quarta-feira, 28 de março de 2012

João Brás de Aviz uma luzinha a bruxulear no Vaticano

João Brás de Aviz, novo cardeal brasileiro, confessou ter no corpo 130 bolinhas de chumbo, por causa de um tiroteio em que se viu envolvido há 30 anos. Além disso é, segundo o site de notícias religiosas Vatican Insider, um defensor da "teologia de libertação.

Nos últimos dias acendeu a luz vermelha no “Stato Città del Vaticano”. As três maiúsculas da designação oficial do país em italiano – SCV – estão nas placas de todos os automóveis, em geral carros clássicos, muitos dos quais doação das fábricas de automóveis desse mundão de Deus e por isso mesmo de ótima aparência, sempre em gestos de “captatio benevolentiae” (captação das boas graças) como qualificavam presentes desse tipo, os latinos antigos.

Eu mesmo, nos dois anos em que trabalhei na Sagrada Congregação dos Ritos, usufruí da mordomia desse tipo de transporte. Sempre que havia uma cerimónia de beatificação ou canonização, de manhã bem cedo, encostava junto à minha moradia, um carrão desses a fim de me levar até o interior do pequeno país também denominado Santa Sé ou Cúria Romana. Saltava do carro bem junto à Capela Sixtina e um funcionário já estava à minha espera para vestir-me com a indumentária especial da cerimónia, o ferraiolo.

Não faltavam humoristas entre o povo, sempre prontos para, na passagem de um automóvel desses, tendo presente o fausto das cerimónias vaticanas, ler SCV, em italiano,“Se Cristo Vedesse!...” ou seja: Se Cristo Visse!... cotejando a pobreza do Mestre com a riqueza atual da instituição que se declara seguidora.

Eis que de repente em meio à fofocada sem tamanho em que não faltaram trocas de cadeiras, boatos os mais inverosímeis, tais como os de possível assassinato do próprio Papa buscados junto ao governo da China, imaginem só!... e coisas do género, tendo pela frente que no próximo mês de abril Bento XVI completará 85 anos, pessoas mordidas pela mosca azul,  diante do problema sucessório do mais absoluto poder deste mundo, às turras com suscetibilidades que invadiram todas as esferas da Cúria, acabando por ricochetear pelo mundo inteiro.

O próprio Papa, certamente sem querer, deu margem a que a boataria crescesse a ponto de assustar as pessoas realmente preocupadas com o futuro da Igreja Católica Apostólica e Romana. Três dias atrás, a 18 de fevereiro, realizou o Consistório em que entregou o barrete cardinalício a 22 novos cardeais entre os quais, pelo menos a metade com menos de 80 anos em condições de fazer parte do conclave para a eleição de um novo papa, se o atual não for muito longe. Convém ainda lembrar que há mais tempo foi plantada na imprensa mundial a informação que o papa Bento teria demonstrado vontade de abdicar do cargo, o que atiça mais ainda a mordida da mosca azul.

Jornalistas achegados aos melhores vaticanistas, foram unânimes em dizer que os 22 novos purpurados não representam absolutamente a universalidade da Igreja. O novo colégio eleitoral promete ser essencialmente europeu. Fora desse continente é inteiramente vã qualquer esperança por parte de quem sonha com mudanças. A luta pelo poder dentro da instituição Igreja, continuará pelos séculos em fora já que nem o próprio Homem Jesus de Nazaré conseguiu, em vida, resgatar a pequena comunidade inicial dos 12, da mosca porque entre pecadores, poder é sempre poder. É uma caminhada muito dura transformar poder em serviço, exclusivamente serviço.

Lembramos que no Evangelho vem a mãe de dois dos discípulos de Jesus solicitar ao Mestre que quando chegasse o tão decantado projeto do Reino de Deus, um dos filhos sentasse à direita dele e o outro à esquerda.

Um pouco mais tarde, sempre na vida terrestre de Jesus, ao longo de uma estrada os discípulos vinham discutindo entre si. Logo que chegaram junto do Mestre, ele perguntou: “O que vínheis discutindo no caminho?” Ficaram envergonhados porque discutiram quem era mesmo o maioral entre eles. Porém Jesus não calou. Malhou a ferro frio dizendo: “Quem quiser ser o primeiro tem que ser o último. Tem que ser o servo de todos, disposto até a dar a vida pelas pessoas que ama.”

Em meio a circunstâncias à primeira vista tão desastrosas da conjuntura do Vaticano, não é que começou a bruxulear uma luzinha a indicar possibilidade de uma reviravolta nos cálculos demasiadamente humanos em relação aos labirintos do poder.


Que luzinha é essa?... Eis a notícia que nos chegou ontem do jornal virtual do Instituto Humanitas:

“O brasileiro João Braz de Aviz, único latino-americano que recebeu nesse sábado, 18 de fevereiro, o título de cardeal, espera que o Colégio Cardinalício seja mais "universal" e pede que a Europa e os Estados Unidos desçam do pedestal e "mudem o seu olhar" para a América Latina.”

Em entrevista à agência de notícias católica I-Media, o purpurado de 64 anos, próximo do movimento italiano dos Focolares, que representa no novo Colégio Cardinalício o país mais católico do mundo, convidou seus colegas purpurados a reconhecer que o mundo mudou”.

"Na América Latina e em outras partes, temos que admirar a grande história da Europa, a sua beleza. Mas a Europa, por sua vez, deve descer das alturas e ter uma atitude fraternal com os outros continentes e deixar de olhar os outros de cima", afirmou.

"Isso a partir de um ponto de vista político e econômico, mas também dentro da Igreja", especificou.

"Não podemos deixar de notar que a América Latina, a Ásia e a África mudaram, nem continuar pensando que são colônias ou do Terceiro Mundo", acrescentou.


O novo purpurado, que recebeu em São Pedro, juntamente com outros 21 colegas, das mãos do Papa Bento XVI, o título cardinalício, há mais de um ano é prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e é responsável por cerca de 800 mil religiosos e religiosas espalhados por meio mundo.

Ex-arcebispo de Brasília, que confessou ter no corpo 130 bolinhas de chumbo por causa de um tiroteio em que se viu envolvido há 30 anos, é, segundo o site de notícias religiosas Vatican Insider, um defensor da "teologia de libertação".

Para o purpurado brasileiro, a corrente teológica latino-americana que surgiu na década de 1960 contra a opressão e em favor da luta dos mais desfavorecidos, foi "útil" e até "necessária", porque fez com que a Igreja descobrisse a "opção preferencial para os pobres", diz o site.

Que notícia alvissareira! Uma autêntica Boa Nova! Temos finalmente, dentro do Colégio Cardinalício cuja missão principal é participar do conclave para a eleição do Papa, um legítimo representante do maior país católico do mundo que é o nosso Brasil


E não é um representante qualquer, não senhor!... Ele é representante, junto aos cardeais, do Novo Modelo de Igreja, surgido na América Latina. Esse novo modelo foi iniciado por Dom Hélder Câmara, no início da década de 1950, quando bispo auxiliar na arquidiocese do Rio de Janeiro. O Padre Hélder, como gostava de ser chamado pelo povo apesar de bispo, era franzino de corpo e de pequena estatura, porém começou um discurso novo que parecia que dava às frases que pronunciava, um caráter tonitruante tal o impacto que produzia. Na Igreja do Brasil, foi Dom Hélder que nos iniciou à opção pelos pobres que, logo em seguida, em Medellín, se espraiou por todo o continente Latino Americano. Começou então a ser esboçado um novo modelo de Igreja Católica. Ao lado do modelo convencional que nos chegou da Europa no ano de 1500, oficialmente na pessoa de Frei Henrique de Coimbra em companhia de Pedro Álvares Cabral, o modelo de Igreja tipicamente latino-americano que veio para ficar.

É óbvio que a um modelo novo de Igreja, corresponda naturalmente um novo modelo de organização na base, no caso, as CEBs; um novo modelo de evangelização, a Catequese Libertadora; um novo modelo de teologia, a da Libertação e também um modelo novo de vida religiosa. É o novo questionando o velho. Enquanto o novo avança, o velho tende a entrar em crise. O tempo se encarrega de agravá-la sempre mais como constatamos hoje.
Lembremos novamente o Mestre Jesus com as palavras “Não se remenda pano novo com roupa velha!... Também não se põe vinho novo em odres velhos porque esses arrebentam e o vinho novo se perde!”

Nosso bispo João Brás de Aviz, se não participou do Concílio Vaticano II, andou por muito perto com certeza. Teria então participado do “pacto das Catacumbas” realizado por Dom Hélder junto com várias dezenas de outros colegas bispos do mundo inteiro, dispostos a viver a nova realidade de uma Igreja Pobre.

João Brás de Aviz, conforme diz a notícia, confessou ter no corpo 130 bolinhas de chumbo por causa de um tiroteio em que se viu envolvido há 30 anos, além disso é, segundo o site de notícias religiosas Vatican Insider, um defensor da "teologia de libertação".

Isto significa que já é meio mártir do Novo Modelo de Igreja tipicamente Latino-Americano. Arriscou já “dar a vida pelas suas ovelhas”. Deus com toda a certeza o salvou porque o quer para missões ainda mais altas.


Aos colegas purpurados, a homilia que lhes fez, foi uma autêntica Catequese Libertadora, bem no estilo de Jesus de Nazaré que só tecia considerações sobre os fatos para dar-lhes a transparência da História da Salvação. Na ausência de fatos, criava-os através de parábolas.

Hoje esse nosso bispinho terceiro-mundista é o responsável por 800.000 religiosos do mundo inteiro. Imaginemos um exército de 800.000 religiosos no mundo se forem empoderados na linha do método Paulo Freire?

Nossa torcida é que a luzinha se transforme em farol ou em um facho de luz tão grande que possa iluminar os mais autênticos caminhos da mãe de nós todos que é a Igreja. Seria, em meu modesto entender, retomar os caminhos primeiro sonhados e depois iniciados pelo bom Papa Giovanni, o vigésimo terceiro João. Então éramos felizes e não o sabíamos!...

(Antonio Cechin; marista e miltante dos movimentos sociais, autor do livro  Empoderamento Popular. Uma pedagogia de libertação. Porto Alegre: Estef, 2010 )
  


 





 

CARTA ABERTA AO PADRE JOSÉ COMBLIN


Prezado amigo Pe. José Comblin,

Por ocasião do aniversário de um ano de tua páscoa resolvo te escrever. Penso que estás muito bem, pois ansiavas muito pelo encontro definitivo com aquele que nos chama à vida. Recordo-me de tua incansável luta entre os pobres e teu espírito crítico em relação à Igreja, que conforme pensavas, os tinha abandonado.

Os incomodados sempre te acharam exageradamente crítico, mas quando olhava de onde vinha a crítica, era possível compreender o incômodo. Quero, nesta breve carta, partilhar contigo e com aqueles que dela fizerem leitura, três qualidades de tua pessoa que sempre me chamaram a atenção e me edificam.

Tua humildade. Os homens eruditos da Igreja, meu caro amigo, são reconhecidos não somente pelo seu saber, mas pela falta de acessibilidade. Há teólogos que até parecem autoridades políticas: difíceis de serem encontrados, são inacessíveis. São de uma formalidade e de um linguajar que somente pessoas eruditas os escutam e entendem, são teólogos de gabinete.

Quem te conheceu de perto sabe de tua humildade, que se manifestava no teu jeito de falar sobre os diversos campos do conhecimento humano que dominavas tão bem e na tua cordialidade na relação com as pessoas. Teu jeito tímido, mas comunicativo, atraía as pessoas. Todos esperavam ansiosamente pela palavra que saía de tua boca nas palestras, conferências, retiros e cursos, assim como nos artigos e livros que escreveste. Falavas com humildade e profundidade sobre questões complexas e pertinentes.

Tu fizeste uma opção de morar entre os pobres e com eles aprendeste o jeito humilde que caracteriza o verdadeiro pobre. Aprendeste e ensinaste que ser pobre não é ser amaldiçoado, como pregam muitas de nossas Igrejas. Leste nos evangelhos que Jesus era pobre, destituído de poder e para não entrares em contradição com teus escritos resolveste viver e morrer no meio dos pobres. Os pobres te escutavam com amor e atenção porque viam em ti um homem sábio e pobre.

Tua coragem. Os eclesiásticos, de modo geral, são muito medrosos. Por terem uma vida segura e estável, sem risco algum, são encarcerados pelo medo. Quem tem sua vida assegurada possui grande medo de perdê-la. Para isto, fazem de tudo para mantê-la bem, na devida estabilidade. Estão longe daquilo que foi Jesus: pobre homem que não tinha onde reclinar a cabeça. Identificar-se com este Jesus é correr sérios riscos na vida, pois ele não oferece segurança nenhuma.

Certo dia, um bispo induziu as pessoas pensarem que tu não eras profeta, mas crepúsculo de profeta. Disse também que sofrias do mal daqueles que se revoltam ou que perdem a lucidez. Pobre bispo, não te conhecia suficientemente bem. Tua coragem de criticar a Igreja chamava a atenção de todos. Assim como Jesus criticou a religião de seu tempo, tu, na continuidade dos profetas da nova e eterna aliança, criticaste a Igreja porque a amaste até o fim de tua vida. Tu morreste presbítero da Igreja: testemunha fiel que não se cansou de denunciar as infidelidades dos falsos pastores e falsos profetas.

Tua liberdade. Este tema sempre causou problema na vida da Igreja. Esta sempre teve medo da liberdade. Na Igreja, quando se fala de liberdade, tal expressão sempre vem acompanhada de outros adjetivos: liberdade direcionada, condicionada, explicitada com justificativas pouco plausíveis. Isto explica o medo da Igreja em relação à modernidade. Esta inaugurou a liberdade dos sujeitos e denunciou a falta de liberdade no interior da vida eclesial.

A tua liberdade estava alicerçada no teu testemunho de vida. Tuas palavras e gestos eram de um homem que cultivava a liberdade, que buscava viver em função da liberdade. Isto te dava autoridade para falar a verdade a todos. A liberdade é o fio condutor do teu fazer teológico e foste muito feliz nesta árdua empreitada.

Ensinaste que fora da liberdade não existe felicidade nem salvação. A salvação do povo de Deus é sua liberdade plena. O Deus e Pai de Jesus, nosso bom Deus e Pai, é o Libertador. Todo ser humano, independentemente de credo religioso e cultura, deseja ser livre. A liberdade não tem religião, todos têm direito a ela e nela podem ser felizes. Fora do caminho da liberdade, que para os cristãos é o caminho de Jesus, nenhum ser humano consegue se realizar e, portanto, ser feliz. É preciso se colocar neste caminho, ser corajoso e nele perseverar até as últimas conseqüências. Tu assim o fizeste e encontraste a plena liberdade.

Meu caro amigo, estás fazendo falta no cenário eclesial. Nossa Igreja continua ameaçada pela letargia e pela mediocridade. Tudo parece envolto na inércia. Os pobres continuam clamando por justiça e são poucos os que para eles olham, sentem compaixão, se aproximam e derramam óleo em suas feridas. Há belos projetos e documentos, mas parece que não se sabe bem para onde se vai... Faltam referências significativas, a situação é preocupante.

Tua profecia está viva. Teus livros não foram proibidos. Há muita gente lendo e relendo, encontrando-se e reencontrando-se, buscando ser livre e ajudando na libertação. O Espírito que esteve contigo continua conosco, vivo e atuante; inquietando muita gente e desorganizando aquilo que sempre foi considerado puro, santo e divinamente inspirado. Tua profecia é sinal autêntico da presença do Espírito na Igreja e nós bendizemos a Deus por isso.

Recomendo-me às tuas preces junto a Deus, porque para te considerar santo não preciso esperar por canonização. Santos como tu não são canonizados na Igreja há muito tempo!...

Teu amigo e irmão em Jesus de Nazaré,


Tiago de França
Belo Horizonte – MG, 27 de março de 2012.

segunda-feira, 26 de março de 2012

Oscar Romero, Vive!!!

"A luta e o sonho assumimos de todo aquele que tombou. E a nossa missão se alimenta fazendo memória de seu pelejar, que o sangue desses mártires lateje nas veias desta igreja viva e inunde este altar". viva Dom Oscar Romero.

Airton( Ceb's)


Dia 24 de março de 2012 celebramos 32 anos de martírio de dom Oscar Romero, arcebispo da arquidiocese de San Salvador, capital de El Salvador.

“Uma igreja que não sofre perseguição, mas que desfruta privilégios e o apoio de coisas da terra – Tenham Medo! – não é a verdadeira igreja de Jesus Cristo.” (11/03/1979)

quinta-feira, 22 de março de 2012

LIBERTANDO JESUS DAS IGREJAS


Talvez os pregos que O pregaram na cruz não tenham imobilizado tanto quanto as instituições O imobilizam hoje. Os que O prenderam na cruz foram perdoados, pois não sabiam o que estavam fazendo, talvez os que O prendem nas igrejas saibam mais, dentro de suas limitações, o que fazem.
Os pregos institucionais, embora invisíveis, imobilizam muito mais que os de ferro, pois estes O aprisionaram por algumas poucas e terríveis horas, os outros pregos, no entanto, O aprisionam por mais de mil e setecentos anos, e cada vez mais, O impedem de caminhar livre pelas estradas do mundo, para que possa, vestindo as roupas de cada cultura, comendo a comida de cada povo, morando onde o povo está, falando sua língua, se comunicando plenamente e expondo sua boa notícia, uma notícia de libertação, possa reavivar a esperança concreta da realização do reino.
Preso na instituição Jesus geme. Talvez clame, mas a instituição grita, brada e berra mais alto, em seu nome, mas não anuncia sua boa nova, não avisa aos necessitados que o Reino já chegou. O prisioneiro de cravos de ouro e resplendor de prata, sob o jugo de leis e interditos, proibições e ritos de tradições arcaicas, dogmas imutáveis e penitências impostas aos outros, pede para se libertar.
Sociedades religiosas medievais, conventos vazios, prédios imensos e sombrios onde jazem as ‘conquistas’ do passado, fazem sombra aos pobres que sobrevivem nas sombras da civilização.
Já passa da hora de se libertar o Cristo das igrejas, de todas as dominações e confissões, pois lá fora, na planície é onde a vida acontece e onde as respostas são esperadas pelos presos, doentes, coxos, cegos, surdos, emigrantes clandestinos, é lá que os famintos esperam pelo prato e a certeza de não mais ter fome e os sedentos de verem jorrar água em abundância.
O novo há que se mostrar e mudar a vida do mundo velho e cansado, para que os sinais de morte se mudem em vida e vida em abundância.
Precisamos urgentemente retirar a pedra da prisão, assim como foi removida a pedra do túmulo na Páscoa, libertar dos grilhões como Pedro foi libertado, fazer internamente, nas instituições, o que o Senhor fez com seu amigo Lázaro, desatá-lo das amarras e chamá-lo para fora, para que ande com seus próprios pés.
A boa nova de Jesus sempre foi um motivo e razão de esperança para os desesperados. O mundo, mais que nunca não tem respostas para eles. A Palavra precisa ser anunciada, além, muito além das paredes dos templos e de suas grades, precisa romper as barreiras dos preconceitos e limites culturais.
É preciso lhe arrancar os pregos, calçar-lhe as sandálias, vesti-lo com as cores dos povos, para que nos aponte os caminhos coletivos de solidariedade e partilha.
Libertar Jesus das igrejas é ‘descrucificar’ e libertar os pobres em cada canto de deserto e tornar em jardim suas vidas semeadas na misericórdia.


Assuero Gomes  (assuerogomes@terra.com.br)
Cristão católico leigo da
Arquidiocese de Olinda e Recife


(artigo publicado no JORNAL DO COMÉRCIO, Recife, dia 18 de março de 2012, postado neste  Blog por Geraldo Frencken )

quarta-feira, 14 de março de 2012

A COPA DE 2014 E OS POBRES DE SEMPRE

No ano de 2014 acontecerá a Copa Mundial de futebol no Brasil.
O evento está sendo organizado pela FIFA e pela CBF e é assumido, em cheio, pelos Governos; Federal, Estaduais e Municipais das cidades-sedes, e ainda é um dos assuntos de destaque da imprensa nacional e internacional.
Ao mesmo tempo a nossa nação se sabe mergulhada em sérios problemas, especialmente na área social: os bolsões de pobreza e miséria continuam a existir e as milhares de famílias que por aí sobrevivem, continuam sem expectativa de verem alguma melhora na sua condição no seu cotidiano.
O que observamos são, entre outras questões, duas realidades tão opostas que chamam a nossa atenção.
De um lado são gastos bilhões e bilhões de reais em obras faraônicas que de repente saem do papel.
Os governantes mostram uma habilidade, nunca visto, para desenvolver projetos de melhoria nas cidades sedes.
 Do outro lado vemos que o povo, que vive em favelas, ou está sendo removido exatamente por causa destas obras, sem que receba indenizações justas, porque se alega que não há dinheiro para tal finalidade, ou, os que “moram” em áreas não interessantes para os governantes, e nem para futuros candidatos a cargos municipais, continuam absolutamente sem atenção por parte dos governos estadual e municipal.
No primeiro caso refiro-me aos moradores das comunidades do trilho que, por causa da linha do já afamado VLT, serão removidos, de qualquer jeito, para áreas não aptas e nem preparadas adequadamente para abrigar estas famílias desalojadas.
No segundo caso refiro-me aos moradores da Vila Velha III e IV, mas em especial a III. Olhe, aí está tudo errado, desde o começo do surgimento deste imenso bairro. Quem errou não foram as famílias que decidiram por morar lá, mas sim o Estado e o Município que permitiram que fosse levantado, em quatro etapas, este bairro da Vila Velha. Toda esta região é área de preservação permanente por pertencer ao mangue e, por lei Federal, não pode ser mexido. Por lá devia ter casa alguma, nem Liceu, nem construção qualquer, e sim somente a natureza intacta. Além de terem permitido e planejado que o meio ambiente fosse agredido, arquitetaram áreas de risco para a vida humana, de forma mais dramática na Vila Velha III.
 Explico; como é a vida dos moradores naquela área. Nesta época da quaresma, os cristãos conhecem bem o significado de palavras como “chagas”, “flagelação” e “cruz”. Pois bem, se quisermos ver as chagas da nossa Fortaleza, podemos encontrá-las, entre outros lugares, na Vila Velha III, onde o povo vive uma flagelação constante não somente debaixo das chuvas desta temporada, mas a flagelação causada pelo total abandono por parte do Estado e do Município.
O povo sobrevive na lama, na falta de assistência, na brutalidade da insegurança de vida, na angustiante incerteza pelo dia de amanhã, no medo, em meio às muriçocas, aos insetos e ratos.
 E esta gente carrega sua cruz, caindo por três ou muito mais vezes, até chegar ao seu calvário definitivo. Alguém observou o seguinte: “O Estado somente se faz presente aqui através dos policiais da Ronda”. Eu também quero questionar: quem teve a fantástica idéia de implantar por lá postos de iluminação em pleno mangue, numa área onde, ainda há poucos anos atrás, havia as panelas de produção do sal?!
Que política é esta que abre seus braços e um largo sorriso para os turistas que virão para assistir a algum jogo nesta cidade, enquanto dá as costas para seu próprio povo? A gente não pode deixar de ter a impressão que a política de dois mil anos atrás, praticada pelos romanos, continua em uso: a política do “panis et circenses” que significa “pão e circo”.
A política que tem por objetivo desviar a atenção de todos e todas dos reais problemas e de questões relevantes de fato, enchendo os olhos do povo com obras faraônicas, como se estas trouxessem algum benefício para a população.
Comparando a Copa de 2014 e os pobres de sempre observo, em segundo lugar, que a Copa atrai sobre si todos os olhares dos meios de comunicação do mundo inteiro e, em especial do Brasil, que tratam esta Copa, embora dure apenas um mês, como se fosse a salvação da pátria.
E os pobres?
Os pobres não são notícia! Os grandes meios não mostram o mínimo interesse em noticiar a vida real de milhares e milhares de famílias. Não há reportagens a respeito da situação desumana na qual se encontra tanta gente. 
Pobre não é assunto. Pobre nunca foi assunto, imagine agora: assunto é a Copa. Os pobres de sempre estão levando mais uma goleada: esta vez da Copa de apenas um mês.
Não me digam que a Copa de 2014 não tem nada a ver com os pobres de sempre! São eles que têm muitas perguntas a fazer aos organizadores da Copa e a todos aqueles que lucrarão fortunas com este evento, que, como se diz, trará muitos benefícios para o Brasil.
Pode ser. Porém, falta saber para quem serão estes benefícios! Será que o povo da Vila Velha III pegará ao menos algumas migalhas? Duvido!

 ( Geraldo Frencken )

segunda-feira, 12 de março de 2012

MOVIMENTO em fotos.


Roberto Bezerra,Gerd,Márcia,Cleide, Carlos Tursi,Lino,Ariosto,Geraldo,Airton,João,Stella,Ricardo Zuninga, ( foto de Adriano Ribeiro)
mais da turma....


 A turma reunida,



II Colóquio,
Carlos Tursi, Miguel Kosubek, Geraldo, Antonieta Bezerra,
..Ainda, II Colóquio....

E assim, vamos registrando os momentos do MOVIMENTO, que  vem em constante crescimento, lutando por uma formação Cristã Libertadora.
O III Colóquio já tem data  marcada( 26 de maio 2012)
E estamos organizando nossa Semana Teológica ....
Acompanhe-nos!
(stella maris)

Novos desafios para o cristianismo: a contribuição de José Comblin.

Novos desafios para o cristianismo: a contribuição de José Comblin
  (Eduardo Hoornaert)

 A intenção  deste livro é dinamizar a reflexão a partir da contribuição de um dos mais importantes teólogos que atuaram na América latina nos últimos decênios. Participante, desde as primeiras horas, da teologia da libertação.
 Comblin nunca deixou de ser ao mesmo tempo crítico e concretamente envolvido em trabalhos em prol da causa dos pobres neste continente, até os últimos dias da vida.

Novos desafios para o cristianismo: a contribuição de José Comblin.
Coordenação: Eduardo Hoornaert.
Introdução. Criticidade e compromisso.
1. Carlos Mesters: Carta Aberta.
2. Pablo Richard: Movimento bíblico no povo de Deus e crise irreversível da igreja hierárquica.
3. Ivone Gebara: Visibilidade e invisibilidade das mulheres na vida e obra de José Comblin. Um breve esboço.
4. Marcelo Barros: O processo bolivariano e a contribuição de José Comblin.
5. Sebastião Armando Gameleira Soares: ‘É preciso começar tudo de novo’.
6. François Houtart: José Comblin e os novos desafios da teologia da libertação: a relação com a natureza.
7. Luiz Carlos Susin: José Comblin, um mestre da libertação.
8. Jung Mo Sung: Tarefas inacabadas das gerações, o reino de Deus e o novo império.
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Apresentação dos autores do livro ‘Novos desafios para o cristianismo: a contribuição de José Comblin’
- Frei Carlos Mesters é frade carmelita. Ajudou na criação do CEBI, Centro ecumênico de estudos bíblicos. Gosta de trabalhar com a bíblia junto ao povo nas comunidades eclesiais de base.
- Pablo Richard nasceu no Chile. Tem licenciado em Sagradas Escrituras pelo Pontificio Instituto Bíblico de Roma (1967-1969) e é doutor em Sociología da Religião pela Sorbonne (Paris, 1975-1978). Trabalha no Departamento de Estudos e Investigações (DEI) em Costa Rica e tem quarenta anos de dedicação ao movimento bíblico popular na América latina e no Caribe.
- Ivone Gebara, escritora e assessora de movimentos sociais, e professora de teologia e filosofia e membro da Congregacão das Irmãs de Nossa Senhora, aluna e amiga de José Comblin.
- Marcelo Barros, monge beneditino, biblista e escritor, é assessor de comunidades eclesiais de base e movimentos populares. Tem 40 livros publicados no Brasil e alguns em outros países. Está pesquisando atualmente o desafio do bolivarianismo para a teologia da libertação.
- Sebastião Armando Gameleira Soares, originário de Alagoas, fez estudos universitários na Europa (teologia, ciências bíblicas, filosofia, sociologia) e no Brasil (direito). Foi professor do Instituto de Teologia do Recife (1973-1982) e, durante 25 anos, assessor e coordenador do Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos (CEBI). Desde 2006 é bispo da diocese anglicana do Recife.
- François Houtart, sacerdote católico e sociólogo renomado, professor emérito da Universidade de Lovaina (UCL, Bélgica) e fundador do Centro Tricontinental (CETRI), ligado à mesma universidade. Uma figura bem conhecida no movimento altermundista.
- Frei Luiz Carlos Susin, frade capuchinho, é doutor em teologia, professor na PUCRS e na ESTEF (Porto Alegre), membro fundador e ex-presidente da SOTER, além de membro da direção editorial da Revista Concilium.
- Jung Mo Sung é professor no programa de pós-graduação em Ciências da Religião da Universidade Metodista de São Paulo. Atualmente exerce também a função de diretor da Faculdade de Humanidades e Direito da mesma universidade. É doutor em ciências da religião e tem estudos pós-doutorais em educação. Autor de inúmeros artigos e 17 livros.
- Eduardo Hoornaert é historiador. Colaborou por muitos anos na elaboração de uma história do cristianismo na América latina e no Caribe e atualmente estuda os primeiros escritos cristãos.

sexta-feira, 2 de março de 2012

Falecimento de Milton Schwantes


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Faleceu em 1° de março, o biblista Milton Schwantes.

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Livro de Milton sobre Gn 1-11 (CEBI)
Milton Schwantes era teólogo e pastor da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB). Biblista, Schwantes é uma das principais referências do método de leitura popular da Bíblia na América Latina e autor de diversos livros, alguns traduzidos em espanhol, alemão e inglês.
Formado em Teologia pela Escola Superior de Teologia - EST (1970). Fez seu doutorado em Bíblia na Universidade de Heidelberg, na Alemanha. Apesar dos vários títulos de Doutor Honoris Causa concecidos por diversas universidades, enquanto teve forças, continuou assessorando grupos e comunidades.
A contribuição de Milton Schwantes à Leitura Popular da Bíblia e à caminhada do CEBI foi muito grande. É inegável que sem suas reflexões, o CEBI não conseguiria assegurar sua ecumenicidade. A perspicácia e a simplicidade na interpretação dos textos bíblicos foi outra grande contribuição de Milton a toda a leitura bíblica praticada no Brasil e na América Latina.
Confira a entrevista de Milton: A teologia e o Direito dos Pobres

Girardi, o teólogo revolucionário

*O relato é do teólogo italiano Giovanni Franzoni  ,O artigo foi publicado no jornal L'Unità, A tradução é de Moisés Sbardelotto.


Recordar Giulio Girardi no momento em que ele nos abandona fisicamente, mas certamente não espiritualmente, significa percorrer novamente toda a nossa vida de cristãos comprometidos depois do Concílio entre os anos 1970 até hoje. Eram os anos em que os homens da ciência e do saber não utilizavam mais os seus conhecimentos para consolidar e reforçar os poderes existentes, mas, estimulados pelo Concílio Vaticano II, desciam das cátedras para tornar viva e encarnada na realidade social da humanidade a sua fé.

São os anos da carta dos treze padres romanos que protestam contra a condição de marginalização de quem vivia em condições incivilizadas nos casebres da capital e da minha carta, "A terra é de Deus", com a qual eu denunciava a especulação imobiliária e o silêncio da Igreja comprometida com os interesses dos grandes latifundiários e com as especulações feitas sobre as costas das pessoas pobres no interesse da Democracia Cristã romana.

Eram os anos em que Gérard Lutte, professor da Pontifícia Universidade Salesiana como Girardi, saía das fileiras das instituições e passava a habitar entre os casebres de Prato Rotondo. Naqueles anos, Giulio Girardi colocaria à disposição o seu conhecimento filosófico e teológico para uma estratégia de reaproximação do mundo dos fiéis com a esquerda histórica. Para a revolução das classes subalternas, muitas vezes reduzidas a condições subumanas.

Ele escreveu Cristianismo e marxismo. Teria uma cátedra na Sorbonne de Paris. Girardi colocaria em crise a sua relação com a instituição da ordem salesiana e com a universidade salesiana.

Com o teólogo peruano Gustavo Gutiérrez, começou a auxiliar na fundação do movimento Cristãos pelo Socialismo e a Teologia da Libertação. Foi um longo período durante o qual ele o apoiou e documentou sobre a possibilidade de não fazer coincidir o alto percurso de fé com a ideologia filosófica marxista. Mas sim identificar objetivos sociais concretos sobre os quais se realizava o encontro com as forças sociais e políticas de inspiração marxista. Foi uma grande temporada de elaboração e de revisitação da fé que envolveu as comunidades cristãs de base desenvolvidas primeiramente na América Latina, depois na África e, finalmente, na Europa.

Ele nos ajudou a amadurecer a convicção de que optar por uma escolha de classe não significava abraçar uma escolha ideológica, mas sim revisitar o ensinamento evangélico ao lado dos pobres e dos explorados. Era assim que se dava concretude àquela ideia amadurecida durante o Concílio Vaticano II, graças principalmente à obra do cardeal Lercaro, de uma Igreja que é acima de tudo "convocação dos pobres". Não uma Igreja exclusiva, em que estão apenas os pobres, mas que relê a mensagem evangélica na condição daqueles que estão sem voz, sem poder, sem autoridade.

A essa grande temporada de compromisso teológico, seguiu-se a de Giulio Girardi, que se torna suporte às culturas das populações indígenas. Estamos na crise do socialismo real, que mostra o seu rosto repressivo e autoritário.

Amadurecida a convicção de que era necessário privilegiar a luta das populações indígenas para sair da opressão do colonialismo e do escravismo internacional. Em Quito, no Equador, em 1992, haverá a reviravolta, com a grande assembleia das populações indígenas e dos movimentos que defendiam os "sem-terra" no Brasil. Nas comunidades cristãs, também se recupera a escolha de se colocar não do lado dos civilizadores, mas sim dos colonizados. Porque, junto com o Evangelho, também havia sido levada a submissão aos povos indígenas.

Giulio Girardi participava com grande ímpeto desse movimento. Estava como que apaixonado pela espontaneidade e pela transparência da luta desses povos. Na Nicarágua, ele tinha o seu próprio quarto no Centro Valdivieso de Manágua. Ele estaria ao lado das populações de Chiapas, no México, e seria amigo e conselheiro do líder cubano Fidel Castro.

Hoje, ninguém pode propor uma fórmula única para a libertação dos povos. Muitas são as estradas e muitas são as experiências com as quais se medir. Girardi assumira a fórmula da não violência ativa. Escreveu sobre Gandhi e o bispo Proaño. Refletindo sobre Che Guevara, chegou a indicar um veio de clemência e de amor também na luta de libertação armada. Quem pega em armas por amar deve saber que o inimigo também é um homem oprimido a ser libertado.

Foi assim que, mesmo nas comunidades de base, se começou a conjugar uma espécie de mansidão não apenas para com os oprimidos, mas também para com os opressores. Giulio Giradi se inspirou nessa convicção, e a sua memória não pode se tornar de museu. Continuou sendo aquela que é até hoje: uma prática de libertação para todos os oprimidos. Um processo que não pode vir do alto, como acontece com a globalização financeira, que deixa tudo nas mãos dos poderosos.

A Teologia da Libertação nos ajudou a entender que não é contra um inimigo externo que devemos combater, que o inimigo também está dentro de nós. Que à exploração alimentada do lado de fora, há processos de reação vitais: os autogeridos pela base e pelo mundo dos oprimidos. Foi isso que, com grande esforço, Giulio Girardi nos ajudou a ver. É isso que nós levamos adiante. Com a sua paixão humilde, gentil e profundamente humana, mas ao mesmo tempo rigorosa. Um fatigante andar contracorrente e rumo ao "pouco provável". É o caminho das comunidades de base.

Como diz a canção de Bennato, ele foi o pesquisador da ilha que não existe. Mas que poderia existir. Cabe a nós fazer com que exista. Assim o lembraremos nesta terça-feira, às 14 horas, na Comunidade de San Paolo. Ele morreu na humildade, mas a esperança de civilizar a humanidade certamente não morreu.