998. Promoção do Grupo de Leigos Católicos, IGREJA NOVA)

Geraldo Frencken

Um comentário:

  1. Este texto, nos exorta, nos ensina a manter-nos em constante combate( o bom )
    a não desistir, e creio que é isto o pensar e agir , deste Movimento.

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